Brasília – Após 230 dias preso, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pôde sair da cadeia para trabalhar. O petista deixou o Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), por volta das 7h30 de ontem e, antes das 8h, já havia chegado ao Setor Bancário Sul para dar expediente no escritório de advocacia de José Gerardo Grossi. A efetivação da atividade externa põe fim a quase oito meses de espera pela concessão do benefício.
Vestindo paletó cinza-escuro, calça jeans e camisa azul, sem gravata, Dirceu aparentava estar mais magro do que de costume, além de usar o cabelo um pouco mais curto do que quando foi preso, em 15 de novembro do ano passado. O ex-ministro não conversou com a imprensa, por precisar de autorização judicial para tal, mas, segundo o novo patrão, estava “alegre e bem disposto”. “É natural a excitação de uma pessoa que ficou tanto tempo presa e se vê livre. Você já abriu a porta da gaiola de um passarinho? Quando sai, ele canta”, comparou José Gerardo Grossi.
O expediente de Dirceu será das 8h às 18h, com direito a duas horas de almoço, durante as quais ele poderá se afastar até 100 metros do local de trabalho. “Aqui perto há vários restaurantes. No próprio prédio tem alguns. Às vezes descemos para comer, mas também é possível pedir comida e almoçar aqui no escritório mesmo”, disse Grossi.
Dirceu receberá R$ 2,1 mil mensais e será responsável pela organização da biblioteca do escritório, além da condução de tarefas administrativas. Os dias trabalhados contarão para a remissão da pena de sete anos e 11 meses de prisão, imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no mensalão. Hoje, entretanto, não haverá atividades na empresa porque os funcionários serão liberados para assistir ao jogo Brasil x Colômbia, válido pelas quartas de final da Copa do Mundo.
O traslado entre o CPP e o Setor Bancário foi feito em um utilitário esportivo preto, de propriedade da empresa de Dirceu, a JD Assessoria e Consultoria. O mensaleiro aproveitou a viagem para fazer uma série de ligações ao celular. Segundo Grossi, o ex-ministro chegou ao local acompanhado de uma advogada que trabalha com José Luis Oliveira Lima, responsável pela defesa do petista no STF, e com um homem de nome Simas, “que trabalha sempre com ele (Dirceu)”.
VISITAS Apesar do aparato da JD Assessoria, Grossi garante que o ex-ministro não tocará qualquer atividade paralela durante a estadia. “Aos poucos, ele vai entrando na rotina normal do escritório”, frisou o advogado, acrescentando que a Vara de Execuções Penais (VEP) permitiu que apenas familiares visitem Dirceu durante o expediente. A primeira proposta de emprego recebida pelo ex-ministro, no Hotel Saint-Peter, em Brasília, surgiu após 10 dias do início da pena, ainda no fim do ano passado. Ele receberia um salário de R$ 20 mil. Diante das repercussões negativas, ele desistiu de tentar autorização para trabalhar no setor hoteleiro. Em seguida, veio a proposta de Grossi para Dirceu trabalhar na biblioteca do escritório de advocacia.
OUTROS CONDENADOS Depois de o ex-ministro deixar o CPP, um pouco mais tarde, outros três condenados no mensalão deixaram o local para retomar o trabalho. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares; o ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto e o ex-deputado federal Bispo Rodrigues deixaram a unidade prisional pouco depois das 10h da manhã e seguiram para o trabalho em carros diferentes. Delúbio e Valdemar retornarão às mesmas atividades que já exerciam antes do benefício ser cassado pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF). O primeiro dará expediente na secretaria da CUT, e o segundo em um restaurante.
O Código Penal estabelece que o regime semiaberto é destinado a presos não reincidentes condenados a mais de quatro anos de prisão e menos de oito anos.