Jornal Estado de Minas

Dilma não escapa de vaias de torcedores no Itaquerão

Apesar de ter dispensado discurso, a presidente foi xingada durante o jogo de abertura da Copa. Mesmo assim, torceu e celebrou a vitória brasileira no Facebook

Flávia Ayer Felipe Seffrin
Fortes emoções: acompanhada por Blatter, Dilma enfrentou a hostilidade da torcida antes mesmo do início do jogo, cruzou os dedos quando a bola começou a rolar, mas atraiu mais vaias ao comemorar gol do Brasil - Foto: Murillo Constantino/Agência O Dia

Falhou a estratégia dos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e da Fifa, Joseph Blatter, de evitar os holofotes e não discursar na abertura da Copa do Mundo para escapar das vaias. Antes e durante o jogo em que o Brasil venceu a Croácia por 3 a 1, parte dos 62 mil torcedores nas arquibancadas da Arena Corinthians gritou em coro “ei, Dilma, vai tomar…”, enquanto outros diziam “ei, Fifa, vai tomar...”. O protesto da torcida confirmou as preocupações do Palácio do Planalto. Na área VIP do estádio, Dilma se mostrou emocionada e chegou a chorar discretamente na execução do hino nacional. Mas ela abandonou a discrição na hora de comemorar os gols e, empolgada, ergueu os braços e se levantou da cadeira.

Usando um terninho verde com detalhes amarelos, a presidente estava acompanhada da filha, Paula Rousseff, de chefes de Estado, do vice-presidente Michel Temer e correligionários. Os xingamentos teriam partido de perto da área onde se encontrava o ex-governador José Serra e se alastraram pelo estádio. Os torcedores voltaram a gritar palavrões à presidente quando Dilma apareceu no telão, na comemoração do segundo gol do Brasil.

No lugar da participação da presidente e de Blatter três crianças – que representavam a diversidade – soltaram pombas brancas, simbolizando a paz e o início oficial da Copa. Discursos de chefes de Estado e do dirigente da Fifa na abertura do mundial se tornaram uma tradição em duas décadas do evento.
Com a popularidade em queda, Dilma quebrou o protocolo e abriu mão até de ter o seu nome anunciado no Itaquerão para evitar que fosse hostilizada novamente pelo público, como na abertura da Copa das Confederações, no ano passado.

Apesar da presença discreta no estádio, Dilma, que na terça-feira fez pronunciamento em rede nacional de televisão sobre o Mundial, não poupou manifestações fora do Itaquerão. Em sua página no Facebook, elogiou a Seleção pela vitória. “Vencemos a Croácia com três belíssimos gols!” Antes, por volta das 12h, ela publicou várias mensagens em seu perfil do Twitter, sempre se referindo ao evento como a Copa das Copas. “O povo brasileiro ama e confia na sua Seleção #CopadasCopas#RumoAoHexa!”, escreveu. Também contou ter telefonado para o técnico Felipão para desejar “toda sorte do mundo” e se disse confiante com a Seleção.

Antes da partida, a presidente participou de recepção no Hotel Marriott, em São Paulo, às autoridades que vieram para o mundial, entre elas o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, além de 11 presidentes, primeiros-ministros e vice-presidentes. No evento, ela reafirmou o desejo de que a Copa fosse marcada pela tolerância, combate ao preconceito e respeito à diversidade. “Hoje, nos unimos todos para buscar não só a vitória de nossas Seleções em campo, mas também a vitória da paz. Juntamos nossas vozes na luta contra todas as formas de discriminação racial e em favor do respeito mútuo independentemente de gênero, raça, origem étnica, orientação sexual, religião ou classe. Esses são valores universais e aspirações que nos comprometemos a promover nesta Copa do Mundo e depois dela”, disse.

O vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também participaram da homenagem aos mandatários estrangeiros. Entre os presentes estavam o primeiro-ministro croata, Zorán Milanovic e os presidentes do Chile, Michelle Bachelet, do Equador, Rafael Correa, do Suriname, Desiré Delano Bouterse, de Angola, José Eduardo dos Santos e da Bolívia, Evo Morales. Também estão no Brasil para o Mundial o vice-presidente de Gana, Khesi Amissah-Arthur, o presidente do Paraguai, Horácio Cartes, e o do Gabão, Ali Bongo Odimba.

Com agências

Adversários na rede

Os pré-candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) trocaram a arquibancada pelas redes sociais para desejar boa sorte à Seleção Brasileira, passar suas mensagens políticas e, direta ou indiretamente, criticar a presidente Dilma Rousseff. Aécio viu o jogo na clínica em que estão internados sua mulher, Letícia Weber, e os filhos recém-nascidos Júlia e Bernardo, na Zona Sul do Rio.
Logo após a partida, ele publicou foto ao lado de Letícia e com camisas estampando os nomes dos gêmeos, penduradas na cabeceira da cama. Depois, em entrevista, comentou as vaias recebidas por Dilma e o fato de ela não ter discursado: “O que fica para a história é que temos uma Copa do Mundo em que o chefe de Estado não se vê em condições de se apresentar à população”, afirmou. Em Pernambuco, Campos postou no Facebook um vídeo no qual diz: “Agora todos juntos vamos torcer pela Seleção Brasileira. Passada a Copa, todos juntos vamos mudar o Brasil”.
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