Com o fim da Copa do Mundo e faltando pouco mais de 80 dias para o primeiro turno das eleições presidenciais, oposição e governo avaliam que o debate sobre a reformulação do futebol brasileiro após a traumática derrota para a Alemanha vai se esfarelar aos poucos. Os oposicionistas defendem que deve ganhar corpo a discussão em torno de questões práticas que impactam a vida do brasileiro, a exemplo dos problemas de mobilidade urbana, que não foram resolvidos com o Mundial. Nos bastidores, a avaliação governista é de que “o assunto futebol”, no momento, favorece a presidente Dilma Rousseff porque, à medida que se tenta responsabilizar o governo pelo péssimo resultado dentro de campo, cola em seus adversários a imagem de oportunismo eleitoral. Na manhã de ontem, em pouco mais de 30 minutos a presidente fez 10 postagens sobre o tema na sua conta oficial em um microblog.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassay (BA), declarou que uma ampla reforma no futebol brasileiro é importante, mas o tema deve se diluir ao longo da campanha. “Claro que o futebol é importante, mas o que devemos debater é o legado. Aquilo que foi prometido pelo governo e não foi consagrado. Acaba a Copa e o brasileiro continua com os mesmo problemas”, afirmou. Para ele, não há como fugir desse debate.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), procurou minimizar o peso da palavra “intervenção”, usada pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que defendeu, a partir da mão do governo federal, modificação na estrutura do futebol brasileiro. Para o petista, o tema não vai dominar o centro da campanha eleitoral. “É possível que algumas preocupações que existem há algum tempo comecem a ser resolvidas. Mas esse tema não ocupará o centro da campanha. O debate é movido por este momento que vivemos. É bastante natural”, afirmou.
O senador fez a leitura de que a oposição está tentando, mesmo que de maneira indireta, responsabilizar a presidente pelo fracasso da Seleção Brasileira. “A oposição está puxando a linha para jogar o resultado inesperado no colo de Dilma. Isso é ridículo”, afirmou. “Ninguém está falando em intervenção. O ministro não quis dizer neste sentido, de que vai tirar a diretoria da CBF, por exemplo”, amenizou.
EMBATE EM REDE SOCIAL
Na manhã de ontem, Dilma, usou sua conta oficial num microblog para manter o debate acesso sobre a necessidade de uma reformulação no futebol brasileiro. Confirmou a tese dos aliados de que, neste momento, o tema faz bem à sua candidatura. Sem mencionar o nome do senador Aécio Neves, principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto, respondeu ao tucano. Na sexta-feira, após a declaração de Aldo Rebelo, Aécio afirmou que o país não precisava de uma “Futebras”.
“Os que queriam transformar a Petrobras em Petrobrax desvirtuam, agora, nossa posição de apoiar a renovação do nosso futebol”, postou a presidente. Em seguida, reforçou a necessidade de segurar os craques no país. “O Brasil não quer criar a Futebras. Quer, sim, acabar com a Futebrax e deixar de ser um mero exportador de talentos.” Disse em seguida, que “o governo não quer comandar o futebol, pois ele não pode nem deve ser estatal. Queremos ajudar a modernizá-lo”.
A petista defendeu ainda que a gestão do esporte deve ser melhorada. “O futebol, que é atividade privada, precisa ter as melhores práticas da gestão privada, nas áreas comercial, financeira e futebolística.” Dilma finalizou a série de postagens ressaltando o legado da Copa do Mundo. “Temos um imenso talento e amor pelo futebol. Temos, agora, os melhores estádios. Com renovação, teremos sempre o melhor futebol do mundo.”
Em resposta à adversária, Aécio ironizou as declarações da presidente por meio de sua página no Facebook. Segundo ele, a notícia de que o governo não pretende criar uma estatal para cuidar do futebol é boa para os cofres públicos, mas não para os “companheiros” de Dilma. “A presidente nos informou hoje (ontem), pelo Twitter, que não vai criar a ‘Futebras’. Talvez isso entristeça alguns de seus companheiros, mas traz enorme alívio para milhões de brasileiros. Afinal, seria a 14ª estatal criada pelo governo do PT, a sétima só no seu governo. Os cofres públicos agradecem!”, ironizou Aécio. .