O coordenador do programa pessebista criticou a atuação recente do BC, que manteve a taxa básica de juros em 11% ao ano na reunião de julho, mas anunciou na semana passada medidas como liberação de compulsório que podem alcançar R$ 45 bilhões para os bancos. Tecnicamente, o BC argumenta que a decisão é uma medida de ajuste de liquidez, mas o governo já disse que isso vai ajudar a elevar a concessão de crédito para impulsionar a economia. "O BC manteve taxa de juros alta, mas do outro lado anunciou medidas em direção contrária."
Ele informou ainda que o programa de governo de Campos vai propor a redução do spread bancário (diferença entre as taxas pagas pelos bancos aos investidores e a taxa cobrada na oferta de empréstimos). "Vamos ter política de crédito bastante ousada para sinalizar uma trajetória de redução do spread."
Câmbio
Sobre a política cambial, que também será tratada como um segundo eixo de economia do programa chamado "Economia para o desenvolvimento sustentável", Rands afirmou que haverá um direcionamento "claro" para que a política de câmbio flutuante seja "efetivamente" praticada. "Não vamos ter uma política cambial com intervencionismo do Banco Central. Hoje é proclamada a política do câmbio flutuante, mas não é praticada", afirmou.
"Uma intervenção do Banco Central só (deve ocorrer) em situações muito excepcionais, de 'overshooting' (disparada de preço), situações de crises de volatilidade muito acentuadas", completou.
Fiscal
Rands afirmou que o programa terá uma diretriz ampliada em relação à economia, sem incluir necessariamente metas numéricas, mas o programa também pode ter desdobramentos futuros com mais detalhes sobre políticas específicas. É o caso do texto base de uma reforma tributária, que Campos já prometeu entregar antes do primeiro turno.
Questionado sobre a proposta para superávit primário, Rands não respondeu diretamente. Disse apenas o que já vem sendo colocado por Campos, pela vice Marina Silva e pela equipe de campanha: o objetivo é respeitar o tripé macroeconômico (autonomia do BC, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal), com melhor governança macroeconômica.
"O problema do Brasil hoje é muito mais de crise de expectativas. Os fundamentos estão com a luz amarela, precisamos cuidar deles com rigor", afirmou Rands, alegando ser possível fazer a economia voltar a crescer, mantendo o equilíbrio das contas públicas. "Não vamos ter políticas monetárias frouxas, nem política fiscal com contabilidade criativa. Vamos ter muito rigor nisso, porque entendemos que é pré-condição para que avancemos nas políticas sociais", reforçou.
Sobre a aparente contradição de pautas mais populares e custosas defendidas por Campos, como o ensino público em tempo integral, passe livre estudantil e mais que dobrar a fatia do orçamento destinada hoje à saúde, Rands disse que estranho é os outros candidatos não defenderem as pautas reivindicadas pela sociedade. "A política econômica reconduzida com rigor macroeconômico vai permitir um salto na qualidade da educação e dar respostas às demandas da sociedade. É um caminho totalmente viável e factível."
A divulgação do programa de governo sofreu alguns atrasos, prometido anteriormente para julho e depois para os primeiros dias de agosto. Agora, segundo integrantes da campanha, está previsto para ser anunciado no dia 13 deste mês..