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Estado de Minas

Depoimento de Gabrielli na CPI da Petrobras no Senado foi blindado pela base aliada

Em sessão descontraída boicotada pela oposição, ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli recua e isenta Dilma de responsabilidade na aquisição da Refinaria de Pasadena, nos EUA


postado em 21/05/2014 00:12 / atualizado em 21/05/2014 07:31

Brasília – Em depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras no Senado, boicotada pela oposição, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli mudou o tom do discurso e isentou a presidente Dilma Rousseff da responsabilidade pelos prejuízos causados à empresa pela compra da Refinaria de Pasadena, no Texas. Diante exclusivamente de senadores da base, ele afirmou que os negócios na Petrobras são decididos coletivamente.

“Não considero a presidente responsável pela compra de Pasadena. A responsabilidade é da diretoria e do Conselho de Administração, porque passou por todos os procedimentos internos da Petrobras. Foi um processo de decisão coletivo”, disse Gabrielli, depois de afirmar que Dilma é “uma profissional e uma gerente de extrema competência”.

Em abril, Gabrielli havia dito, ao jornal O Estado de S.Paulo, que Dilma não poderia “fugir da responsabilidade dela” na compra de Pasadena. A afirmação foi uma resposta à declaração da presidente de que se baseou em um documento “falho” ao votar pela aprovação do negócio, quando era presidente do Conselho de Administração, em 2006.

Em clima descontraído, com espaço até para piadinhas, o depoimento de Gabrielli acabou servindo de ensaio do discurso articulado pelo governo para a CPI Mista da Petrobras, que deve ser instalada hoje, com senadores e deputados. A oposição pretende convocá-lo novamente para falar sobre o caso. O mesmo deve ocorrer com Nestor Cerveró, autor do documento que baseou a compra da refinaria em 2006, que fala amanhã na CPI do Senado.

Ainda no depoimento, Gabrielli defendeu a compra da unidade de Pasadena. “Era bom quando foi adquirido. (...) Em 2008, se torna mau negócio, porque reflete a crise financeira no mundo. (...) A partir de 2013, volta a ser bom negócio. Em 2014, ela é lucrativa”, assegurou, ao falar da aquisição que custou aos cofres da Petrobras um prejuízo de US$ 530 milhões. E atacou a oposição, ausente da Comissão: “Essa empresa, com esse potencial, não pode ser considerada em crise. Não pode ser considerada empresa que está mal gerida. Nem que está à beira da falência. Isso é campanha de oposição. Isso é luta política”, criticou ele.

Em menos de uma hora, incluindo a exposição inicial de 20 minutos, Gabrielli respondeu as primeiras 76 perguntas feitas pelo relator José Pimentel (PT-CE). No total, foram cerca de 200 questões em aproximadamente 3h15 de oitiva. O único integrante da oposição – indicado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) – disse que se negou a participar da “farsa governista” na CPI porque o plano de trabalho e as perguntas foram previamente acertadas com Gabrielli. “Foi um acerto entre amigos. Eles que façam o que quiserem nesta CPI. Preferimos participar da CPI mista porque lá somos sete vozes, além dos dissidentes da base, e teremos realmente condições de investigar as denúncias contra a Petrobras”, disse o senador Cyro Miranda (PSDB-GO).
Integrantes da CPI e o próprio Gabrielli não concordaram com a avaliação de que a sessão tenha sido tão camarada assim com o depoente. O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), por exemplo, destacou o número de perguntas feitas a Gabrielli. Após a sessão, interpelado por jornalistas se a CPI tinha sido chapa branca, Gabrielli foi na mesma direção: “Não. São 200 perguntas”. Questionado se os colegas tinham sido amigáveis com o executivo, o relator José Pimentel disse: “A agressividade é típica de uma ditadura. No Estado Democrático de Direito, você formula pergunta e ao mesmo tempo subsidia com um conjunto de documentos que nós já requeremos”.

Num ambiente favorável – ele se negou a depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara na semana passada –, Gabrielli estava descontraído e sorridente. Coube ao senador Aníbal Diniz (PT-AC) levantar a bola para que ele acusasse a oposição de estar atacando a Petrobras para atender a especuladores. Esse tem sido um discurso recorrente entre os petistas. “A quem interessa reduzir o valor da Petrobras?”, perguntou Diniz. “Eu diria, primeiro, que os especuladores adoram a oscilação das ações da Petrobras. É um volume enorme, com uma variação extraordinária”, respondeu Gabrielli. (Com agências)


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