Brasília – Senadores da base do governo dedicaram boa parte do dia de ontem para defender a CPI da Petrobras das denúncias de depoimentos combinados, com distribuição de “gabaritos” aos depoentes. A atuação da base aliada, feita em sintonia com a orientação dada pelo Palácio do Planalto, é apenas a ponta do iceberg das movimentações governistas para contornar a denúncia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), determinou ontem a instalação de uma sindicância para apurar a participação de assessores da Casa na suposta troca de informações com a Petrobras.
O senador paraibano esteve na manhã de ontem na Polícia Federal, onde pediu investigações sobre as denúncias. Rêgo disse não ver razões para suspender as atividades das comissões. Com a cabeça pedida pela oposição, o relator da CPI do Senado, José Pimentel (PT-CE), se defendeu no plenário, alegando que nunca se reuniu com depoentes ou orientou a inquirição de investigados.
“É bom que a Polícia Federal investigue, pois ela vai identificar de pronto que não há nenhum crime”, garantiu o líder petista no Senado, Humberto Costa (PE). “Onde está o erro em funcionários da Petrobras fornecerem à CPI informações com base em questões formuladas pela assessoria da comissão?”, questionou no plenário da Casa.
Toda a operação até o momento está sendo acompanhada de perto pelo governo. O Planalto suspeita de que o responsável pela gravação da reunião, na sede da Petrobras, tenha sido o advogado Bruno Ferreira, mas ainda não sabe as razões que o teriam levado a fazer isso. A dedução baseou-se no fato de que tanto o chefe de gabinete da Petrobras em Brasília, José Barrocas, quanto o chefe do departamento jurídico, Leonam Calderaro Filho, são de confiança da presidência da empresa e não teriam razões para gravar o encontro.
O governo deve mobilizar a tropa de choque no Congresso para evitar a convocação do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para explicar a participação do assessor Paulo Argenta na combinação das perguntas à CPI.
O Estado de Minas apurou que, ao longo da segunda-feira, os articuladores políticos do governo conversaram diretamente – seja pessoalmente ou por telefone – com o senador José Pimentel e com representantes da Petrobras. As conversas serviram para dar o tom das notas oficiais divulgadas para tentar por água na fervura da crise. Para um aliado de Dilma, é fundamental abafar a crise política a dois meses das eleições.
No plenário, Aloysio Nunes (PSDB-SP) interrompeu Humberto Costa algumas vezes, aos gritos de “mentira”, quando o petista acusou os tucanos de terem tentado privatizar a Petrobras. Depois, Nunes, que é vice na chapa presidencial de Aécio Neves (PSDB), concordou que é natural que a base defenda o governo dentro da CPI. Para ele, que pretende levar o caso à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o “inadmissível é fraudar o propósito investigativo de uma CPI”, “com o objetivo de blindar a presidente Dilma Rousseff”.
Na CPI mista, muitas das perguntas feitas por Marco Maia, relator da CPI de deputados e senadores, à presidente da Petrobras, Graça Foster, na sessão de 11 de junho, foram idênticas às que haviam sido feitas por Pimentel no Senado, onde Foster já havia deposto. “A assessoria do Senado, que tem dado suporte à CPI, também tem dado suporte aos senadores e deputados do PT da CPI mista. Tem perguntas, inclusive, que são absolutamente normais que sejam repetidas”, comentou Costa.