Jornal Estado de Minas

Entrevista

Michel Temer aposta que PMDB vai reeditar parceria com Dilma

Vice-presidente atesta na dobradinha: 'A aliança vai ser aprovada'

Paulo de Tarso Lyra Denise Rothenburg
- Foto: Bruno Peres/CB/D.A Press

Brasília –
Michel Temer quer mais quatro anos no Palácio do Jaburu. Em primeiro lugar, porém, terá de garantir que o partido que comanda, o PMDB, aprove, na convenção da próxima terça-feira, em Brasília, a reedição da dobradinha com a presidente Dilma Rousseff. Já considerou essa vitória menos provável. No início do ano, em conversa com lideranças partidárias, defendeu a manutenção da aliança, mas afirmou que "se submeteria às decisões do partido". Hoje, enumera apoio dos governadores, desdenha do levantamento desfavorável na bancada de deputados e vaticina: "Terei mais da metade de votos da bancada, as coisas estão mais calmas." Em segundo lugar, terá de contar com o fato de a maioria dos brasileiros escolherem a presidente Dilma para mais um mandato. Ele também acha ser possível essa previsão. "O clima de pessimismo é incompatível com a realidade brasileira". Para Temer, a economia passa por um período de flutuação, mas não de crise.


Considerado por alguns integrantes do próprio partido como figura meramente decorativa na estrutura de poder, Temer faz questão de elogiar a companheira de chapa, apostando que a relação dela com o PMDB será melhor no segundo mandato, pois todos perceberam que governar sem o PMDB é pior.

Confira os principais trechos da entrevista exclusiva concedida ao Estado de Minas.

 

Existe algum risco de a convenção nacional do PMDB não aprovar a aliança com a presidente Dilma?
Estamos com apoios expressivos, muito acentuados. Claro que não quero antecipar nada, prefiro esperar a convenção. Mas creio que a aliança vai ser aprovada. As pessoas vêm dizer que vão votar em mim. Acho que vai dar certo.

O que mais atrapalha nessa aliança entre o PT e o PMDB são as realidades estaduais, já que os petistas não estão se mostrando parceiros. Há tempo de resolver isso até a convenção?
O PT está apoiando o PMDB em 12 estados. Onde não tem apoio direto, há uma convivência harmoniosa e até a ideia de que, quem não for para o segundo turno, apoia o outro. Dou como exemplo o meu estado, São Paulo. Padilha (Alexandre Padilha, PT) é candidato e Skaff (Paulo Skaff, PMDB), também. Mas nós conversamos muito. Não creio que isso seja um problema sério. A situação é mais séria, por exemplo, no Rio Grande do Sul e em Pernambuco. São brigas históricas.

Mas, mesmo assim, na convenção, creio que mais da metade dos votos virão pela aliança.

Mas o principal estado governado pelo PMDB, o Rio de Janeiro, lançou um movimento de apoio ao Aécio (Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Planalto)…
Com o Pezão (Luiz Fernando, pré-candidato do PMDB ao governo fluminense), o Cabral (Sérgio Cabral, ex-governador) e o Eduardo Paes (prefeito do Rio) dizendo que apoiam a Dilma. É evidente que os candidatos a governador não podem recusar apoio. Quando alguém diz, “olha eu vou votar em você, mas não posso votar no candidato a presidente”, é claro que o candidato a governador não vai dizer, “não, não quero”. Então, é possível um grupo que vote Aécio e Pezão e outro que vai votar Pezão e Dilma.

O senhor vai sugerir que a presidente Dilma suba nos palanques do PMDB?
Isso é uma coisa que não está decidida. Talvez a ideia seja ela não ir a nenhum palanque. Quando ela fizer um palanque nos estados, os candidatos vão ao palanque dela.

Há levantamentos mostrando que só 20% da bancada da Câmara apoiará a aliança com o PT. Qual o peso da bancada de deputados na convenção nacional de terça-feira?
Sabe quanto representa esses 20% da bancada? 14 votos. Eu tenho mais amigos do que esses 14 votos. É só somar.
Terei mais da metade de votos da bancada; as coisas estão mais calmas.

