Um dos maiores exemplos de divisão é o PMDB da base da presidente Dilma, que aprovou com placar apertado na convenção nacional a continuidade da aliança. A decisão, porém, não valeu para o PMDB gaúcho, que, na base política da petista, selou a união com o PSB de Eduardo Campos ao lançar a candidatura de Ivo Sartori (PMDB) ao governo – os socialistas ficaram com a vaga para disputar o Senado. No Mato Grosso do Sul, o PSB apoia, com a vaga de vice, a candidatura ao governo do peemedebista Nelson Trad Filho, que, por sua vez, fará campanha para Eduardo Campos.
Dilma também perdeu terreno para o tucano Aécio Neves, que, no Rio de Janeiro, vai concorrer contando com o movimento Aezão, dos peemedebistas que apoiam a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e também o tucano para a Presidência da República. Na Bahia, Aécio também conseguiu fechar aliança com o PMDB, que disputa com Paulo Souto (DEM) na cabeça da chapa e um tucano na vice.
Outra legenda que decidiu apoiar a reeleição de Dilma, o PP, também se viu rachada. A ala que tem o governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, tentou anular a convenção e, mesmo sem sucesso, vai fazer campanha para Aécio. O PDT, que nacionalmente fechou apoio à reeleição de Dilma, fica com Aécio em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral e base do tucano. O PTB, porém, que em sua convenção nacional formalizou aliança com o senador mineiro, também já tem um racha em sua bancada no Congresso que, contrariando o partido, decidiu ficar com Dilma.
Até mesmo no PSB de Eduardo Campos há defecções. Em São Paulo, por exemplo, a legenda se uniu ao PSDB pela reeleição do governador Geraldo Alckmin. Em Minas, os socialistas tentaram fazer o mesmo – apoiando o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga (PSDB) –, mas, enquadrados pela direção nacional, acabaram decidindo lançar o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado. Revoltados, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, e os deputados estaduais do PSB decidiram fazer campanha para Pimenta assim mesmo.
Para o cientista político Rudá Ricci, as infidelidades partidárias no Brasil são cada vez mais comuns por causa da fragilidade das legendas e ao mesmo tempo do desligamento dos eleitores com as questões partidárias. Enquanto nos partidos há uma cultura de que os “donos” decidem os candidatos sem preocupação com o interesse popular, entre os eleitores há o padrão de votar em quem é mais carismático, ou seja, quem parece trazer para eles um benefício mais concreto. “Os integrantes dos partidos muitas vezes fazem dissidências para entrar na fila dos cargos, não tem a ver com ideologia.
Traições em série
Os partidos dos três principais candidatos ao governo em Minas também contabilizam baixas e adesões e, pelo menos por enquanto, para a maioria vale a política do “chifre trocado não dói”. O PSB, depois de anunciar a candidatura de Tarcísio Delgado ao governo, é o que mais teve traições anunciadas publicamente. Além da bancada estadual, que pediu para apoiar o tucano Pimenta da Veiga, o prefeito Marcio Lacerda e o recém-filiado Alexandre Kalil, presidente do Atlético, chamaram a imprensa para dizer que são dissidentes.
O presidente do PSB mineiro, deputado federal Júlio Delgado, até agora não fala em punição. Disse que vai esperar a campanha começar para ver qual será o comportamento dos filiados, que ainda espera ter de volta no projeto do partido. “Vamos continuar a caminhada e quem sabe o nosso nome colocado empolgue a população e eles voltam para o nosso lado”, afirmou. Para Delgado, a dissidência “não incomoda” e já era esperada, pois o grupo rebelde votou contra a candidatura própria na convenção. O PSB, por sua vez, garante que também receberá apoio de insatisfeitos de outros partidos, como o PMDB.
No PSDB também não se fala em punição, mas, para o presidente da legenda, deputado federal Marcus Pestana, não haverá traição. Ao contrário, ele afirma que o candidato do partido tem recebido, além do PSB, apoio de prefeitos do PMDB. “A infidelidade tem que ser a coisa mais secreta do mundo, aí a gente não mapeia. Mas sempre temos grande parte dos prefeitos e vereadores do PMDB e a simpatia do PSB ao nosso projeto.
O PT também não revela quem são os “amantes”, pois acredita que cabe aos infiéis se revelarem, mas contabiliza adesões do PP, PSB, PSD e até no PSDB. “Do PT não temos notícia, pelo contrário, a informação é que 100% estão antenados com nossos movimentos. Se tiver infidelidade vamos expulsar”, afirma o presidente do partido, deputado federal Odair Cunha..