De quatro em quatro anos, novo pedido de votos, atualização de retratos para material de campanha e articulação para conseguir o maior número possível de cabos eleitorais. Um grupo de deputados estaduais e federais de Minas Gerais cumpre essa rotina há duas, três décadas, e vem garantindo vaga na Câmara ou na Assembleia. Graças à confiança do eleitor – e às vezes à ajuda de aliados políticos –, acumulam mais tempo como parlamentares do que exercendo as profissões que anunciam em seus currículos.
O campeão de mandatos de deputado em Minas Gerais é Bonifácio Andrada (PSDB). Ocupou cadeira na Câmara por nove vezes. Aos 84 anos, tentará novamente vaga na Casa na disputa deste ano. Na última eleição, em 2010, ficou como suplente, e só se manteve em Brasília depois que o governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) convocou deputados eleitos para assumir secretarias estaduais. “Tive uma votação muito expressiva em 2006 e na disputa seguinte não trabalhei muito. Perdi quase 40 mil votos”, justifica Andrada.
O deputado diz que fazer campanha atualmente é muito mais difícil. “O que domina hoje são os meios de comunicação. Antes era o corpo a corpo.” O parlamentar afirma ainda que a coexistência entre integrantes dos partidos hoje é mais complicada. “No passado, as legendas tinham uma programação que deveria ser seguida por seus filiados. Hoje, os programas das siglas são escritos, mas ninguém respeita. São os candidatos que agora mandam nos partidos”, afirma. Andrada, que venceu a primeira eleição aos 24 anos, para vereador em Barbacena, sua terra natal, afirma não ser possível fazer um balanço sobre se vale ou não a pena o tempo que acumula na vida pública. “A questão é se há ou não vocação.”
O segundo colocado entre os parlamentares com mais mandatos em Minas é Lael Varella (DEM), com sete vitórias em disputas por vagas na Câmara dos Deputados. A conta, porém, não vai aumentar, pelo menos por enquanto. Aos 75 anos, Varella, empresário do setor automotivo com base eleitoral na Zona da Mata, é o segundo suplente do candidato do PSDB ao senado, Antonio Augusto Anastasia. Outro deputado federal do DEM que não deverá concorrer à reeleição é Carlos Melles, ruralista com cinco mandatos na Câmara. O motivo, porém, é outro. O parlamentar teve o pedido de registro de candidatura impugnado. O deputado foi enquadrado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) na Lei da Ficha Limpa por abuso de poder econômico e político.
Na Assembleia Legislativa, o deputado com mais mandatos é Antônio Genaro (PSC), pastor evangélico de 71 anos, com sete vitórias em eleições para a Casa. O parlamentar não vai se candidatar em 2014. A segunda posição é de Dilzon Mello (PTB), outro empresário do setor agrícola, com seis, e nova disputa à vista. O deputado também avalia as campanhas atuais como mais complicadas que as de antigamente. “A gente ia de porta em porta. Era na sola do sapato. O relacionamento era mais pessoal. Havia mais identidade entre os candidatos e o eleitor”, avalia.
Sobre as compensações de estar há tanto tempo como deputado estadual, Dilzon afirma que o cargo pode ajudar a vida das pessoas. “É um posto que abre portas. Você consegue ajudar quem precisa. Faço isso, mas desde que fique no zero a zero. Não tiro dinheiro da família nem meu para isso”, diz o parlamentar, que tem base eleitoral no Sul de Minas.