Só no ano passado, com filiados, o partido bateu outro recorde ao arrecadar R$ 32,6 milhões, cerca de 20% das receitas do diretório nacional, com os dízimos - contribuição obrigatória, que varia de acordo com a renda e o fato de o filiado ocupar ou não cargo público.
O aumento da arrecadação por meio da contribuição partidária coincide com a possibilidade de as siglas não poderem contar mais com recursos de empresas para financiar suas atividades e as campanhas eleitorais dos seus candidatos.
No início de abril, a maioria do pleno do Supremo Tribunal Federal se posicionou contra tais doações ao julgar ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O julgamento foi interrompido na ocasião por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
Crescimento
A ascensão do PT ao governo federal, com a eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2002, levou a um aumento no número de filiados. Na época, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, eram 828 mil filiados. Em abril passado, a legenda atingiu a marca de quase 1,6 milhão - um crescimento de expressivos 91%. A título de comparação, o aumento médio dos filiados de todos os partidos foi de 37% no período. O PMDB, que sempre ocupou a dianteira como maior partido em número de filados, cresceu apenas 6% nos últimos 12 anos - tem atualmente 2,3 milhões de filiados.
O maior aumento tem ocorrido no governo Dilma. Foram 196 mil filiados entre janeiro de 2011 e abril passado, número mais de duas vezes maior do que o segundo colocado no período, o PSB, com 92 mil novos membros.
A tabela de contribuições do PT parte da contribuição mínima de R$ 15 por semestre, para os casos de quem é filiado sem ocupar qualquer cargo público e recebe até 3 salários mínimos, mas pode superar os R$ 3,2 mil por mês, quando se trata de ocupante de cargo eletivo na esfera federal.
Para o secretário-geral do PT, o deputado federal Geraldo Magela (DF), o crescimento do partido está ligado às campanhas mensais de filiação à legenda.
Para o deputado federal Paulo Teixeira (SP), antecessor de Magela na Secretaria-Geral, as contribuições de filiados são o "caminho necessário" para os partidos se manterem, caso o Supremo decrete o fim das doações de empresas. Segundo ele, o PT tem potencial para incrementar as doações dos filiados comuns (sem cargos públicos) - responsáveis no ano passado por R$ 10 milhões dos R$ 32 milhões destinados à direção nacional.
Preocupação
Confrontados com os números de arrecadação do PT apenas com os filiados, presidentes de partidos se surpreenderam. "Aí está a preocupação dos partidos quando acabar o financiamento privado: o PT não sofreria tanto", reconhece o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), que já tentou lançar uma campanha de arrecadação na legenda, sem sucesso. Com o maior número de filiados, o PMDB de Raupp tem contribuições são optativas.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), avaliou que o PT consegue tal desempenho porque tem uma participação efetiva em cargos no Executivo, principalmente no governo federal. Ele admite que não ser possível ter contribuições partidárias semelhantes aos dos petistas e que o principal desafio do PP é, primeiro, mobilizar os já filiados.
"Não temos como objetivo arrecadar com as pessoas agora e não temos como fazer", disse, ao criticar a discussão sobre o financiamento privado no Supremo. "Jogaram muito para a plateia e, no meu ponto de vista, até irresponsavelmente."
Procurada, a assessoria de imprensa do presidente do PT, Rui Falcão, disse que ele não se pronuncia sobre questões envolvendo filiação e arrecadação de recursos e recomendou à reportagem procurar a assessoria de comunicação do partido.
A reportagem enviou questionamentos, por e-mail, para a legenda, mas até a conclusão desta edição, não obteve retorno. Contatado pelo celular, o secretário Nacional de Organização, Florisvaldo Souza, também não quis se pronunciar sobre o assunto. .