Com o argumento de que não basta reeleger Dilma Rousseff, um documento produzido pelo PT, com diretrizes para o programa de governo da presidente, fala em "crescimento mais acelerado" da economia num eventual segundo mandato, mas diz não haver "soluções mágicas" e muito menos "homens providenciais" para enfrentar o desafio dos próximos anos.
"Vivemos hoje um novo desafio histórico. Para enfrentá-lo não haverá soluções mágicas, menos ainda homens providenciais. São necessários conhecimento dos reais problemas da sociedade brasileira e determinação", diz um trecho do documento, obtido pelo Estado. "Uma determinação que possuem aqueles que fizeram da política um compromisso - não um meio de vida -, reatando com as grandes tradições que marcaram o progressismo no Brasil", afirma.
Preparado para nortear a plataforma da campanha de Dilma à reeleição, o texto passará pelo crivo do 14.º Encontro Nacional do PT, em São Paulo, na sexta-feira e no sábado. Foi redigido pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e ainda receberá emendas, mas indica como será o programa petista.
Além desse documento, os 800 delegados inscritos também aprovarão uma minuta intitulada "Tática Eleitoral e Política de Alianças". Os dois textos mostram que a estratégia da campanha é colar Dilma ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, investindo no "legado" dos 12 anos do PT no governo.
A ideia é comparar o período de "Dilma e Lula" à gestão do PSDB no Planalto e dizer que os bons índices de Campos devem ser debitados na conta dos investimentos federais em Pernambuco. Os dois documentos fazem seis referências à dupla "Dilma e Lula", ora citando ela, ora ele em primeiro lugar.
Tática
Em "Tática Eleitoral e Política de Alianças", o PT afirma que as condições de vida da sociedade melhoraram "sensivelmente" nos quesitos renda, emprego e acesso à educação. Admite, porém, que "essa melhora fica esmaecida pela mobilidade urbana cada vez mais difícil, pela pouca eficiência dos sistemas de saúde e educação públicas, pela violência, pela insegurança e pela percepção de corrupção no mundo político e no Judiciário".
A investigação sobre negócios da Petrobrás é tratada com desdém no documento de diretrizes para o programa de governo de Dilma. O diagnóstico do PT é que as oposições estão "estagnadas" e sem discurso consistente. Com essa avaliação, o texto indica o roteiro que o PT seguirá para desconstruir Aécio e Campos.
"(As oposições) não escondem a disposição de abandonar as políticas de emprego e de renda dos governos Lula e Dilma. Reivindicam a "autonomia" do Banco Central (autonomia em relação a quem?). Seus ataques a Petrobrás ou a Eletrobrás evidenciam uma nostálgica fidelidade às políticas privatistas que aplicaram no passado (...) Não contentes, anunciam "medidas amargas", "impopulares", caso venham a ser eleitos. "Amargas" para quem?", questionam as "diretrizes" do programa de Dilma. Em recente jantar com empresários, Aécio disse não ter medo de tomar medidas amargas para enfrentar a crise econômica.
"O que ele quis dizer com isso? Será que a população vai pagar o pato?", perguntou o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.
"Nossos adversários representam um projeto oposto ao nosso, muito embora um deles se esforce em transmutar-se em uma suposta terceira via", ironiza o texto sobre tática eleitoral, numa referência a Campos, que se coloca como terceira via.