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Estado de Minas

Coronel da ditadura revelou que usava tortura para "quebrar" esquerdistas

Transcrição dos depoimentos de Paulo Malhães divulgada ontem mostrou como ele usava a violência para transformar militantes de esquerda em colaboradores do regime militar


postado em 31/05/2014 06:00 / atualizado em 31/05/2014 07:35

Em uma versão que ajuda a recuperar parte da história da ditadura militar no Brasil, o depoimento do coronel reformado Paulo Malhães à Comissão Estadual da Verdade do Rio, transcrito em 232 páginas e divulgado ontem, revelou que o local conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), formava agentes para serem infiltrados nas organizações de esquerda. Apontada como centro clandestino de tortura a presos políticos, as instalações da casa eram usadas para “atuação mais livre e mais violenta em seu aspecto psicológico”. No dia em que o documento foi divulgado, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense prendeu Anderson Pires Teles, irmão do caseiro Rogério Pires, ambos acusados da morte de Malhães em 24 de abril, pouco mais de um mês após o último dos dois depoimentos prestados por ele ao colegiado.

“Era para ser um lugar calmo, tranquilo e despercebido. A casa de Petrópolis só foi descoberta por causa do filho do dono do prédio. Se não, ninguém saberia. A Inês (Etienne Romeu, guerrilheira) diz que tinha estado em Petrópolis e localizou a casa pelo número do telefone, mas ela localizou depois que o garoto já tinha falado”, descreveu o coronel, em duas longas entrevistas concedidas em 18 de fevereiro e em 11 de março, antes de ser morto no sítio em que morava, em Nova Iguaçu (RJ). Da Casa da Morte, em Petrópolis, saíam militantes partidários que, após dias de torturas, eram “transformados” em informantes.

Nas 20 horas em que prestou depoimento à Comissão da Verdade, Malhães admitiu ter “formado” entre 30 e 40 informantes nas sessões de tortura. “Eu me tornei condutor dos infiltrados e ‘fiz’ infiltrados”, afirmou. “Nós anulamos o PCdoB, depois teve (agentes) no PCB e no PCBR”, contou o coronel sobre os militantes que ele conseguiu “transformar”.

Nos depoimentos, o coronel contou que o Exército desenvolveu uma técnica de ocultação de cadáveres em que retirava a arcada dentária, as pontas dos dedos e cortava o ventre das vítimas antes de colocá-las em sacos impermeáveis e lançá-las em um rio na região serrana do Rio de Janeiro, tornando impossível a localização e a identificação.

“Quando o troço virou guerra, guerra mesmo, é que as coisas mudaram, porque a gente também foi aprender alguma coisa fora. Aí, os perfis das prisões daqui mudaram. A forma de contato com os presos mudaram, surgiu a necessidade de aparelhos porque – isso foi uma grande lição que aprendi – o que causa maior pavor não é você matar a pessoa. É você fazê-la desaparecer. O destino fica incerto”, disse.

“O pavor é muito maior com o desaparecimento do que com a morte. Já quando você desaparece – isso é ensinamento estrangeiro – quando você desaparece, você causa um impacto muito mais violento no grupo. Cadê o fulano? Não sei, ninguém viu, ninguém sabe. Como? O cara sumiu como?”, contou o coronel explicando as técnicas usadas. Malhães admitiu ter atuado no desaparecimento do corpo do ex-deputado Rubens Paiva, mas não revelou como o fez. Ele se limitou a dizer que não contaria “a cereja do bolo”.

Prisão Para prender Anderson Pires Teles, agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense fizeram buscas na favela Vila Norma, em Santa Cruz, para localizar outro irmão do caseiro, Rodrigo Pires, que também estaria envolvido no crime. A casa do militar foi invadida por três pessoas. Duas delas, segundo a polícia, seriam os irmãos Rodrigo e Anderson, que tiveram o acesso facilitado pelo caseiro.

Perícia

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) realizou perícia na manhã de ontem na Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio, para esclarecer as circunstâncias da morte do ativista político Stuart Angel Jones durante a ditadura militar. O jovem desapareceu aos 25 anos, após ter sido torturado por militares. O grupo deve lançar nos próximos dias um novo relatório sobre a morte do ativista. A informação foi divulgada pelo presidente da comissão, Pedro Dallari, que participou da diligência pericial na base aérea, que seria um dos locais onde aconteceram torturas na época.


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