Estão mais calmas mesmo? Os  deputados do PMDB se sentem tratados como de segunda classe pelo governo…

Essa relação vai melhorar muito no segundo mandato, porque o próprio governo já viu que ter o apoio do PMDB é importante. Todo mundo diz que o PMDB cria problemas. Mas me diga qual foi o projeto que o PMDB derrubou na Câmara e no Senado, à exceção do Código Florestal? Nesses quatro anos, o PMDB não derrubou um projeto de lei do governo. E não é verdade que o PMDB não tem força no governo. O PMDB tem cargos no governo, tem a vice-presidência, a presidência da Câmara e do Senado. Temos a liderança do governo no Senado, as presidência de CPIs. O PMDB é o partido que tem o maior poder político no país.

Em um segundo mandato, a tendência não é que a presidente, livre do compromisso da reeleição, fique ainda mais dura no trato com os aliados?

Essa chamada “dureza” deriva do estilo muito gerencial da presidente, o que é útil para o Executivo. Em segundo lugar, ela tem um espírito e uma formação democrática. Eu sei que estão alardeando isso, mas não se pode imaginar que a presidente, reeleita, vai endurecer com o Congresso Nacional. Não creio que ela vá, digamos, afirmar: “agora não preciso mais de ninguém e faço o que eu quero”. Não será assim.

O que aconteceu para se chegar a este momento com o governo tão mal avaliado e a presidente com um índice de intenção de votos tão baixo?

Não dá para imaginar que, num cenário globalizado, as questões internacionais não interfiram. Mas eu fiz 36 viagens internacionais e verifiquei que o apreço pelo Brasil, em termos de investimentos, ainda é muito grande. Eu acho que há um clima de pessimismo que é incompatível com a realidade brasileira. Esse pessimismo cresce neste ano porque é ano eleitoral.

Mas o nível de investimento do empresariado caiu. O ex-presidente Lula afirmou que o baixo crescimento do PIB é decorrente do mau humor dos empresários. Ou eles estão mal-humorados por que a economia não está reagindo?
Se cai o nível da produção industrial, rigorosamente deve cair o nível de emprego. Eu pergunto: o nível de emprego caiu? Não. Enquanto tivermos o nível de pleno emprego que temos hoje, existe a tendência de dizer que existe uma flutuação na economia, mas não uma crise de natureza econômica. O Brasil ainda vai bem, a ascensão social que se deu no Brasil foi muito útil para o povo. Temos o Bolsa-Família, o Minha casa minha vida que, com 3,7 milhões de moradias, garante teto para pelo menos 15 milhões de pessoas. Tinha gente que estava na miséria absoluta e passou para a classe média baixa, comprou a geladeira, o carro em 60 prestações. Os filhos começam a frequentar escola e eles começam a reivindicar, o que nasceu nas manifestações de junho.

E a partir de agora, o que acontece?
O que chamo de democracia da eficiência, onde você reivindica eficiência dos serviços públicos e privados. Nos movimentos de junho, não foram apenas as instituições públicas que foram atacadas. Há 15 anos atrás, você ligava para uma tele (empresa de telefonia) qualquer e se conformava em ficar quinze minutos esperando.

Estão sendo marcadas uma série de paralisações por causa do receio das demissões. Isso não é preocupante?
Os movimentos são legítimos, mas você usou uma palavra preambular: o receio de. Não é porque foi demitido. O que o governo tem de fazer é tentar mobilizar a economia para manter o pleno emprego.

A democracia da eficiência não exige um choque de gestão no poder público, algo que não vem acontecendo?
Esse choque de eficiência está sendo feito. Mas as coisas não acontecem da noite para o dia. E muita delas não é só o governo quem faz, estão ancoradas na iniciativa privada.

A oposição quer aproveitar a CPMI da Petrobras para arranhar a imagem de gestora da presidente Dilma Rousseff. Vai dar certo?

A presidente tem uma credibilidade pessoal acima de qualquer pressão. O que está envolvido nas discussões até o momento é se houve ou não um mau negócio (na compra da refinaria de Pasadena, no Texas). Sobre as suspeitas de corrupção, a CPI vai apurar. E não só a CPI, o Ministério Público também.

O senhor foi companheiro de parlamento dos dois principais adversários da presidente Dilma, o senador Aécio Neves e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Qual dos dois é mais difícil de ser enfrentado?

A questão não é pessoal. A população vai olhar e medir quem vai conseguir satisfazer seus interesses. As pessoas vão dizer que votam na presidente Dilma porque ela fez isso ou aquilo ou nos candidatos A ou B porque eles poderão fazer isso ou aquilo. A Dilma tem muito a mostrar. 

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