São Paulo - Para a família de Rubens Paiva, a decisão do juiz da 4ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Caio Márcio Guterres Taranto, de aceitar a denúncia do Ministério Público Federal - e com isso tornar réus cinco militares acusados da morte do ex-deputado - marca o início do processo para esclarecer o caso, depois de 43 anos.
Segundo ela, o calvário da família iniciado em janeiro de 1971, quando agentes da ditadura militar tiraram o ex-deputado de sua casa no Rio de Janeiro e o levaram para um depoimento no Departamento de Operações de Informações (DOI) para nunca mais voltar, continua até hoje.
Vera citou o caso de reportagens publicadas recentemente que tinham como fonte o ex-coronel Paulo Malhães, morto em abril. Na primeira, publicada em um domingo, ele dizia que havia jogado o corpo de Paiva no mar. Depois, desmentiu a versão. “O desaparecimento é uma história que nunca termina. A gente passa a vida recebendo pistas falsas. Isso provoca muito sofrimento. Malhães conseguiu me torturar mais uma vez. Naquele domingo, depois de ler o jornal, entrei no mar para fazer uma homenagem ao meu pai. Dois dias depois, veio o desmentido", disse Vera.
De acordo com ela, a decisão da Justiça é fruto de uma mudança de posição da sociedade em relação a uma cultura de violência policial que começou na ditadura, mas persiste até hoje. “O que nos dá alegria é que esse processo foi produzido por uma juventude que não viveu a ditadura, o MPF, os advogados, todos os operadores de direito envolvidos são muito jovens. Isso dá a esperança de que o Brasil está mesmo querendo se tornar uma democracia para valer, e não meia democracia", afirmou Vera. “A cultura de violência do Estado não acabou. O que aconteceu é que as pessoas mais pobres fizeram a ligação. A mãe do bailarino (Douglas Silva, morto pela polícia) gritou ‘tortura nunca mais’. Ela fez o vínculo."