Brasília, 20 - A 20 dias do início do prazo das convenções partidárias que deverão selar as alianças das próximas eleições presidenciais, integrantes da cúpula do Partido da República (PR) ainda não dão como certo um apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Nos bastidores, alguns já defendem apoio à candidatura ao Palácio do Planalto de Aécio Neves (PSDB) e até de Eduardo Campos (PSB). De acordo com a Lei Eleitoral, as convenções devem ser realizadas entre os dias 10 e 30 de junho. O encontro nacional do PR está previsto para ocorrer somente no próximo dia 28 de junho, praticamente no limite do prazo estabelecido. Segundo líderes do partido ouvidos pelo Broadcast Político, a escolha da data é apenas mais uma demonstração da falta de um consenso dentro da legenda em apoiar à reeleição de Dilma.
Alguns ressaltam que o atual clima interno é completamente diferente do de 2010, quando o PR foi o primeiro partido a declarar apoio à petista, lançada na campanha presidencial pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A oficialização do apoio ocorreu em abril daquele ano, logo após o senador Alfredo Nascimento (AM) ser conduzido ao comando nacional do PR.
Hoje, o senador é uma das poucas vozes a defender a continuação da aliança no plano nacional. O descontentamento de parte dos integrantes do partido passaria pela falta de atenção do governo para com os parlamentares. Alguns também miram a artilharia no atual ministro dos Transportes, Cesar Borges, que "vem falhando na parte política". Segundo relatos de parlamentares, há casos de deputados do partido que estariam na fila de uma audiência com o ministro há pelos menos 30 dias.
Em meio ao desgaste com o governo federal, Alfredo Nascimento tem dito a pessoas próximas, que mesmo a favor de Dilma, deverá seguir a vontade da maioria nas convenções. Informada do mal estar dentro do PR, a presidente Dilma convocou Nascimento para um encontro ocorrido segunda-feira, 19, no Palácio do Planalto. Uma segunda reunião ocorreu nesta terça com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Segundo o
Broadcast Político
apurou, nas duas ocasiões os integrantes da cúpula do governo ouviram do senador que o quadro dentro do partido é de indefinição.
"Hoje é muito difícil medir o resultado de uma convenção, sinceramente. Há uma insatisfação muito grande com o governo. O próprio Alfredo, que um tempo atrás, disse que está tudo resolvido com o governo recuou. Está tudo dividido", afirmou o líder do PR na Câmara, Bernardo Santana (MG). "Ela nos une mais do que nos separa no sentido de ser contra ela", acrescentou.
"Parte não quer ir com Dilma, outra quer candidatura própria e também há muita gente simpática ao Aécio Neves (PSDB)", afirmou o ex-líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG). Insatisfeitos com o governo, representantes da bancada do PR do Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do País, também avaliam o quadro pró-Dilma como "completamente instável". No caso da bancada fluminense, uma das alternativas poderá ser a defesa na convenção da candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB). Uma aliança com os socialistas e a Rede vem sendo costurada para formar uma aliança em torno da candidatura do deputado Anthony Garotinho ao governo do Rio.
Defensor de um apoio à reeleição de Dilma, o secretário-geral do PR, senador Antônio Carlos Rodrigues (SP), também não descarta "surpresas" no dia da convenção. "Não dá para saber o resultado. A votação é secreta. Certeza que vai ser Dilma? Não sei. Eu vou encaminhar a favor dela. Mas pode ter surpresas" afirmou Rodrigues.