Brasília – Primeira eleição depois de a população lotar as ruas do país em junho do ano passado e cobrar mudanças da classe política, a disputa que chega às urnas em outubro une os candidatos quando o assunto é a tentativa de construir um perfil de político que ganhe a simpatia dos manifestantes. Para atrair esse público, os três principais candidatos à Presidência – a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) – prometem garantir a participação popular em seus governos.
É o que mostram nas três diretrizes de governo apresentadas à Justiça Eleitoral, com discurso comum de reforçar a participação popular. Os três destacam que os programas finais de governo das candidaturas vão ser construídos em conjunto com a sociedade. A nuvem de palavras feita pelo Estado de Minas com a união dos três textos mostra em destaque os termos “desenvolvimento”, “políticas”, “sociais”, “participação”.
Direta ou indiretamente, Dilma, Aécio e Eduardo lembraram as manifestações de junho e tentam se mostrar atentos às reclamações da população. Na prática, no entanto, eles vão ter de se esforçar para que esse eleitor, que colocou os políticos na mira, acreditem que as promessas – muitas vezes contraditórias aos históricos dos concorrentes – são mais que um discurso decorado para lhe agradar.
Ao lado de Marina Silva, Eduardo Campos reforça no texto entregue à Justiça eleitoral que a união entre os dois é uma “aliança programática”, e não uma “pragmática”. A ideia, repetida em entrevistas, é se diferenciar das “velhas raposas políticas”, alvejadas pela população em junho de 2013, que, segundo ele, fazem alianças apenas para garantir minutos na televisão. Em seu governo em Pernambuco, no entanto, Eduardo fez uma ampla aliança com partidos, quase não teve oposição e recebeu apoio de políticos geralmente tachados como representantes da “velha política”, caso de Inocêncio de Oliveira e Severino Cavalcanti.
CACIQUES Sobre o assunto, Eduardo costuma dizer que a diferença é que esses políticos não tiveram importância na sua gestão, ao contrário, segundo ele, do peso de caciques como o senador José Sarney (PMDB) no governo petista. Secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira diz que as manifestações de junho são “objeto de preocupação” da campanha e tenta vincular o partido às demandas da população.
Já a presidente Dilma quer mostrar que, embora no governo há 12 anos, o PT ainda tem potencial de levar novidades à população. Ao público que protestou, o programa tenta passar a ideia de que as reivindicações são consequência de uma mudança já feita pela legenda. “Para os cidadãos brasileiros, o necessário para o futuro mudou porque o patamar de exigências passou a ser outro: não querem mais o mínimo necessário para viver, mas o máximo possível para que mantenham o seu poder de consumo e possam acenar para seus filhos com vidas melhores que as deles.”
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) diz que a “agenda de junho de 2013” vai pautar a campanha. “Aqueles governantes que foram ao encontro dos clamores das ruas vão ter melhores resultados do que aqueles que não ouviram as reclamações”, disse, destacando que o PT reagiu aos pedidos. A presidente Dilma, na época, lançou cinco pactos com a população, como uma reforma política, mas não conseguiu tirar do papel parte deles.
O senador Aécio Neves reuniu as reivindicações da população em um pacote de cinco reformas: dos serviços públicos; da segurança pública; política; tributária; e da infraestrutura nacional. Quando fala em reforma política, costuma se posicionar contra a reeleição. Mas terá de convencer o eleitor de que realmente vai levar a iniciativa à frente, uma vez que a possibilidade de reeleição foi aprovada pelo Congresso durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, com a vitória no Poder Legislativo, conquistou mais quatro anos de gestão.
Coordenador-geral da campanha de Aécio, o senador José Agripino Maia (DEM-RN) avalia que o respeito às manifestações de junho vai ser fator importante nas eleições. Ele avalia que quem estava em cargo eletivo na época e não reagiu aos protestos terá dificuldade para convencer o eleitor. “Aquele político que estava no poder e não mudou vai ser visto como insincero (ao prometer mudanças). Por que não fez antes e propõe apenas na eleição?”, questiona.
SEM AGENDAOs três principais candidatos na disputa pelo Palácio do Planalto evitaram as ruas no domingo. A presidente Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) não tiveram compromissos oficiais. O senador Aécio Neves (PSDB-SP) também não teve agenda pública de candidato, mas aproveitou o dia para fazer filmagens que serão usadas na propaganda eleitoral. Embora não tenha saído às ruas, a campanha da presidente Dilma seguiu firme na internet, com uma série de publicações sobre os avanços do país nos últimos anos. Já Eduardo Campos usou a rede para lamentar a ausência na Missa do Vaqueiro, em Serrita (PE)..