Três militares que atuaram durante a ditadura militar foram ouvidos nessa terça-feira na Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Rio de Janeiro, e se recusaram a dar qualquer informação sobre importantes episódios do período, como o atentado do Riocentro e a Guerrilha no Araguaia. Apesar do silêncio, eles pediram que a imprensa fosse retirada do local. O primeiro a ser ouvido, o general aposentado Nilton Cerqueira, considerou “absurda” a investigação dos casos passados 30 anos dos dois episódios. Ao todo, estavam previstos para ontem os depoimentos de oito pessoas, de um total de 21 que estão sendo ouvidas desde o início da semana. Em denúncia do Ministério Público, Cerqueira é acusado de homicídio doloso, atentado qualificado por motivo torpe, por não dar direito de defesa às vítimas, e por uso de explosivos.
Paiva
Os militares e irmãos capitães Jacy e Jurandir Ochsendorf seguiram na mesma linha de Cerqueira e optaram também pelo silêncio, sob orientação de seu advogado, Rodrigo Roca, que defende os três ex-agentes. “O silêncio é orientação minha. Não é desrespeito, não é desprestígio nem desprezo pela comissão. Isso é para evitar o açodamento de alguns, que acabam induzindo a Comissão ao erro, como aconteceu no caso do coronel Freddie Perdigão. Ele teria sido reconhecido numa foto do acidente da estilista Zuzu Angel. Só que não é ele na foto. Isso é um erro, um erro histórico, que tem de ser evitado”, disse Roca. Os dois são acusados de torturar e assassinar o deputado federal Rubens Paiva, crime que aconteceu dentro do Destacamento de Operações de Informações (DOI). Para confundir as investigações, foi simulada uma tentativa de resgate e fuga de Paiva.
De acordo com a CNV, Jacy permaneceu apenas 15 minutos diante dos conselheiros. Na saída, ele ainda contou com a proteção de um policial federal que faz a segurança do Arquivo Nacional, que impediu que a imprensa fizesse imagens do ex-sargento. Os irmãos Ochsendorf são apontados pelo Ministério Público Federal como autores dos crimes de fraude processual, associação criminosa armada e ocultação de cadáver. Integrante da comissão, o ex-ministro e advogado José Carlos Dias tentou convencer os três a dar sua versão, mas também não obteve sucesso. “É preciso rever atos históricos para rescrever a história”, argumentou.