Jornal Estado de Minas

Há 30 anos candidatos ao governo de Minas repetem discursos

Corrida pelo governo de Minas reedita práticas e temas em pauta desde a disputa de 1982, a primeira do processo de redemocratização. Na lista, metrô, dívida do estado e mineração

Marcelo da Fonseca- enviado especial
Ex-ministro dos Transportes, Eliseu Resende afirmava que essa experiência facilitaria o atendimento às demandas de Minas no governo federal: acabou derrotado nas urnas - Foto: Arquivo estado de Minas - 10/08/82

“Na minha administração, o metrô será prioridade. Um transporte rápido e barato para a população da capital”, garantiu o candidato ao governo de Minas. “A dívida de Minas alcançou um valor calamitoso, comprometendo as finanças do estado. É inexplicável que a administração deixasse chegar a essa situação”, discursou o outro candidato. As palavras acima, muito parecidas com o que tem sido dito pelos atuais candidatos ao Palácio Tiradentes, são propostas feitas há mais de três décadas. Na primeira disputa eleitoral pelo governo de Minas durante o processo de redemocratização – ainda nos últimos anos da ditadura militar –, os candidatos Tancredo Neves (PMDB) e Eliseu Resende (PDS) apontavam temas que até hoje estão na lista de promessas dos que pretendem assumir o governo a partir do ano que vem.


Além da ampliação do metrô de Belo Horizonte e da negociação da dívida de Minas, em 1982, os candidatos prometiam também maiores investimentos na educação, com salários mais dignos para os professores, e a presença dos alunos por um tempo maior nas salas de aula, políticas de regionalização administrativa no estado para garantir que cada região se voltasse para suas peculiaridades e o compromisso de trabalhar para que os municípios mineiros arrecadassem mais com a exploração do minério. “Temos uma riqueza natural que vale muito, e Minas precisa ganhar mais com essa atividade”, disse Eliseu, ao discursar em Itabira.

Hoje, as regras da mineração continuam as mesmas definidas em 1967, e o Congresso não tem perspectiva de aprovar o novo código para o setor neste ano.

Tancredo defendia mudança na condução da política e a conclusão de obras de mobilidade: venceu, mas deixou o governo para concorrer à Presidência - Foto: Arquivo Estado de Minas - 19/9/82

As semelhanças entre a campanha eleitoral em andamento e a de 1982 não param nas promessas dos candidatos. Assim como agora, quando partidos e políticos aumentam a movimentação após uma grande decepção nacional no futebol com o fracasso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, há 32 anos uma outra derrota foi parar nos palanques. Em 5 de julho, dias antes do início oficial da campanha, a Seleção de Telê Santana, que encantava torcidas no Mundial da Espanha, foi derrotada pela Itália, no episódio que ficou conhecido como Tragédia do Sarriá, em referência ao estádio onde ocorreu a eliminação brasileira. Dois dias depois, Tancredo falava sobre o impacto da derrota nas eleições. “A derrota da Seleção faz com que a eleição ganhe intensidade e recrudescimento”, previu.

A corrida pelo voto dos 6,8 milhões de eleitores mineiros – menos da metade dos mais de 15 milhões que votarão neste ano – também foi levada pelos partidos aos tribunais naquele ano. Ainda no fim do primeiro mês de campanha, o PMDB questionou, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), uma propaganda de Eliseu Resende veiculada no rádio e televisão, que teria sido feita antes do prazo autorizado pela legislação. O PDS também tentou na Justiça barrar atos de campanha de Tancredo Neves. Nenhuma das tentativas resultou em punição aos candidatos.

MOBILIDADE  As propostas sobre a mobilidade deram o tom da campanha eleitoral que marcou o retorno da democracia em Minas Gerais. Apoiado pelo então presidente João Baptista Figueiredo, último general no comando do país no período militar, Eliseu se apresentou como homem capaz de entregar aos mineiros as principais obras reivindicadas pelo estado. “Como ministro dos Transportes (entre 1979 e 1982) sei o caminho e as demandas para fazer as obras necessárias em Minas Gerais. Vamos transformar o estado em um canteiro de obras”, garantiu ele durante inauguração do viaduto da Mutuca, na BR-040, ao lado de Figueiredo.

Tancredo criticou as promessas do ex-ministro, afirmando que o partido de seu adversário estava no poder desde 1964 e pouca coisa tinha sido feita até então.
Ele criticava a falta de diálogo entre os governantes, apoiados pelo regime militar, e a população. “Antes de pensar em novas obras, Minas precisa terminar o que começou. Meu governo terá um Palácio diferente desse dos últimos 12 anos, transformado em residência dos representantes da ditadura”, afirmou o senador.

Por sua vez, Tancredo tinha que enfrentar a afirmação dos adversários de que, se eleito em 1982, não concluiria seu mandato, uma vez que teria interesse em disputar as eleições presidenciais de 1985, que já começavam a ser planejadas. Eleito, ele deixou o Palácio da Liberdade dois anos depois para tentar – e vencer – a corrida para presidente, decidida indiretamente em colégio eleitoral do Congresso.

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