A disputa eleitoral termina e o candidato vê que obteve número expressivo de votos em um município onde, pessoalmente, não distribuiu um santinho sequer. Parece mágica, mas a verdade é que por trás da expressiva votação existe um responsável, que passa quase sempre despercebido durante a campanha. São cabos eleitorais de luxo: prefeitos, vereadores e lideranças que cobram caro para abraçar as candidaturas a deputado estadual e federal. Com planilhas bem organizadas, têm na ponta do lápis a quantidade de votos que podem render. Tudo depende de quanto o concorrente está disposto a desembolsar. O serviço é tão requisitado que gerou atrito entre deputados estaduais e federais. As ofertas estariam altas demais, inflacionadas por candidatos com maior poder financeiro.
O mesmo desprendimento em relação ao dinheiro é demonstrado por um vereador de Santa Rita do Sapucaí, cidade com 30 mil eleitores na Região Sul de Minas. “Me preocupo com o resultado. Não adianta prometer e não conseguir cumprir. É o meu nome que está em jogo”, diz. O parlamentar repete as contas feitas pela liderança de Matozinhos. “É mais ou menos isso mesmo, R$ 35 a R$ 40 por voto.” Orgulhoso do serviço, relembra o trabalho realizado na eleição de 2010: “Teve deputado que veio aqui uma vez e, mesmo assim, conseguiu 702 votos na cidade”.
Em Jabuticatubas, também na Grande Belo Horizonte, onde estão em disputa 12 mil votos, as planilhas dos cabos de luxo são semelhantes às das outras cidades, mas, conforme um vereador, há no município uma elevação nos valores que parte dos candidatos está disposto a pagar. “Estão dando até R$ 100 para quem coloca adesivos no carro. Sem contar a gasolina para rodar com o veículo pedindo votos”, diz o parlamentar, que afirma trabalhar para a ala mais pobre de candidatos que fazem campanha na cidade. “Vamos fazer uma denúncia ao Ministério Público”, diz. Segundo o vereador, em Jabuticatubas, assim como em Matozinhos, com R$ 30 mil é possível conseguir 800 votos para deputado estadual ou federal.
PRESSÃO
Na ala mais abastada de candidatos, que estaria puxando para cima os recursos canalizados para as campanhas, está Newton Cardoso Júnior (PMDB), filho do deputado Newton Cardoso. Em disputa por uma vaga na Câmara, o concorrente registrou projeção de gastos de R$ 5 milhões na campanha. Apenas em Matozinhos, o candidato afirmou a lideranças que pretende colocar R$ 105 mil. O anúncio teve como consequência uma pressão maior dos cabos de luxo pelo aumento dos recursos de outros candidatos à Câmara e à Assembleia. As campanhas, de forma geral, são casadas – um deputado estadual e um federal, e o mesmo valor gasto por um, também deve ser disponibilizado pelo outro.
Assim como o pai, que não se candidatará este ano, a campanha de Newton Júnior deverá se concentrar na Grande Belo Horizonte, Norte de Minas e Centro-Oeste, onde o candidato chega a pagar R$ 6 mil por cabo eleitoral, sem terceirizações. O candidato negou que já tenha iniciado a contratação de pessoal e serviços para campanha. “Ainda estamos na luta para conseguir doações de campanha. Meu material de divulgação nem está nas ruas ainda”, rebate Newton Júnior. O candidato afirma estar viajando por todo o estado. “Temos um retorno muito bom, porque o trabalho do meu pai é reconhecido em todos os cantos de Minas Gerais.”
As planilhas com os gastos, conforme os próprios cabos eleitorais de luxo, são oferecidas geralmente a cinco candidatos à Assembleia e para o mesmo número de concorrentes à Câmara. O deputado estadual Dilzon Melo (PTB), que disputa a reeleição, afirma que na Região Sul do estado, onde mantém base eleitoral, a pressão se repete. “Como não trabalho dessa forma, o que faço quando alguém me procura é falar ‘olha, você merece até mais, mas não tenho condições de pagar’”. Na avaliação do deputado, na região existem candidatos que afirmam ter muito dinheiro, mas, nas verdade, seria só uma forma de autovalorização. “Querem colocar um parâmetro, dizer que são fortes, mas nem sempre é verdade”, diz.
Saiba mais
Contabilidade
A legislação eleitoral estabelece que a prestação de contas dos candidatos, independentemente de contratações terceirizadas, é de responsabilidade de quem está na disputa pelo cargo. É obrigatória a apresentação de recibos para os serviços contratados. No caso de pessoal, o trabalho na campanha não gera vínculo empregatício com o candidato ou partido, mas o pagamento também precisa ser declarado à Justiça Eleitoral e de forma detalhada, apontando nomes e CPFs de quem recebeu os recursos de campanha.