Brasília – A nova queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto abriu de vez a ferida que divide lulistas e dilmistas dentro do PT e na base aliada do governo. “Sabíamos que havia o desgaste, mas ela está caindo mais rápido do que esperávamos”, assustou-se um integrante da coalizão governista, que não esconde a afinidade com o ex-presidente. Já o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), acredita que é hora de encerrar as especulações e sepultar de vez o “Volta, Lula”. “Temos de fazer nosso dever de casa, acabar com esse disse me disse e deixar claro que nossa candidata é Dilma Rousseff”, sentenciou.
Para José Guimarães, o PT é o responsável por esse clima de insegurança. Pré-candidato ao Senado pelo Ceará, ele aposta as fichas no encontro partidário marcado para sexta e sábado em São Paulo. “Lula e Dilma têm de dar sinais claros de que estão unidos e de que ela é a candidata. Senão, vamos seguir nesse clima infernal de desgaste”, comentou. O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) reforça o entendimento e diz que o partido não pode cometer a “loucura” de substituir Dilma por Lula neste momento. “A queda da presidente nas pesquisas se deve ao massacre que estamos passando. Quando começar o horário eleitoral, vamos ter o que mostrar para a população.”
No fim de semana passado, durante entrevista a uma rede de televisão portuguesa, Lula reiterou que a candidata será Dilma Rousseff. “Eu vou ser cabo eleitoral da Dilma, vou para a rua fazer campanha para Dilma”, afirmou à rede RTP. Ontem, o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reconheceu que o “Volta, Lula” constrange o ex-presidente. “Essa hipótese não existe, é zero. O (ex) presidente Lula está determinado a dar todo o empenho à reeleição da presidente Dilma. Ele é mais do que taxativo, nunca cogitou essa hipótese (de se candidatar) e está muito incomodado”, disse Carvalho.
Para o ministro, a pressão só serve para fragilizar o Planalto. “Só quem não viveu as experiências duras de ser governo é que vacila à primeira crise que existe. Eu não consigo entender esse tipo de posição. Respeito, mas discordo radicalmente e alerto aos companheiros do meu partido que esse tipo de expressão só vem a favorecer os adversários, só no fragiliza. Por isso que eu me insurjo fortemente contra esse tipo de especulação ou de opinião, sobretudo quando vem de dentro do meu partido”, esbravejou o ministro, que no discurso da posse, em 2011, afirmou que “daria a vida por Lula”.
DIVERGÊNCIAS Apesar do discurso de Carvalho, o partido está fragmentado. “Vamos conversar daqui a um mês. Se o cenário mudar, a pressão acaba. Se continuar do jeito que está, o caldeirão explode”, afirmou um interlocutor do partido. Outro integrante da base aliada, que tem mantido reuniões constantes com o ex-presidente Lula em São Paulo, atribuiu ao próprio cacique petista a ambiguidade nas declarações. “Há duas semanas, Lula deu uma entrevista para blogueiros na qual criticou os rumos da política econômica do governo. Vai querer me convencer de que uma declaração dessas ajuda Dilma?” , provocou o aliado.