Atrás do palco da convenção estadual do PSB em Minas, um banner estampava a foto sorridente do presidenciável Eduardo Campos e sua vice, a ex-senadora Marina Silva. Alegria que se limita ao retrato na parede, pois, na prática, os dois estão cada vez mais distantes de ter palanque próprio no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em evento tumultuado, os socialistas adiaram ontem a decisão sobre os rumos do partido nas próximas eleições e delegaram a escolha à comissão executiva estadual. A manobra tira definitivamente do páreo a candidatura ao governo do estado do ambientalista Apolo Heringer, nome defendido pela Rede Sustentabilidade, de Marina, e fortalece a tese de uma aliança com o PSDB, do candidato a governador Pimenta da Veiga e do presidenciável Aécio Neves.
Os socialistas em Minas têm até o dia 29, data da convenção nacional, para definir a situação da chapa ao governo e Senado, além das coligações para deputados federais e estaduais – até agora, são 45 candidatos a deputado federal inscritos e 50 a deputado estadual. Em jogo, está principalmente a oficialização da candidatura ao Palácio da Liberdade do deputado federal e presidente da legenda em Minas, Júlio Delgado, ou uma aliança com o PSDB, defendida pelo principal nome do PSB no estado, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que passou rapidamente pela convenção. A comissão executiva estadual que decidirá os rumos é formada por 11 pessoas, entre elas Delgado e o presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil.
Antes do início da convenção, Lacerda já havia antecipado a tendência pelo adiamento e destacou a importância da aliança tucana. “Fui eleito duas vezes com o apoio do PSDB na prefeitura. Também participamos da administração no estado”, disse.
Alegando falta de acesso à organização da convenção, Heringer, que havia retirado seu nome à pré-candidatura ao governo do estado no dia anterior, não economizou nas críticas. “Que esperança podemos ter se os partidos estão corroídos pelo oportunismo e pela falta de caráter, visando apenas benefícios materiais?”, disse o médico. Segundo Apolo, a Rede foi alijada de todo o processo. “Lamento que a terceira via no Brasil esteja se afundando. Me sinto vítima de uma farsa dentro dessa convenção e não participaremos desta festa sem princípios políticos”, reforçou.
ACORDO Embora seja pré-candidato, Delgado, que comemorou o adiamento da decisão, não descarta a aliança e até disputar outro cargo. “A confirmação da candidatura própria inviabilizaria algumas coligações proporcionais e majoritárias. Temos responsabilidade com o partido nacionalmente”, disse. “Nada impede que sejamos candidatos numa aliança a senador pelo PSB. Isso garantiria palanque (para Eduardo Campos)? Quem sabe apresentamos o nome do meu pai, Tarcísio Delgado (ex-prefeito de Juiz de Fora)”, completou o deputado federal
Aliado histórico de Aécio, Delgado disse que uma vaga à segunda suplência do Senado junto dos tucanos não interessa aos socialistas. “Não vamos entrar para pegar segunda suplência”, afirmou. Empenhado em aumentar as bancadas do PSB na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, ele destacou na abertura da convenção que alianças em eleições anteriores – todas em parceria com o PSDB – garantiram o crescimento do partido.