Depois de uma investigação que teve início em 2012, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu que o atentado a bomba ocorrido no Riocentro, em 1981, durante um espetáculo promovido pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) para celebrar o Dia do Trabalho, foi fruto de “um minucioso e planejado trabalho de equipe, que contou com a participação de militares, especialmente de agentes ligados ao I Exército (predominantemente do DOI-Codi e da 2ª Seção) e ao Serviço Nacional de Informação (SNI)”. Em relatório apresentado ontem, em audiência pública no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, a comissão aponta ainda que o Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado naquele ano para apurar as responsabilidade sobre o ato de terror foi “manipulado” para inocentar os militares e atribuir a autoria “a grupos armados de resistência ao regime”.
Para o coordenador da CNV, o jurista Pedro Dallari, "os documentos demonstram que esse atentado (do Riocentro) não foi obra de lunáticos nem de agentes que atuarampor conta própria. Foi uma ação articulada do Estado brasileiro”. “A mesma estrutura que nos anos 70 usou como política de Estado a tortura e o extermínio de pessoas, nos anos 80 patrocinou atentados a bomba. Foram pelo menos 40 nesse período. Número que mostra que havia uma estratégia política, que é o uso desses atentados para inibir o processo de abertura que começava a ocorrer no Brasil", disse.
De acordo com a CNV, a análise de documentação apreendida na casa do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do DOI do I Exército, no Rio, assassinado em novembro de 2012, no Rio Grande do Sul, facilitou o esclarecimento do episódio, corroborando depoimentos de testemunhas da época. No entendimento da comissão, nos documentos analisados, que incluem laudos periciais de 1981, “há fortes indícios de que o planejamento da operação tenha contado com o conhecimento de comando de altas autoridades militares, notadamente do I Exército”.
Devastador
Dallari disse, ainda, que se militares tivessem obtido sucesso em seu ato de terror, o resultado seria “devastador”.