De prefeito a deputado e, de deputado a prefeito, esse é o vaivém que, no Brasil, constitui parte integrante da carreira política. Se nas últimas eleições municipais quatro deputados federais e cinco estaduais se elegeram prefeitos e vice-prefeito – e outros 10 estaduais e cinco federais tentaram sem sucesso ganhar o Executivo –, agora é a hora do retorno. Ex-prefeitos azeitam as bases eleitorais para ocupar o Legislativo.
Em se tratando de cidades de porte médio e grande, o PR é a legenda que mais engrossou a sua chapa: Ademir Lucas, que comandou Contagem pelo PSDB, Danuza Bias Fortes, ex-prefeita de Barbacena pelo PMDB, Walace Ventura, ex-prefeito de Ribeirão das Neves pelo PSB, e ainda Ângelo Roncalli e Vagner Cândido de Oliveira, que foram prefeitos pelo mesmo partido de cidades menores, nesta ordem: São Gonçalo do Pará e Chácara. Não apenas o PR acumula quadros políticos com a trajetória do Executivo ao Legislativo e vice-versa. A prática faz parte da rotina nas carreiras de políticos de todas as legendas. Ao migrar do Legislativo para a Executivo, os políticos abrem oportunidades para, com a caneta na mão, fazer mais investimentos e tentar atrair convênios para as suas bases, mantendo a lealdade do eleitorado.
Já Sérgio Mendes, ex-prefeito de Timóteo, pretende concorrer para deputado estadual. Ele iniciou a carreira no PT, como vereador. Concorreu às eleições em 2008, já pelo PSB. Ficou em segundo lugar, mas, como o prefeito Geraldo Hilário Torres (PDT) foi cassado, assumiu o Executivo em outubro de 2010, dois dias depois de ter concorrido para deputado estadual sem sucesso: conquistou 17.746 votos e ficou na sexta suplência da coligação PSB-PTB.
A estrutura de oportunidades na construção da carreira política se dá na movimentação entre cargos e entre poderes. “Temos e sempre tivemos um número elevado de ex-prefeitos que foram deputados federais, prefeitos e, terminado o mandato, deputado federal de novo”, avalia Simone Cuber, professora-adjunta de Ciência Política do curso de direito do Ibmec do Rio de Janeiro, que há muitos anos pesquisa a trajetória dos parlamentares. “O modelo de carreira no Brasil não é linear, do tipo que começa como vereador, segue como deputado estadual, federal, sempre no Legislativo”, considera Cuber. Segundo ela, a estrutura de nosso sistema abre oportunidades a cada quatro anos, a um custo baixo, já que o deputado não precisa se desincompatibilizar para disputar uma variedade de cargos. “São mais de cinco mil prefeituras no país”, diz.
Um quarto tem sucesso nas urnas
Entre 1992 e 2012, 547 parlamentares disputaram as eleições para as prefeituras municipais, em média, 91 ao ano, ou seja, 18% do plenário, apontam dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). A cientista Simone Cuber, que acompanhou as carreiras desses deputados federais, sustenta que, em média, 26% tiveram sucesso eleitoral. E um quarto deles voltou a se eleger para a Câmara dos Deputados após concluído o mandato de prefeito.
Entre os deputados federais que disputaram sem sucesso as eleições municipais no período, em média 84% voltaram para concorrer a novo mandato legislativo no pleito seguinte. “A despeito de esses deputados terem tentado sair do Legislativo, eles querem permanecer na Câmara”, afirma ela, assinalando ser esse interesse inclusive maior do que aquele verificado entre deputados federais que não fizeram nenhum movimento para concorrer às eleições municipais: em média, apenas 74% deles se reapresentaram para concorrer à reeleição.
Esse movimento de zigue-zague nas carreiras do Legislativo para o Executivo requer uma profissionalização muito grande da política. “Requer justamente saber conduzir e construir a carreira dentro dessa estrutura de oportunidades”, afirma a pesquisadora.