São João do Pacuí – Tucanos e petistas que disputam o governo de Minas e do Brasil podem recorrer à pequena cidade do Norte mineiro para propagar os sucessos de seus programas sociais. Seja o Bolsa Família e o Minha casa, minha vida, do governo federal, ou programas como Travessia e ProAcesso, do governo estadual, todos, independentemente se encampados pelo PT ou PSDB, contribuíram para tornar São João Pacuí o município mineiro com o maior crescimento no estado – e um dos maiores do Brasil – do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) entre 2000 e 2010.
Na maior parte do período mensurado, o país foi governado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Minas Gerais foi comandada por Aécio Neves (PSDB), que tenta agora ser eleito presidente. Já Lula busca emplacar, pela segunda vez, sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. Entre 2000 e 2010, a cidade de 4.276 habitantes teve o IDHM elevado de 0,382 para 0,625, um aumento de 63,61%, passando de um índice que era considerado baixo para médio.
A doméstica Sueli Soares Lopes, de 34 anos, é um dos muitos exemplos de moradores da cidade que conseguiram melhorar suas condições de vida. Mãe de cinco filhos, ela aguarda ansiosa para receber as chaves da casa com a qual foi contemplada no programa Minha casa, minha vida. “Ganho pouco e tenho que pagar R$ 200 de aluguel”, detalha Sueli, que conta com R$ 400 do programa Bolsa Família para conseguir alimentar a prole de cinco filhos. Ela é uma das 729 mães cadastradas no programa do governo federal na cidade e costuma complementar a renda que sobra (R$ 200 mensais) com trabalhos esporádicos. “Mas isso quando a gente encontra serviço”, pontua a doméstica, que, atualmente, vive somente com a ajuda governamental.
De acordo com o IDHM, entre 2000 e 2010, a área que mais cresceu em termos absolutos em São João do Pacuí foi a educação, com elevação de 0,323. Para a secretária municipal de Assistência Social, Leam Nobre Ribeiro, não resta dúvida de que a melhoria das condições de vida no município resultam das ações implementadas por intermédio de programas sociais. “Houve uma reestruturação dos conselhos municipais de saúde, educação e assistência social. Foram discutidas as demandas e dificuldades em cada setor e planejadas as ações que deveriam ser implementadas”, afirma Leam.
A secretária destaca que as condicionantes que as famílias precisam cumprir para o Bolsa Família melhoraram a cobertura das vacinações. As mães passaram a manter os cartões de vacina em dia, uma das condições para o recebimento do benefício governamental. Com isso, melhorou a saúde das crianças, diminuindo a mortalidade infantil.
Analfabetismo
Outro responsável pela “transformação” em São João do Pacuí , segundo a secretária, foi o Programa Travessia, do governo estadual, com intervenções na saúde e educação e na área social. “A partir do Travessia, foi feito um diagnóstico da realidade social do município, com uma pesquisa de porta em porta, visitando todos os domicílios”, detalha a secretária. Um dos fatores que mais pesavam para a posição ruim de São João do Pacuí na medição do IDHM era o analfabetismo do município, que, em 2000, era de 36,36% – um dos mais mais altos do estado. Esse índice caiu para 22,83% em 2010.
O Programa Travessia articulou a criação de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Entre os alunos está o casal Francisco de Brito Barbosa, de 62, e Neuza Cardoso Barbosa, de 54. Os dois eram analfabetos e, agora, com orgulho, exibem os certificados de conclusão da quarta série (atual quinto ano) do ensino fundamental.
“Antes, eu ficava acanhado perto das pessoas porque não sabia ler nada. Fiquei livre do tinteiro para sempre”, diz o lavrador Francisco, se referindo ao fato de ter que usar o polegar para a coleta da digital toda vez que comparecia a uma repartição pública para providenciar algum documento, pois não sabia assinar o nome. Ele recorda que, assim como a mulher, recebeu R$ 100 do “banco” do programa Travessia ao se matricular no programa de alfabetização.
O Banco Travessia propicia ganhos financeiros para as famílias que contarem com pessoas nos projetos de alfabetização e em outros cursos voltados para a melhoria do nível social. Cada vez que um dos seus integrantes se matricula em curso ou recebe um diploma pela conclusão do curso – incluindo a educação técnica e profissional, a família recebe um prêmio em dinheiro. Ao longo de três anos, a família pode receber até R$ 5 mil. Em São João do Pacuí 292 famílias já foram beneficiadas. Já Neuza, que é doméstica, além de poder assinar o nome comemora outra conquista: poder ensinar o para casa para o neto Alke Willian, de 9 anos. “Eu sofria muito sem saber ler nada. Agora, minha vida é outra’, diz a mulher.
Luz Outra moradora de São João do Pacuí que foi alfabetizada é Maria Luzete de Jesus, de 53, mãe de cinco filhos, que trabalha como merendeira numa escola municipal. “Não sabia nada. Agora, sei assinar o meu nome. Foi uma luz que recebi na minha vida”, declara Luzete. Ela quase nada ouviu falar dos candidatos a presidente, governo ou de campanha eleitoral, e afirma que ainda não sabe em quem vai votar. “Vou ver ainda”, afirmou. Por outro lado, diz que espera que quem for eleito venha “ajudar mais os necessitados”.
O crescimento do IDHM do município também foi favorecido pela melhoria das condições de saneamento. Com recursos do governo federal, foi construída a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), ainda em fase de implantação. Por intermédio do Programa Travessia, ocorreu a distribuição de módulos sanitários para famílias de baixa renda. Do lado do pacote do governo estadual veio ainda o ProAcesso, com pavimentação de 31 quilômetros até Coração de Jesus.