Jornal Estado de Minas

Crise da Petrobras volta à agenda eleitoral após divulgação de vídeo

Oposição abre ações contra envolvidos em denúncia de que depoimentos sobre negócios da Petrobras foram combinados

Paulo de Tarso Lyra João Valadares
Sérgio Gabrielli (D) fala à CPI: executivo teria recebido o 'gabarito' - Foto: geraldo Magela/Agência Senado - 20/5/14

Brasília – Esquecida em duas CPIs, uma mista e outra exclusiva do Senado, a crise da Petrobras voltou à agenda eleitoral após a divulgação de um vídeo no qual há a indicação de que os depoimentos de Maria das Graças Foster (presidente da Petrobras), José Sérgio Gabrielli (ex-presidente da estatal) e Nestor Cerveró (ex-diretor da área internacional da empresa) tiveram as respostas combinadas com o governo. Integrantes da oposição protocolaram ontem uma série de ações contra os envolvidos no processo. “Foi feito um grande entendimento para blindar a presidente Dilma (Rousseff). A gravação deixa claro que houve uma combinação para desmoralizar o Congresso e a CPI”, protestou o coordenador da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB-MG), senador José Agripino Maia (DEM-RN).

No vídeo, o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e o chefe do departamento jurídico da estatal na capital federal, Leonan Calderaro Filho, são flagrados admitindo que receberam, previamente, os questionamentos que seriam feitos aos depoentes. E insinuam que 80% das perguntas teriam sido elaboradas pelo assessor da liderança do PT no Senado Marcos Rogério. As demais teriam vindo do também assessor da liderança Carlos Hetzel, e do assessor da Secretaria de Relações Institucional Paulo Argenta.

“O governo tem tanto pavor da verdade que nem uma CPI chapa branca é suficiente para eles.
É preciso uma CPI com fraude”, acrescentou o líder do PSDB no Senado e candidato a vice na chapa tucana, Aloysio Nunes Ferreira (SP). Além dos assessores, teriam participado diretamente da suposta manobra o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o relator da CPI da Petrobras, senador José Pimentel (PT-CE) e o ex-presidente da estatal e atual diretor Corporativo e de Serviços, José Eduardo Dutra. Ele havia sido escolhido para “alinhar” os discursos entre a atual diretoria, comandada por Graça Foster, e a anterior, sob a batuta de Gabrielli.

A ação foi pulverizada. Na Procuradoria-Geral da República, os oposicionistas representaram contra Delcídio e Pimentel. Hoje, apresentarão nova denúncia contra os dois petistas no Conselho de Ética do Senado, por quebra de decoro parlamentar. Já na Procuradoria da República do Distrito Federal, o grupo representou contra os demais envolvidos. “Eles incorreram nos crimes de falso testemunho, quebra de sigilo funcional e de advocacia administrativa”, completou o coordenador jurídico da campanha tucana, Carlos Sampaio (PSDB-SP).

A oposição pediu também que Pimentel se afaste da relatoria da CPI. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho, apresentou requerimento para convocação do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para que preste esclarecimentos sobre o caso. Pimentel garantiu que não há razões para deixar o cargo e, por meio de nota, afirmou não ter cometido qualquer irregularidade. “O Plano de Trabalho da CPI da Petrobras, aprovado por unanimidade, contém uma relação de perguntas a serem respondidas pelos depoentes em suas oitivas”, disse ele. Pimentel garantiu não ter se reunido com ninguém nem tampouco orientado o depoimento dos investigados.
E pediu à CPI a íntegra do vídeo com a denúncia.

Já o senador Delcídio Amaral (PT-MS), classificou o episódio de “disputa política”. Ele atribuiu a ação do PSDB contra ele ao fato de liderar as últimas pesquisas como candidato ao governo estadual, ressaltando que os tucanos são adversários do PT tanto no plano local quanto no federal. “O estranho é que meu nome foi citado sem nenhum contexto plausível, considerando que não participo de nenhuma das CPIs da Petrobras em curso no Congresso”, destacou.

