A quatro meses das eleições presidenciais, um a cada três brasileiros não sabe em quem votará para presidente ou está decidido a marcar branco ou nulo na urna eletrônica. Esse percentual de 30% a 35% é o maior para desde as eleições de 1989, as primeiras após o processo de redemocratização vivido pelo país. Um mix de fatores pesa para compor essa equação, segundo a opinião de analistas ouvidos pelo Estado de Minas: os eleitores estão desiludidos com a política; estão mais interessados na Copa do Mundo do que nas eleições; e, por fim, ainda não encontraram uma via suficientemente atrativa para se encantar.
Segundo o professor de ciência política da Universidade de Brasília Lúcio Rennó, esse desencanto com a política (e, como consequência, com os políticos), não é um privilégio do Brasil. Recentemente, os chilenos foram às urnas eleger a presidente Michelle Bachelet. Pela primeira vez na história do país, o voto não foi obrigatório. “Resultado? 60% de abstenção”, apontou Rennó.
A Copa do Mundo no Brasil, com jogos disputados nas principais cidades, também serve como elemento de dispersão. “A política sai da agenda e só vai retornar após o término do Mundial. Mas não há dúvidas que existe um clima de pessimismo generalizado no país”, completou ele. Rennó acha prematuro afirmar que esse alto índice de rejeição vai perdurar até outubro. “O que podemos afirmar, com certeza, é que a eleição está em aberto. Essa liderança momentânea da presidente Dilma não é consolidada e a oposição tende a crescer quando tiver uma exposição maior”, acredita ele.
Para o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf é compreensível que, neste momento, as atenções dos brasileiros estejam direcionadas à Copa do Mundo e não às eleições. Ele acredita que, quando o processo eleitoral esquentar de fato esse percentual de votos brancos/nulos/indecisos diminua.
“Pelo menos no PT, os encontros com a militância têm atingido uma participação maior do que as feitas em anos anteriores”, afirmou, entretanto, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), com a experiência de coordenação de três campanhas municipais para a prefeitura paulistana.
Líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), atribui justamente ao governo a desilusão que os brasileiros vivem em relação à política. “Ninguém gosta de ser enganado. Os brasileiros estão vendo a sucessão de promessas não cumpridas pela presidente Dilma Rousseff e mergulham em uma onda de pessimismo e desilusão”, afirmou.
Por sua vez, o líder do PSB na Câmara e pré-candidato do partido ao Senado, Beto Albuquerque (RS), disse que o alto índice de eleitores desiludidos sinaliza claramente um desejo de renovação do atual modelo que aí está de se fazer política. “As pesquisas mostram que 80% dos brasileiros querem mudança. É preciso ter tempo e um discurso bem elaborado para atrair esse percentual de eleitores desencantados com a política”, analisou Beto.