Brasília – O Tribunal de Contas da União decidiu nessa quarta-feira atribuir ao segundo escalão da Petrobras os prejuízos causados pela compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), entre 2006 e 2012. Para os ministros, a empresa brasileira sofreu um prejuízo de US$ 792,3 milhões durante a operação de compra das instalações da multinacional Astra Oil. De forma unânime, o TCU aprovou o voto do relator, José Jorge, que isentou de responsabilidade o Conselho de Administração da empresa. Na época, o colegiado era chefiado pela atual presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT).
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, os ex-diretores Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa e outros dirigentes da empresa terão os bens bloqueados. A estimativa do próprio relator José Jorge é de que a Tomada de Contas Especial aberta para dar continuidade às investigações esteja concluída em cerca de 90 dias.
A decisão e o rol de responsáveis pelo prejuízo podem mudar ao longo da investigação. Durante a votação, o ministro André Luís de Carvalho antecipou que votará pela inclusão de Dilma entre os responsáveis. “Eu sou pela inclusão do Conselho de Administração.
Além de Gabrielli, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, o TCU também está acusando dirigentes que permanecem na empresa, como o diretor Almir Barbassa. Eles terão prazo de 15 dias para se pronunciar e apresentar novas evidências ao Tribunal de Contas da União. Apenas o ministro Benjamin Zymler discordou da estimativa de prejuízos apresentada. Ele chegou a pedir vista do processo, mas recuou em seguida.
Durante o voto, que durou quase duas horas, o relator José Jorge atribuiu a maior parte do prejuízo na compra de Pasadena ao fato de a Diretoria Executiva ter feito a oferta de compra com base em um Estudo de Viabilidade (EVTE) da Petrobras, que teria superestimado o preço da refinaria. Enquanto a avaliação de uma empresa do ramo contratada pela Petrobras trabalhava com o valor de US$ 186 milhões, o estudo da estatal avaliou a planta em US$ 745 milhões, já levando em conta os possíveis rendimentos de Pasadena após reformas e ampliações, a serem bancadas pela estatal.
À época, o EVTE foi avalisado pelo ex-diretor Nestor Cerveró. “O estudo produzido pela Petrobras não merece ser considerado apenas falho ou inconsistente. (...) (ele) foi elaborado com a clara intenção de majorar a estimativa de preços da Refinaria”, diz um trecho do voto. “Desde os primeiros momentos da operação de compra e venda da Refinaria, parece-me claro, compradora e vendedora atuaram alinhadas buscando objetivo comum”, escreveu o relator, apontando indícios de conluio na operação.
Críticas
A oposição avaliou que o resultado já era esperado. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou, em clima de disputa eleitoral, que, no Brasil, a prática é transferir responsabilidades para os coadjuvantes e poupar os verdadeiros culpados. “Isso vem na esteira do que se estabeleceu nos últimos anos no Brasil.
Investigação arquivada
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou o arquivamento da investigação sobre supostas irregularidades na aprovação da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006, por parte do Conselho de Administração da Petrobras e da presidente Dilma Rousseff, que presidia o colegiado à época. A representação é de março e de autoria dos senadores Randolfe Rodrigues (Psol-AP), Cristovam Buarque (PDT-DF), Ana Amélia (PP-RS), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). De acordo com o parecer de Janot, “ainda que se esteja diante de uma avença mal-sucedida e que importou, aparentemente, em prejuízos à companhia, não é possível imputar o cometimento de delito de nenhuma espécie aos membros do Conselho de Administração”.