O PT oficializa neste sábado, em Brasília, a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, mas precisará resolver uma lista de problemas ao longo da campanha, que começa formalmente no início de julho. Líder nas pesquisas, a presidente da República conseguiu estancar a queda e estabilizar-se nos 40%, mas enfrenta uma alta rejeição, o que pode dificultar a disputa em segundo turno. A economia não é tão pujante como era em 2010, quando Dilma se elegeu pela primeira vez. E os aliados, sobretudo nos estados, dão sinais de possíveis traições – o próprio PMDB aprovou a indicação de Michel Temer como vice com um percentual de 59% dos convencionais contra 85% na campanha anterior.
Some-se a isso o fato de o PT estar há 12 anos no poder, o que acarreta uma inevitável fadiga de material. “Mesmo nos estados, são poucos os casos em que um partido manteve o poder por mais de três mandatos. Será, sem dúvida, a nossa eleição mais difícil”, resumiu o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE). Os petistas também precisam remodelar o discurso, pois todas as recentes pesquisas de opinião mostram que mais de 70% dos brasileiros querem mudanças a partir de 2015. “É um desafio para nós. Precisamos reciclar nossa plataforma”, completou.
Na convenção de hoje, caberá ao presidente nacional do partido, Rui Falcão, a missão de fazer um desagravo público a Dilma em relação às vaias direcionadas a ela durante o jogo Brasil e Croácia, na abertura da Copa do Mundo. “Os xingamentos diante de chefes de Estado, de crianças e famílias, deveriam envergonhar quem os proferiu. Infelizmente, tiveram guarida entre adversários que sonharam em tirar proveito eleitoral da falta de educação de uma certa elite. O tiro saiu pela culatra. A presidente vai, sim, colher nas urnas de outubro a apoio popular para um novo mandato”, afirmou Guimarães.
Dilma fica dividida entre o que ela quer e o que o PT deseja – existe um impasse sobre o momento em que ela deve recrudescer ainda mais os ataques à oposição. A presidente já fez a inflexão em direção ao “arrocho salarial e o desemprego provocado pelos governos tucanos”, mas há quem defenda – leia-se o ex-ministro Franklin Martins – que os ataques sejam cada vez mais incisivos. O marqueteiro João Santana é da opinião de que esse acirramento se dê apenas durante a campanha propriamente dita. “Ela tinha adotado uma agenda de ‘faxineira e gestora’ quando a agenda é de desenvolvimento econômico e social. Ficou refém disso e depois teve que se abraçar com os mesmos políticos que tinha execrado. Claro que repercute mal na opinião pública”, disse um dos integrantes da cúpula da campanha petista, explicando a queda na avaliação pessoal da presidente.
Um outro fantasma que assombrava a presidente e, ao que tudo indica, ela conseguiu exorcizar, foi o “Volta, Lula”. Enquanto ela caía nas avaliações positivas, as “viúvas” do ex-presidente torciam para ele entrar em campo. Pessoas próximas a Dilma disseram, então, que ela deu duas tacadas para estancar o movimento: deixou vazar um convite para que Lula integrasse formalmente o comando da campanha e negociou levar ao ar a propaganda do medo, tão criticada pela oposição. “Ela amarrou o Lula na campanha e gastou uma bala de prata (na linguagem popular, a bala especial guardada para matar lobisomens) para evitar a queda nas pesquisas. Arriscou e se deu bem. Resta saber o que usará de munição na campanha”, questionou um integrante de partido aliado.
VERMELHO Outra fissura interna está relacionada à programação visual da campanha. João Santana tem irritado alguns petistas ao privilegiar o verde e amarelo nos eventos. “Não se espantem se isso aumentar. O vermelho causa rejeição. Essa campanha, sobretudo no segundo turno, será um plebiscito antipetista”, destacou um cacique peemedebista. “Na minha terra, uso o vermelho e ganho voto. Essa campanha será do vermelho contra o azul (cor do PSDB). Como sempre foi”, criticou Guimarães.
Existe um consenso interno de que o adversário da presidente em outubro será o tucano Aécio Neves e não o socialista Eduardo Campos. Por várias razões. Aécio teria, na opinião dos petistas, uma estrutura partidária mais consolidada e condições de polarizar melhor o debate. Por isso, o plano é intensificar os debates de legado entre PT e PSDB. “Temos de mostrar que a vida dos brasileiros hoje está melhor do que estava há quatro anos. Por que eles votariam em um partido que deixou a vida deles pior lá atrás?”, questionou um estrategista político da campanha.