Brasília – Se torce para que a Seleção Brasileira avance na Copa do Mundo – e quem sabe, seja campeã —, o governo monitora e reza para que não se repita o cenário do ano passado, quando uma multidão foi às ruas e derreteu a popularidade da presidente Dilma. Ela jamais retornou aos patamares anteriores à Copa das Confederações. Pior, depois de um leve respiro nas pesquisas de popularidade, a petista despencou novamente nas aprovação de governo e, agora, nos índices de intenção de voto.
Extracampo, a situação do governo é bem complicada. “O país viveu um curto-circuito no ano passado que está, por enquanto, adormecido. Mas os problemas, em todos os setores, continuam. Depois da Copa, sobretudo se a Seleção não for exitosa, esses fusíveis serão religados”, disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).
A aposta do Planalto é que a conjunção de fatores ocorrida no ano passado dificilmente voltará a se repetir. Nos meses posteriores, a presença das pessoas nos protestos anti-Copa diminuiu.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) mergulharam num confronto entre policiais e traficantes em comunidades estratégicas e emblemáticas, como o Alemão, Rocinha e Pavão-Pavãozinho. A situação tornou-se tão complexa que o governo fluminense foi obrigado a antecipar para amanhã a ampliação do efetivo de policiais nas ruas das cidade: serão 2 mil.
Manifestações, violências nas favelas pacificadas, medo de rebeliões nos presídios. Em janeiro, o Estado de Minas antecipou que o Planalto desejava firmar uma parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tentar diminuir a pressão nas unidades carcerárias, sobretudo nas cidades-sede dos jogos. No fim do ano passado, após a descoberta de um esquema de fuga dos principais líderes da maior facção criminosa do país, o grupo anunciou que “não vai ter Copa”. Depois disso, o Brasil ainda presenciou a barbárie no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, onde mais de 60 presos foram executados em 2013.
O governo também terá de conviver com as queixas dos torcedores durante os jogos. Metade das arenas que sediarão as partidas não terá rede Wi-Fi, o que dificultará a transmissão de dados. Boa parte dos aeroportos segue em obras. O hotel que será construído ao lado do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, só estará pronto após o Mundial.
Manifestações, violência nas ruas e nos presídios, caos aéreo. O Planalto ainda teme uma onda de greve de servidores federais. Há duas semanas, policiais militares da Bahia cruzaram os braços e Salvador mergulhou em um caos urbano de saques e depredações. A presidente ordenou que a Advocacia-Geral da União fique atenta aos grevistas para tentar, na Justiça, liminares que considerem ilegais movimentos desta natureza, especialmente durante o período da Copa.
A bola e o voto
Os entraves da presidente Dilma Rousseff durante os 30 dias de Copa do Mundo:
Resultado em campo: O mito de que uma vitória em campo pode ajudar a eleger o presidente foi desmentido nas últimas eleições (2002, 2006 e 2010). Mas a presidente Dilma acha que o otimismo decorrente do hexa pode ajudá-la. Se perder, a situação se complica.
Estádios padrão Fifa: As arenas ficarão prontas, mas alguns problemas aconteceram durante os eventos-teste. Além disso, metade dos estádios deverá estar sem internert wi-fi, o que dificultará o envio de dados e imagens pelos torcedores.
Aeroportos: Parte das obras dos aeroportos brasileiros não ficará pronta. Há quem tema a ocorrência de um caos aéreo pelo grande volume de voos que cruzarão os céus do país nos dias de jogos.
Mobilidade urbana: Em todas as grandes cidades ocorreram obras de mobilidade.
Manifestações de rua: O temor de que as ruas sejam novamente ocupadas por manifestantes, a exemplo do que aconteceu em junho do ano passado, é grande. O governo não conseguiu aprovar o projeto de lei para coibir as manifestações. Após os protestos do ano passado, a popularidade de Dilma derreteu a patamares próximos da atual.
Segurança e presídios: No fim do ano passado, quando o Ministério Público de São Paulo desbaratou um esquema de fuga da principal organização criminosa do país, a facção ameaçou impedir a realização dos jogos. No Rio de Janeiro, o aumento da violência nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) também ligou o alerta nas autoridades federais.
Greves: Servidores públicos também podem se tornar um calo para o governo. Insatisfeitos com a política de valorização salarial, alguns funcionários defendem que a categoria aproveite o momento para uma paralisação geral. A Advocacia-Geral da União (AGU), porém, já monitora os sindicatos.
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