Falhou a estratégia dos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e da Fifa, Joseph Blatter, de evitar os holofotes e não discursar na abertura da Copa do Mundo para escapar das vaias. Antes e durante o jogo em que o Brasil venceu a Croácia por 3 a 1, parte dos 62 mil torcedores nas arquibancadas da Arena Corinthians gritou em coro “ei, Dilma, vai tomar…”, enquanto outros diziam “ei, Fifa, vai tomar...”. O protesto da torcida confirmou as preocupações do Palácio do Planalto. Na área VIP do estádio, Dilma se mostrou emocionada e chegou a chorar discretamente na execução do hino nacional. Mas ela abandonou a discrição na hora de comemorar os gols e, empolgada, ergueu os braços e se levantou da cadeira.
Usando um terninho verde com detalhes amarelos, a presidente estava acompanhada da filha, Paula Rousseff, de chefes de Estado, do vice-presidente Michel Temer e correligionários. Os xingamentos teriam partido de perto da área onde se encontrava o ex-governador José Serra e se alastraram pelo estádio. Os torcedores voltaram a gritar palavrões à presidente quando Dilma apareceu no telão, na comemoração do segundo gol do Brasil.
No lugar da participação da presidente e de Blatter três crianças – que representavam a diversidade – soltaram pombas brancas, simbolizando a paz e o início oficial da Copa. Discursos de chefes de Estado e do dirigente da Fifa na abertura do mundial se tornaram uma tradição em duas décadas do evento.
Apesar da presença discreta no estádio, Dilma, que na terça-feira fez pronunciamento em rede nacional de televisão sobre o Mundial, não poupou manifestações fora do Itaquerão. Em sua página no Facebook, elogiou a Seleção pela vitória. “Vencemos a Croácia com três belíssimos gols!” Antes, por volta das 12h, ela publicou várias mensagens em seu perfil do Twitter, sempre se referindo ao evento como a Copa das Copas. “O povo brasileiro ama e confia na sua Seleção #CopadasCopas#RumoAoHexa!”, escreveu. Também contou ter telefonado para o técnico Felipão para desejar “toda sorte do mundo” e se disse confiante com a Seleção.
Antes da partida, a presidente participou de recepção no Hotel Marriott, em São Paulo, às autoridades que vieram para o mundial, entre elas o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, além de 11 presidentes, primeiros-ministros e vice-presidentes. No evento, ela reafirmou o desejo de que a Copa fosse marcada pela tolerância, combate ao preconceito e respeito à diversidade. “Hoje, nos unimos todos para buscar não só a vitória de nossas Seleções em campo, mas também a vitória da paz. Juntamos nossas vozes na luta contra todas as formas de discriminação racial e em favor do respeito mútuo independentemente de gênero, raça, origem étnica, orientação sexual, religião ou classe. Esses são valores universais e aspirações que nos comprometemos a promover nesta Copa do Mundo e depois dela”, disse.
O vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também participaram da homenagem aos mandatários estrangeiros. Entre os presentes estavam o primeiro-ministro croata, Zorán Milanovic e os presidentes do Chile, Michelle Bachelet, do Equador, Rafael Correa, do Suriname, Desiré Delano Bouterse, de Angola, José Eduardo dos Santos e da Bolívia, Evo Morales. Também estão no Brasil para o Mundial o vice-presidente de Gana, Khesi Amissah-Arthur, o presidente do Paraguai, Horácio Cartes, e o do Gabão, Ali Bongo Odimba.
Com agências
Adversários na rede
Os pré-candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) trocaram a arquibancada pelas redes sociais para desejar boa sorte à Seleção Brasileira, passar suas mensagens políticas e, direta ou indiretamente, criticar a presidente Dilma Rousseff. Aécio viu o jogo na clínica em que estão internados sua mulher, Letícia Weber, e os filhos recém-nascidos Júlia e Bernardo, na Zona Sul do Rio.