Espectadores experientes de CPIs estranharam o episódio, alegando que em nenhuma comissão anterior os depoentes receberam as perguntas de maneira prévia – mesmo naquelas em que a maioria governista controlava os trabalhos. O ex-diretor Nestor Cerveró reforçou, por meio de nota do advogado, “que jamais compactuou com frases advindas de quem quer que seja”. E acrescentou que foi convidado a participar de um “media training oferecido pela Petrobras”.

A evolução do escândalo


Relembre os fatos que colocaram a Petrobras no epicentro de um escândalo político

19 de março de 2014

Reportagem do Estado de S.Paulo revela que Dilma Rousseff aprovou, em 2006, quando era presidente do Conselho de Administração da Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, por US$ 1 bilhão. Dilma divulgou nota afirmando que baseou a aprovação em documentos “falhos e imprecisos”.

20 de março

Ex-diretor da Petrobras e um dos responsáveis pela compra de Pasadena, Paulo Roberto Costa é preso na Operação Lava a Jato. Ele é acusado de integrar o esquema de lavagem de dinheiro montado pelo doleiro Alberto Youssef. Estima-se que foram movimentados R$ 10 bilhões.

21 de março

Apontado como o responsável por elaborar o parecer “falho e impreciso”, Nestor Cerveró é demitido da diretoria financeira da BR Distribuidora.

26 de março

Presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster anuncia a abertura de sindicância interna para apurar a compra da refinaria de Pasadena.

27 de março
A oposição protocola pedido de CPI para investigar a Petrobras.
O governo reage e propõe outra CPI, para investigar o cartel dos trens de São Paulo nas gestões tucanas no estado.

31 de março

O advogado de Nestor Cerveró afirma que os integrantes do Conselho de Administração receberam documentos sobre compra de Pasadena 15 dias antes da reunião que aprovou a aquisição da planta.

15 de abril
Em depoimento no Senado, Graça Foster admite que a compra de Pasadena “não foi um bom negócio”.

16 de abril

Em depoimento à Câmara, Nestor Cerveró declara que as cláusulas Marlin e Put Option – apontadas como causas do prejuízo da Petrobras –, ausentes no parecer sobre Pasadena, “eram irrelevantes”.

14 de maio
Uma semana depois de aprovar a criação da CPI da Petrobras, o Senado instala o colegiado com 13 integrantes, após a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber determinar que a CPI fosse exclusiva para investigar a estatal, atendendo a pedidos da oposição. Os governistas indicam a maioria dos integrantes.

20 de maio
Ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli isenta a presidente Dilma Rousseff da responsabilidade pela compra da refinaria de Pasadena.

22 de maio
Cerveró também defende, na CPI do Senado, que Dilma não foi a responsável pela negociação da refinaria. Segundo o ex-diretor da BR Distribuidora, as decisões sobre a compra da refinaria norte-americana foram “colegiadas”.

27 de maio
Graça Foster reforça a tática dos depoentes anteriores e poupa a presidente Dilma, afirmando que a responsabilidade pelo negócio era, primeiramente, da diretoria da estatal, que levou a proposta ao Conselho Administrativo.

28 de maio
O Congresso instala a CPI Mista da Petrobras. A base aliada também consegue maioria, além dos três principais cargos na mesa diretora do colegiado.

23 de julho
Após dois meses de pouca repercussão dos trabalhos da CPI, o TCU aprova, por unanimidade, relatório que aponta prejuízo de US$ 792,3 milhões à Petrobras pela compra da refinaria de Pasadena, mas isenta Dilma de responsabilidade.

2 de agosto
A revista Veja divulga vídeo que levanta a suspeita de que os depoimentos de Graça Foster, Cerveró, e Gabrielli à CPI da Petrobras teriam sido combinados com o governo. Eles teriam recebido as perguntas e as respostas que teriam de dar.

Representação

A oposição protocolou representação contra os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e
José Pimentel (PT-CE) na Procuradoria-Geral da República. Hoje, farão o mesmo no Conselho de Ética do Senado. Já na Procuradoria da República do Distrito Federal, os oposicionistas representaram contra Graça Foster, Gabrielli, Cerveró e servidores da estatal. A mesma ação será feita nos órgãos disciplinares da Secretaria de Relações Institucionais, da Petrobras e do Senado, contra os servidores públicos envolvidos..