Jornal Estado de Minas

Presidenciáveis lutam para conseguir votos nos principais colégios eleitorais do país

Dilma iniciará campanha oficial com palanque fragilizado e baixa aprovação em São Paulo. Na oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos terão de contornar problemas no Rio de Janeiro

Paulo de Tarso Lyra Diego Abreu

Brasília – A conquista da maioria dos votos de 68,2 milhões de eleitores concentrados em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia tem consumido a maior parte dos esforços de estrategistas e candidatos ao Palácio do Planalto no aquecimento para a campanha presidencial.

Os três principais nomes na corrida pelo controle do Executivo contabilizam fragilidades pontuais em ao menos um desses locais. Na campanha petista, o quadro é bem diferente de 2010, quando Dilma Rousseff se elegeu perdendo apenas entre os paulistas, ainda assim, por uma margem pequena de votos. Justamente nesse estado, os problemas ganharam corpo nas últimas semanas.

Diferentemente do que ocorreu há quatro anos, o principal adversário oposicionista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), tem a hegemonia mineira, unificou o PSDB paulista em torno de sua candidatura, uniu as oposições baianas – em uma articulação conjunta com o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) – e angariou o apoio do PMDB fluminense, insatisfeito com o fato de o PT ter lançado o senador Lindbergh Farias para concorrer contra Luiz Fernando Pezão (PMDB).

“O PT não pode errar como errou em São Paulo. Isso é mortal”, disse um estrategista político ligado ao ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD). No plano nacional, os pessedistas estão com Dilma. Mas, em São Paulo, apoiarão Paulo Skaf (PMDB). O PT paulista patina na candidatura de Alexandre Padilha, o que deixa a presidente Dilma Rousseff com um palanque frágil em um estado governado pelos tucanos há 20 anos.
“Além disso, o índice de aprovação dela em São Paulo não chega aos 30%. É muito baixo”, disse o aliado de Kassab.

Tradicionalmente, o PT sempre teve contra si um eleitorado consistente entre os paulistas, sobretudo no interior. “Em São Paulo, estamos enfrentando as mesmas dificuldades de sempre. A nossa rejeição inicial é histórica, mas temos que levar em conta que enfrentamos dois candidatos bastante qualificados –– um deles, nosso aliado”, disse o secretário de organização do PT, Florisvaldo Souza, referindo-se ao peemedebista Paulo Skaf.
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Novos ares
Coordenador nacional da campanha do tucano Aécio Neves (MG), o senador José Agripino Maia (DEM-RN) comemorou a estratégia do mineiro em São Paulo. “Ele trouxe para o seu lado um ex-presidente (Fernando Henrique Cardoso) e dois ex-candidatos ao Planalto (José Serra e Geraldo Alckmin). De quebra, ainda indicou Aloysio Nunes Ferreira, o senador mais bem votado da história da capital, como vice”, disse Agripino.

O senador demista – que chegou a ser cotado para vice caso a vaga coubesse ao DEM – destacou também a mudança de ares no Rio de Janeiro. “Se olhássemos há dois meses, a nossa situação era muito desconfortável, sem palanques fortes no estado. Conseguimos atrair o PMDB, com sua máquina de governo e uma aliança que chega a 18 partidos”, destacou Agripino. Na Bahia, o cenário se repete, com uma aliança envolvendo PSDB, DEM e PMDB. Em 2010, a vitória de Dilma sobre Serra no estado foi acachapante: 62% a 21%. “Não digo que vamos vencer na Bahia. Mas a perspectiva é de que o resultado seja mais apertado”, aposta o coordenador-geral da campanha de Aécio.

Segundo o secretário de organização do PT, a fuga de aliados reflete a polarização nacional. “É natural que, nos estados, as demais legendas busquem caminhos próprios até como uma maneira de se viabilizar eleitoralmente”, apostou Florisvaldo.
Um exemplo disso, segundo atentos observadores políticos, teria acontecido na Bahia, com o desembarque do PTB da chapa petista, capitaneado pelo presidente da sigla, Benito Gama. “Foi uma questão de sobrevivência. Benito é cria do PFL e percebeu que, na Bahia, não é a candidatura presidencial de Dilma que garantirá votos nas eleições proporcionais e, sim, a aproximação com ACM Neto e Aécio Neves”, disse um aliado de Dilma.

