Com baixa visibilidade na opinião pública e emparedados entre as campanhas para presidente e governador, José Serra (PSDB), Eduardo Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (PSD) apostam no tema para atrair a atenção do eleitorado paulista que, segundo pesquisas internas dos comitês, é amplamente favorável às propostas.
Após 24 anos consecutivos no cargo, o senador Eduardo Suplicy, que tenta chegar ao quarto mandato, mas apareceu em segundo lugar na mais recente pesquisa do instituto Datafolha, com 29% das intenções de voto, surpreendeu os petistas na semana passada ao apresentar aos colegas de bancada projeto que prevê o aumento do tempo de internação em unidades educacionais para adolescentes violentos e reincidentes, hoje limitado a três anos.
Surpresa
A iniciativa de Suplicy constrangeu o PT, que historicamente defende outras formas de reinserção social, e foi recebida com frieza pela equipe de Alexandre Padilha, candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes.
"Estou me preparando para um dos temas que será alvo de debate na campanha.
Preocupado com a reação negativa da militância petista, Suplicy passou a dizer que cogita amenizar o projeto. "O Estatuto da Criança e do Adolescente já é suficientemente duro", afirmou ao jornal "O Estado de S. Paulo" o deputado Paulo Teixeira, integrante da direção nacional do PT.
Um dia depois de Suplicy apresentar o projeto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, foi a Brasília, na terça-feira, 5, discutir com o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), projeto de lei que propõe mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente, como o endurecimento de penas para menores infratores.
Referência
Candidato do PSDB ao Senado, o ex-governador José Serra não teve de enfrentar constrangimento interno para adotar a defesa da redução da maioridade penal em casos específicos. Serra defende um projeto do senador Aloysio Nunes Ferreira, candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves (PSDB), que se tornou referência no partido.
Aloysio Nunes apresentou proposta de emenda à Constituição (PEC), de redução da maioridade penal para 16 anos, em casos de crimes hediondos.
Quando questionado sobre o tema, Serra, que lidera a disputa com 34% das intenções de voto, segundo o Datafolha, lembra o caso Champinha.
"De repente a Justiça mandou soltá-lo. Eu não soltei (Serra era governador na época), provamos que ele tinha problema mental e criamos uma unidade de saúde pra ter ele lá preso. Você não pode soltar esse sujeito, ele vai matar gente", afirmou Serra em entrevista à TV Bandeirantes. O tucano diz, porém, que o melhor caminho seria apresentar o projeto por meio de uma Lei Ordinária, não como uma PEC. "Independentemente da maioridade penal, cometeu um crime, um assassinato, fica preso, mesmo passando de 21, 22, 23 anos. Você faz isso por lei ordinária. Mexer em Constituição é uma briga."
Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo dão suporte à defesa do projeto que reduz a maioridade penal em casos graves. Em 2004, o índice de estupros cometidos por menores representou 4,2% do total de crimes desse tipo. Dez anos depois, saltou para 9,2%. No caso do tráfico de drogas, 14,4% dos casos registrados envolviam menores em 2004. Em 2014, foi para 28,6%.
Verba
Para tentar romper a polarização do debate entre tucanos e petistas, o ex-prefeito Gilberto Kassab, candidato do PSD ao Senado e terceiro colocado na mais recente pesquisa Datafolha, com 7%, foi além da defesa da redução maioridade penal.
Kassab se autointitulou o "senador da segurança" e defende que sejam agravadas as penas para quem comete crimes contra policiais. "Vamos criar a verba vinculada, para que não falte dinheiro para essa área, para pagar melhor e contratar mais policiais", afirmou o ex-prefeito..