Em vez da demissão, Cerveró mereceu elogios registrados em ata e uma transferência para a diretoria financeira da BR Distribuidora, principal subsidiária da Petrobrás. Só deixou o posto no mês passado, após o Estado revelar que a presidente Dilma votou pela compra dos primeiros 50% da refinaria, em 2006, o que ela atribuiu a falha no resumo executivo apresentado pelo ex-diretor ao Conselho de Administração.
“Por que Cerveró não foi demitido? (Eu) Não fazia parte do conselho na época. Não posso responder a essa pergunta”, disse.“Quem demite e quem aprova diretores da Petrobrás e da BR Distribuidora é o Conselho de Administração, que é o mesmo. Cabe apenas ao conselho. Tem o presidente do Conselho e os conselheiros, cabe a esse presidente do conselho justificar a aprovação ou não de um diretor da nossa companhia”, afirmou Graça.
Lava Jato
A presidente da Petrobrás considerou que a Operação Lava Jato da Polícia Federal causa profundo constrangimento à estatal. “A Lava Jato nos constrange profundamente”, afirmou. No último dia 17 de março, a Polícia Federal deflagrou operação para desmontar um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter alcançado R$ 10 bilhões.
Em quatro horas de depoimento, ela voltou a qualificar a compra como “mau negócio”, mas fez acenos ao grupo do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli ao dizer que, em 2006, quando obteve a primeira metade da refinaria, ele era “potencialmente bom”. Após uma disputa judicial com a Astra Oil, sócia do empreendimento, a estatal teve de comprar os outros 50%, o que elevou o valor de aquisição para US$ 1,24 bilhão.
Graça repetiu argumentos da diretoria anterior atribuindo o prejuízo de US$ 530 milhões às mudanças no mercado de petróleo, à crise financeira internacional e à falta de investimentos para mudar o perfil da refinaria para o processamento de óleo pesado, como o produzido no Brasil. Sustentou, porém, que as cláusulas Put Option e Marlim, apontadas por Dilma como responsáveis pela polêmica, eram importantes, ao contrário das versões de Gabrielli e Cerveró, que as trataram como “não relevantes” ou “inócuas”.
Parlamentares governistas afirmaram que o tom conciliador da presidente da Petrobrás em relação ao antecessor é um “ajuste no discurso político” após Gabrielli, em entrevista ao
Estado
, ter sustentado que Dilma “não pode fugir à responsabilidade” por ter aprovado o negócio. Graça, porém, acabou pondo a presidente em situação delicada ao destacar que caberia ao conselho comandado por Dilma punir o personagem tido como responsável pelo mau negócio.
“Nestor Cerveró virou culpado, mas antes era herói? Na hora em que o assunto veio à tona, a presidente decide demiti-lo. Mas, antes disso, ele foi ser dirigente da Petrobrás Distribuidora”, disse o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).
Graça cutucou os tucanos e disse que a estratégia de investir em refinarias no exterior vem de 1999, no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Graça afirmou que o prejuízo de Pasadena poderá ser revertido no futuro, como aconteceu com outros negócios da companhia, mas informou que o ativo não é uma prioridade no momento e só não foi vendido para que a Petrobrás pudesse ter acesso a todas as informações sobre o processo de compra.
Graça Foster já havia dado explicações sobre Pasadena, só que no Senado, em 15 de abril. .