Jornal Estado de Minas

Partidos e candidatos fazem alianças eleitorais com "adversários"

Com ideologias jogadas para escanteio, legendas selam alianças regionais com adversários no plano nacional e ainda fazem vista grossa a filiados que contrariam decisões oficiais

Juliana Cipriani
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Dilma está fechada com o PMDB, que em alguns estados apoia Aécio e Campos, que tem o PSB, que também se aliou ao PSDB de Aécio, que selou aliança com o PTB, que não abandonou totalmente Dilma, que por sua vez tem o apoio do PP, que também está com Aécio. Na ciranda da política partidária brasileira vale tudo. A campanha eleitoral mal começou e as infidelidades das legendas se multiplicam na mesma velocidade em que são fechadas as alianças. Nas direções dos partidos poucos parecem preocupados em punir os dissidentes. As traições estão em partidos que oficialmente apoiam os três principais candidatos ao Palácio do Planalto: a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB).


Um dos maiores exemplos de divisão é o PMDB da base da presidente Dilma, que aprovou com placar apertado na convenção nacional a continuidade da aliança. A decisão, porém, não valeu para o PMDB gaúcho, que, na base política da petista, selou a união com o PSB de Eduardo Campos ao lançar a candidatura de Ivo Sartori (PMDB) ao governo – os socialistas ficaram com a vaga para disputar o Senado. No Mato Grosso do Sul, o PSB apoia, com a vaga de vice, a candidatura ao governo do peemedebista Nelson Trad Filho, que, por sua vez, fará campanha para Eduardo Campos.

Há ainda os rebeldes no Congresso, como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE), que também fecharam apoio ao socialista.

Dilma também perdeu terreno para o tucano Aécio Neves, que, no Rio de Janeiro, vai concorrer contando com o movimento Aezão, dos peemedebistas que apoiam a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e também o tucano para a Presidência da República. Na Bahia, Aécio também conseguiu fechar aliança com o PMDB, que disputa com Paulo Souto (DEM) na cabeça da chapa e um tucano na vice.

Outra legenda que decidiu apoiar a reeleição de Dilma, o PP, também se viu rachada. A ala que tem o governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, tentou anular a convenção e, mesmo sem sucesso, vai fazer campanha para Aécio. O PDT, que nacionalmente fechou apoio à reeleição de Dilma, fica com Aécio em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral e base do tucano. O PTB, porém, que em sua convenção nacional formalizou aliança com o senador mineiro, também já tem um racha em sua bancada no Congresso que, contrariando o partido, decidiu ficar com Dilma.

Até mesmo no PSB de Eduardo Campos há defecções. Em São Paulo, por exemplo, a legenda se uniu ao PSDB pela reeleição do governador Geraldo Alckmin. Em Minas, os socialistas tentaram fazer o mesmo – apoiando o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga (PSDB) –, mas, enquadrados pela direção nacional, acabaram decidindo lançar o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado. Revoltados, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, e os deputados estaduais do PSB decidiram fazer campanha para Pimenta assim mesmo.

Para o cientista político Rudá Ricci, as infidelidades partidárias no Brasil são cada vez mais comuns por causa da fragilidade das legendas e ao mesmo tempo do desligamento dos eleitores com as questões partidárias. Enquanto nos partidos há uma cultura de que os “donos” decidem os candidatos sem preocupação com o interesse popular, entre os eleitores há o padrão de votar em quem é mais carismático, ou seja, quem parece trazer para eles um benefício mais concreto. “Os integrantes dos partidos muitas vezes fazem dissidências para entrar na fila dos cargos, não tem a ver com ideologia.
Esse é o jogo no Brasil, no qual os eleitores não têm a menor capacidade de influir”, explicou.

Traições em série


Os partidos dos três principais candidatos ao governo em Minas também contabilizam baixas e adesões e, pelo menos por enquanto, para a maioria vale a política do “chifre trocado não dói”. O PSB, depois de anunciar a candidatura de Tarcísio Delgado ao governo, é o que mais teve traições anunciadas publicamente. Além da bancada estadual, que pediu para apoiar o tucano Pimenta da Veiga, o prefeito Marcio Lacerda e o recém-filiado Alexandre Kalil, presidente do Atlético, chamaram a imprensa para dizer que são dissidentes.


O presidente do PSB mineiro, deputado federal Júlio Delgado, até agora não fala em punição. Disse que vai esperar a campanha começar para ver qual será o comportamento dos filiados, que ainda espera ter de volta no projeto do partido. “Vamos continuar a caminhada e quem sabe o nosso nome colocado empolgue a população e eles voltam para o nosso lado”, afirmou. Para Delgado, a dissidência “não incomoda” e já era esperada, pois o grupo rebelde votou contra a candidatura própria na convenção. O PSB, por sua vez, garante que também receberá apoio de insatisfeitos de outros partidos, como o PMDB.

No PSDB também não se fala em punição, mas, para o presidente da legenda, deputado federal Marcus Pestana, não haverá traição. Ao contrário, ele afirma que o candidato do partido tem recebido, além do PSB, apoio de prefeitos do PMDB. “A infidelidade tem que ser a coisa mais secreta do mundo, aí a gente não mapeia. Mas sempre temos grande parte dos prefeitos e vereadores do PMDB e a simpatia do PSB ao nosso projeto.
Lá (PSB), quem tem mais votos está conosco”, afirmou.

O PT também não revela quem são os “amantes”, pois acredita que cabe aos infiéis se revelarem, mas contabiliza adesões do PP, PSB, PSD e até no PSDB. “Do PT não temos notícia, pelo contrário, a informação é que 100% estão antenados com nossos movimentos. Se tiver infidelidade vamos expulsar”, afirma o presidente do partido, deputado federal Odair Cunha..