Jornal Estado de Minas

Temas ligados à Copa do Mundo devem permanecer no debate eleitoral

Mesmo que a derrota humilhante da Seleção Brasileira perca relevância nos próximos 80 dias, temas ligados ao Mundial, como mobilidade urbana, devem continuar em pauta até as eleições

João Valadares
Dilma com Joseph Blatter, da Fifa, e José Maria Marin, da CBF: presidente ontem fez 10 postagens em rede social em pouco mais de 30 minutos - Foto: Christophe Simon/AFP


Com o fim da Copa do Mundo e faltando pouco mais de 80 dias para o primeiro turno das eleições presidenciais, oposição e governo avaliam que o debate sobre a reformulação do futebol brasileiro após a traumática derrota para a Alemanha vai se esfarelar aos poucos. Os oposicionistas defendem que deve ganhar corpo a discussão em torno de questões práticas que impactam a vida do brasileiro, a exemplo dos problemas de mobilidade urbana, que não foram resolvidos com o Mundial. Nos bastidores, a avaliação governista é de que “o assunto futebol”, no momento, favorece a presidente Dilma Rousseff porque, à medida que se tenta responsabilizar o governo pelo péssimo resultado dentro de campo, cola em seus adversários a imagem de oportunismo eleitoral. Na manhã de ontem, em pouco mais de 30 minutos a presidente fez 10 postagens sobre o tema na sua conta oficial em um microblog.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassay (BA), declarou que uma ampla reforma no futebol brasileiro é importante, mas o tema deve se diluir ao longo da campanha. “Claro que o futebol é importante, mas o que devemos debater é o legado. Aquilo que foi prometido pelo governo e não foi consagrado. Acaba a Copa e o brasileiro continua com os mesmo problemas”, afirmou. Para ele, não há como fugir desse debate.
“É só compararmos com outros países que tiveram eventos desse nível. O Brasil deixou muito a desejar. Do ponto de vista da imagem do país, das belezas, do caráter da nossa gente a Copa foi fantástica. Do ponto de vista do legado, de aproveitar o Mundial para construções duradouras, foi um fracasso total”, avaliou.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), procurou minimizar o peso da palavra “intervenção”, usada pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que defendeu, a partir da mão do governo federal, modificação na estrutura do futebol brasileiro. Para o petista, o tema não vai dominar o centro da campanha eleitoral. “É possível que algumas preocupações que existem há algum tempo comecem a ser resolvidas. Mas esse tema não ocupará o centro da campanha. O debate é movido por este momento que vivemos. É bastante natural”, afirmou.

O senador fez a leitura de que a oposição está tentando, mesmo que de maneira indireta, responsabilizar a presidente pelo fracasso da Seleção Brasileira. “A oposição está puxando a linha para jogar o resultado inesperado no colo de Dilma. Isso é ridículo”, afirmou. “Ninguém está falando em intervenção. O ministro não quis dizer neste sentido, de que vai tirar a diretoria da CBF, por exemplo”, amenizou.
Imbassay ressaltou que a própria presidente tentou tirar proveito político do desempenho da Seleção dentro das quatro linhas. “E outra: Aécio Neves não criticou Dilma pela derrota brasileira. Isso nunca existiu”, salientou.

EMBATE EM REDE SOCIAL

Na manhã de ontem, Dilma, usou sua conta oficial num microblog para manter o debate acesso sobre a necessidade de uma reformulação no futebol brasileiro. Confirmou a tese dos aliados de que, neste momento, o tema faz bem à sua candidatura. Sem mencionar o nome do senador Aécio Neves, principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto, respondeu ao tucano. Na sexta-feira, após a declaração de Aldo Rebelo, Aécio afirmou que o país não precisava de uma “Futebras”.

“Os que queriam transformar a Petrobras em Petrobrax desvirtuam, agora, nossa posição de apoiar a renovação do nosso futebol”, postou a presidente. Em seguida, reforçou a necessidade de segurar os craques no país. “O Brasil não quer criar a Futebras. Quer, sim, acabar com a Futebrax e deixar de ser um mero exportador de talentos.” Disse em seguida, que “o governo não quer comandar o futebol, pois ele não pode nem deve ser estatal. Queremos ajudar a modernizá-lo”.
Quando a presidente fala em Petrobrax, se refere a um processo iniciado no governo Fernando Henrique Cardoso para mudar o nome da estatal brasileira de petróleo.

A petista defendeu ainda que a gestão do esporte deve ser melhorada. “O futebol, que é atividade privada, precisa ter as melhores práticas da gestão privada, nas áreas comercial, financeira e futebolística.” Dilma finalizou a série de postagens ressaltando o legado da Copa do Mundo. “Temos um imenso talento e amor pelo futebol. Temos, agora, os melhores estádios. Com renovação, teremos sempre o melhor futebol do mundo.”

Em resposta à adversária, Aécio ironizou as declarações da presidente por meio de sua página no Facebook. Segundo ele, a notícia de que o governo não pretende criar uma estatal para cuidar do futebol é boa para os cofres públicos, mas não para os “companheiros” de Dilma. “A presidente nos informou hoje (ontem), pelo Twitter, que não vai criar a ‘Futebras’. Talvez isso entristeça alguns de seus companheiros, mas traz enorme alívio para milhões de brasileiros. Afinal, seria a 14ª estatal criada pelo governo do PT, a sétima só no seu governo. Os cofres públicos agradecem!”, ironizou Aécio. .