Espaço reduzido

Com menos tempo de televisão que seus principais adversários, o candidato do PSB ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos, ainda amarga uma situação pouco confortável: ele também é aquele com menos palanques fortes nos principais colégios eleitorais brasileiros. Em São Paulo e no Rio, por exemplo, ele não terá sequer um candidato a governador filiado ao seu partido.

Na capital paulista, o PSB indicou o vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, o deputado Márcio França. É verdade que Alckmin é favorito à reeleição. Mas, no horário eleitoral para governador, é o número do PSDB (45) que aparece. No Rio, a situação é semelhante. Romário (PSB) é candidato ao Senado na chapa do petista Lindbergh Farias. Pela configuração da propaganda partidária, terças, quintas e sábados são reservados para a propaganda presidencial. As segundas, quartas e sextas-feiras destinam-se à propaganda de governador.

“Durante três dias, Campos não terá seu número (40) veiculado no horário eleitoral”, explicou um estrategista político.

Secretário-geral do PSB e um dos coordenadores políticos da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira acredita que a ausência em dois colégios eleitorais importantes não fará um estrago tão grande na campanha de Eduardo. Ele lembra que, na Bahia, o PSB tem uma candidata competitiva – a senadora Lídice da Mata – e, em Minas, o cenário se repete com o ex-deputado Tarcísio Delgado. “Não acho que estaremos fragilizados. Tarcísio e Lídice têm chances de ajudar na nossa campanha”, disse Siqueira.

O secretário-geral socialista lembra também que, em São Paulo, as disputas são diferentes de qualquer outro canto do país. “O PMDB tinha o vice-presidente na chapa presidencial de Dilma Rousseff e elegeu apenas um deputado federal. Nós elegemos cinco. Imagine agora, oficialmente integrados à chapa de Alckmin e com candidato próprio à Presidência?”, projetou um dos coordenadores da campanha do PSB.

Aberta a temporada de caça aos votos
A campanha para as eleições de 5 de outubro começa oficialmente amanhã, quando os candidatos e partidos estão permitidos a fazer propaganda e pedir votos, mas há limites nesse período de três meses em que os postulantes a cargos eletivos estarão nas ruas e nas telas da tevê. Os chamados showmícios, por exemplo, são vetados pela legislação eleitoral, assim como a distribuição de brindes ao eleitor – prática comum em eleições no Brasil até poucos anos atrás.

Qualquer abuso contra as regras eleitorais poderá resultar em multas e no enquadramento do candidato pelas práticas de compra de votos e abuso de poder econômico e político. Caberá ao Ministério Público fiscalizar e denunciar eventuais irregularidades. Os próprios partidos também poderão representar na Justiça Eleitoral contra adversários.

Daqui a 90 dias, estarão em disputa no primeiro turno das eleições os cargos de presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador, deputado federal e deputado estadual. No caso do Distrito Federal, deputado distrital.

A principal fase da campanha está marcada para começar em 19 de agosto, quando terão início as propagandas gravadas para o horário eleitoral gratuito. Todos os candidatos às eleições majoritárias têm direito a tempo de rádio e tevê. O cálculo é feito com base no tamanho da bancada de cada partido que compõe a coligação. A partir desse período, também serão veiculadas inserções de 15 segundos ao longo da programação das emissoras.

No segundo turno das eleições, previsto para 26 de outubro, que acontecerá onde nenhum candidato ao governo estadual tenha atingido mais de 50% dos votos, a propaganda eleitoral será dividida em dois blocos de tamanhos idênticos. Caso haja segundo turno para a disputa presidencial, a regra será a mesma: divisão igual de tempo de rádio e tevê para os dois postulantes.

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