Brasília – No primeiro ato conjunto de campanha – embora em momentos de sabatina distintos na Confederação Nacional da Indústria (CNI) –, os três principais postulantes ao Palácio do Planalto tentaram seduzir o empresariado brasileiro com as propostas que implementarão caso sejam eleitos em outubro. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) defenderam a competitividade na indústria, a necessidade de uma reforma tributária e de revisões na legislação trabalhista. Não apresentaram, contudo, propostas novas e pouco empolgaram os representantes do PIB nacional.
Tanto Aécio quanto Campos bateram na tecla de que o país está mergulhado em uma crise econômica que pode até ser influenciada por fatores externos, mas que tem como agravante a falta de liderança política do governo Dilma. “A crise atual não é causada por problemas internacionais, mas por brasileiros”, resumiu o tucano. Campos seguiu na mesma linha: “O que falta são duas palavrinhas mágicas que conheço muito bem: gestão e liderança”, completou o socialista.
Eles insistiram que a onda de pessimismo que assola o país e obriga os empresários a atrasar investimentos deriva da falta de pulso do governo. “Não vou sequer me ater à questão do Santander (uma analista do banco espanhol afirmou que os fundamentos da economia brasileira vão piorar caso Dilma seja reeleita). Vou ficar apenas nos relatórios da Fundação Getulio Vargas”, disse Aécio. “A nossa política de governança esclerosou”, acusou Campos.
A tempestade perfeita a que se refere a Dilma é um jargão dos economistas segundo o qual a saúde financeira e monetária de um país se deteriora rapidamente por conta da conjugação de erros na condução da política interna e fatores externos negativos. Dilma afirmou que, ao se alastrar as ideias de tarifaço ou racionamento, os empresários desistem de investir com medo de não ter energia para suprir as demandas. “Vocês sabem perfeitamente que quando houve o racionamento em 2000 e 2001, o PIB do país caiu dois pontos percentuais”, lembrou a presidente.
Investimento
Aécio e Eduardo também reforçaram a necessidade de um aumento na taxa de investimentos em infraestrutura no país. O percentual atual representa 2,5% do PIB. Ambos defendem um valor próximo dos 5%. O tucano prometeu ainda que o nível de investimento total, em 2018, subirá dos atuais 18% do PIB para 24%. Dilma rebateu, em sua intervenção, dizendo que herdou um país sem projetos, sem engenheiros e acrescentou que tentou acelerar o ritmo das obras públicas com o Regime Diferenciado de Contratação (RDC). “Fui acusada de afrouxar os mecanismos de fiscalização e controle, o que é um tolice”, declarou a presidente.
Sobre a redução da carga tributária – uma das principais demandas apresentadas pelos empresários no documento com 42 pontos feito pela CNI e entregue aos presidenciáveis –, Eduardo e Aécio prometeram enviar, logo nas primeiras semanas de governo uma proposta de reforma tributária ao Congresso. “Eu serei o primeiro presidente eleito desde a redemocratização que vai reduzir a carga tributária”, afirmou Eduardo. “Com a experiência que tenho de parlamentar e governador de Minas, negociarei diretamente com o Congresso Nacional o processo de simplificação da estrutura de impostos no país”, disse Aécio.
Dilma lembrou a série de desonerações que o seu governo e o do antecessor, Lula, promoveram desde 2008. “Imagina qual seria a situação da indústria hoje se, lá atrás, não tivéssemos tomado as medidas anticíclicas necessárias para o país continuar crescendo”, indagou a presidente.
Executivos em posição neutra
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, comentou que o evento foi importante para que o setor industrial ouvisse as diferentes propostas dos candidatos. Ele explicou que fará uma avaliação detalhada do que foi apresentado pelos três e, após esse processo, identificará quais são as melhores para o setor. “Somos uma entidade apolítica e não declaramos apoio a nenhum candidato. Esse é um momento de reflexão”, detalhou.
Para o integrante do Conselho de Administração do grupo Ultra Pedro Wongtschowski, os três ainda não detalharam quais medidas serão tomadas para impulsionar os negócios do setor industrial. “Ainda precisamos aguardar a entrega formal dos programas de governo para entender as reais intenções de cada um”, disse.
Na opinião do presidente da Alupar, Paulo Godoy, o presidente eleito não terá uma tarefa fácil para enfrentar o desafio de diminuir a burocracia existente no país. De acordo com ele, será necessária uma grande articulação política também para fazer uma reforma tributária. “Não vi diferenças nas propostas apresentadas. O que terá um peso maior nesse processo é a capacidade colocar em prática as propostas apresentadas”, detalhou.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, afirmou que o governo Dilma Rousseff tem dificuldades em firmar parcerias comerciais com outros países. “Aécio e Campos têm boas propostas para esse tema, sem viés ideológico”, concluiu..