Brasília – Com a inflação em disparada, o crescimento fraco e uma onda de desconfiança tomando conta de consumidores e empresários, é cada vez maior o agito nos mercados financeiros para tentar decifrar o que o próximo governo fará a partir de 2015 para pôr ordem na economia. Ciente da má vontade dos investidores com a presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição, o partido dela, o PT, indicou que o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, será o ministro da Fazenda em um eventual segundo mandato da petista. Sinalizou ainda que, em caso de piora das condições econômicas do país, Tombini substituirá Guido Mantega na pasta neste ano.
O temor do partido é de que se consolide entre os eleitores o discurso dos mercados de que o atual governo não está fazendo nada para controlar a inflação. A carestia é apontada, nas pesquisas de intenção de votos, como o principal motivo para a queda de popularidade da presidente. Para os integrantes da campanha à reeleição, Tombini tem uma imagem melhor do que a de Mantega para difundir o discurso, como chefe da equipe econômica, de que o custo de vida vai diminuir.
O movimento petista é um contraponto às ações desencadeadas pelos dois principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que vêm batendo pesado no governo e, sobretudo, defendendo temas que os investidores apoiam de forma veemente: maior controle dos gastos públicos e independência do BC para enfrentar a inflação. No Palácio do Planalto, inclusive, admite-se que os candidatos oposicionistas estão se cercando de economistas que têm grande aceitação nos mercados, o que contribui para ampliar as críticas contra a gestão atual da política econômica.
“Infelizmente, quando se compara o nível da equipe econômica de Dilma com as que estão ao lado de Aécio e Campos, é visível que estamos em desvantagem”, avaliou um senador petista. “Mas ainda dá tempo para revertermos a desvantagem. Basta que o governo adote um discurso mais consistente de que está fazendo tudo para derrubar a inflação e retomar o crescimento econômico”, acrescentou.
AUTONOMIA TOTAL O braço direito de Aécio para a área econômica é Armínio Fraga, que presidiu o BC durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em caso de vitória do candidato tucano à Presidência da República, Fraga será o ministro da Fazenda, com autonomia total para nomear um comandante para o Banco Central de sua extrema confiança. Para o presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado Marcus Pestana, o economista é uma experiência testada. “Precisaremos de um choque de credibilidade, de uma recuperação do manejo correto do instrumental de política econômica. São necessárias reformas estruturais para que a economia brasileira supere os limites para o seu crescimento”, afirmou.
O líder da minoria, deputado Domingos Sávio (PSDB), disse que Fraga tem muita credibilidade e fez uma gestão séria no BC. “É uma figura respeitada de forma suprapartidária, um técnico que reúne as condições mais plenas”, reforçou. Outros nomes cotados para compor a equipe de Aécio são os economistas Edmar Bacha e Gustavo Franco, peças fundamentais na elaboração do Plano Real. Eles foram, respectivamente, presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco Central. Na lista de possíveis nomes para a área econômica, Pestana cita ainda Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e José Roberto Afonso, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).
NOMES DE PESO Apesar da ansiedade dos mercados, Eduardo Campos tem sido comedido nos sinais emitidos aos investidores sobre a equipe econômica de seu eventual governo, em caso de vitória em outubro próximo. O candidato do PSB acha que este não é momento de sinalizar os escolhidos, pois tem conversado com vários nomes de peso. Um de seus interlocutores assíduos é o economista Pérsio Arida, ex-presidente do BC e um dos pais do Plano Real. Eles mantiveram dois encontros privados recentes no Rio. Trata-se de alguém que, em tese, poderia ser titular da Fazenda ou do BC. Alternativamente, poderia manter-se como conselheiro informal do Planalto.
A lista de pessoas que já trocaram palavras com Campos sobre a conjuntura do país é longa, e inclui André Lara Resende, ex-presidente do BNDES e também um dos pais do Real. O economista tem como bônus a afinidade com a vice na chapa do candidato do PSB, Marina Silva. Ele foi um dos maiores fiadores dela nas eleições de 2010 e é muito próximo de Arida. Ambos têm currículo de sobra, entrosamento e complementaridade. Se um for ministro da Fazenda, o outro pode ser presidente do BC, por exemplo.
Campos também mantém frequentes contatos com os economistas pernambucanos Tânia Bacelar, Leonardo Guimarães e Tiago Cavalcanti, que poderiam vir a ocupar cargos no segundo escalão.