Brasília – Contrariando os interesses do Planalto e do PT, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou para esta quarta-feira uma sessão do Congresso na qual pedirá aos líderes partidários que indiquem os nomes para a CPI mista da Petrobras. Os senadores petistas Humberto Costa (PE) e Gleisi Hoffmann (PR) avisaram que apresentarão questões de ordem em plenário e insistirão para que a CPI seja exclusiva do Senado.
“A decisão do Supremo diz respeito a uma CPI do Senado Federal. Se, de fato, há interesse de fazer investigação, por que não começar logo? Se nós formos para uma CPI mista, eu não sei quando poderemos começar”, protestou Costa. “Nós teremos tantas CPIs quantos requerimentos tivermos com fato determinado e prazo para investigação. Não cabe ao presidente do Senado estabelecer qual é a CPI que vai funcionar”, respondeu Renan.
Humberto Costa, por exemplo, só ficou sabendo do cancelamento da reunião após deixar o Palácio do Planalto, onde participou de encontro dos líderes da base com o ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.
Pessoas próximas a Renan afirmam que o presidente do Senado pautou a decisão no equilíbrio tênue entre os interesses do governo e da oposição. “Não podemos desconsiderar o fato de que Aécio Neves (PSDB-MG) está crescendo nas pesquisas”, lembrou um senador aliado do peemedebista, referindo-se ao colega de parlamento e presidenciável pelo PSDB.
O PT, contudo, luta para que a CPI seja restrita ao Senado. O partido criticou também o fato de a oposição ter ido ao Supremo Tribunal Federal (STF) defender o direito de uma CPI exclusiva da Petrobras, e agora que o Senado está às vésperas de instalá-la, se recusar a indicar o nome dos integrantes. “Não há interesse em investigação. Há vontade de fazer onda, marola, desgastar o governo, fazê-lo sangrar, para depois tentar ganhar as eleições”, acusou Costa.
Transparência O senador Aécio Neves (MG) negou que haja quaisquer interesses em fazer pré-julgamentos no caso da Petrobras. “Uma CPI não prejulga, muito menos pré-condena quem quer que seja. É a oportunidade que a sociedade brasileira vai ter para saber efetivamente de que forma a maior empresa brasileira, a Petrobras, vem sendo governada”, disse o tucano, que defende a CPI mista. “É justo que o Senado e a Câmara participem da investigação.”
Enquanto o Congresso luta para chegar a um consenso sobre a CPI da Petrobras, o Estado de Minas apurou que não será nesta semana que o plenário do Supremo Tribunal Federal analisará o recurso apresentado pelo presidente do Senado contra a liminar da ministra Rosa Weber que determinou que a comissão investigue exclusivamente irregularidades na Petrobras. Procurada pela reportagem, Rosa Weber disse que ainda não apreciou o agravo.
Colaborou Grasielle Castro
PT escolhe Chinaglia para Mesa
A bancada do PT na Câmara decidiu na noite de ontem indicar o nome do líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) à primeira vice-presidência da Casa, na vaga deixada pelo deputado licenciado André Vargas (sem partido-PR) na Mesa Diretora. Os integrantes da bancada do partido se reuniram ontem para discutir a indicação e, no início da noite, iniciaram o processo de votação para a escolha do nome.
Chinaglia recebeu 44 votos favoráveis ao seu nome e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), 38. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que também concorria ao cargo, retirou sua candidatura mais cedo em favor de Chinaglia. O plenário da Câmara ainda terá que aprovar a indicação do PT, em votação prevista para ocorrer hoje.
O Palácio do Planalto entrou ontem nas articulações para eleger Chinagliapara ocupar o lugar do ex-petista. Durante todo o dia, o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, manteve contato com os petistas em busca de uma solução.
A ideia era, com o apoio a Chinaglia, desbancar da disputa parlamentares que integravam o mesmo grupo de Vargas, como Luiz Sérgio (RJ) e José Guimarães (CE).
Com respaldo do Planalto, Chinaglia buscou ontem apoio dos correligionários e do grupo mais próximo a ele para tentar impedir que aliados de Vargas ocupassem o posto.
Antes da votação, o petista estava cauteloso: "É verdade que tenho apoio, mas tenho que tomar cuidado", disse, numa referência ao fato de que, num passado recente, foi um dos principais articuladores de uma aliança dentro do partido que levou à derrota de seu grupo justamente pelo grupo que acabou elegendo Vargas..