Brasília – Pré-candidato ao governo de São Paulo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), que deixou o comando da pasta há três meses para iniciar a articulação da campanha eleitoral na tentativa de derrotar o governador Geraldo Alckmin
(PSDB), virou alvo da artilharia tucana após suspeita de ligação com o doleiro Alberto Youssef. Relatório da Polícia Federal sugere que o petista teria indicado um ex-assessor para trabalhar no laboratório de fachada de Youssef, líder de um esquema que movimentou R$ 10 bilhões. Nessa sexta-feira, o PSDB anunciou que acionará o Ministério Público Federal no Distrito Federal para apurar os fatos, além de protocolar requerimento, em parceria com o DEM, para que Padilha preste esclarecimentos na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara.
Na outra ponta, os aliados de Alckmin já se debruçam sobre todo o histórico de Marcus Cezar Ferreira de Moura, que, após deixar o Ministério da Saúde, virou o principal executivo da Labogen, utilizada pelo doleiro para fazer remessas ilegais de dólares ao exterior. Após Moura ter ido trabalhar no laboratório, a empresa de fachada chegou a firmar parceria de R$ 31 milhões com o Ministério da Saúde para produzir medicamentos por cinco anos. O convênio foi cancelado depois de denúncias da imprensa de que o doleiro comandava o laboratório suspeito.
O nome de Padilha surgiu em 28 de novembro de 2013. Naquele dia, a Polícia Federal interceptou troca de mensagens entre Youssef e o deputado federal André Vargas, que ontem se desfiliou do PT. Os dois comentam sobre a indicação de Moura para a Labogen. O deputado paranaense, que renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara após a descoberta do envolvimento dele com Youssef, teria passado ao doleiro o contato do executivo e avisado que foi Padilha quem o indicou.
Marcus Cezar Ferreira de Moura trabalhava na coordenação de eventos do Ministério da Saúde.
Agenda cancelada
Padilha conheceu Marcus Cezar quando trabalhava na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, em 2006. No Ministério da Saúde, o ex-assessor tinha atuação discreta. Na defensiva, Padilha cancelou a agenda de pré-candidato na tarde de ontem para se explicar em coletiva de imprensa. “Diante das notícias que foram veiculadas, envolvendo de forma incorreta o meu nome, quero constituir, formalmente, uma solicitação judicial à PF. Quero acesso todos os detalhes de um relatório que, segundo as notícias, busca envolver o meu nome a partir de mensagens trocadas por terceiros que não têm nenhuma relação com o Ministério da Saúde”, afirmou.
O ex-ministro disse que pode processar André Vargas. “Se o senhor André Vargas ou qualquer pessoa usou meu nome em vão, vou interpelar judicialmente e esclarecer isso”, disse. Padilha afirmou que “mente quem associa o nome dele ao do doleiro” e declarou que não vai comparecer à Câmara porque os autores do pedido de audiência “querem transformar o episódio em um espetáculo eleitoral”. No entanto, ele confirmou que se reuniu com André Vargas quando ainda era ministro para falar institucionalmente sobre a Labogen. O presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, ressaltou que a sigla não cogita a hipótese de substituir Padilha por outro nome na disputa eleitoral deste ano. (Colaboraram Paulo de Tarso Lyra, Naira Trindade e Antonio Temóteo)
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