Eduardo Campos foi o segundo presidenciável no planeta a perder a vida num acidente aéreo durante a campanha: o general reformado Lino Oviedo morreu na queda de um helicóptero, em fevereiro de 2013, na campanha do Paraguai. E o segundo brasileiro cabeça de chapa a perder a vida num acidente aéreo numa disputa ao Executivo, o baiano Clériston Andrade morreu na queda de um helicóptero, em outubro de 1982, durante a corrida pelo Palácio de Ondina. Vale recordar que outros políticos foram vítimas em acidentes semelhantes, mas já no exercício do cargo.
O mais lembrado pela geração atual é o que ceifou a vida do deputado federal Ulisses Guimarães e a do senador Severo Gomes. Em outubro de 1992, o helicóptero em que os dois peemedebistas viajavam na companhia das respectivas esposas caiu no litoral de Angra dos Reis (RJ). Ulysses, cujo corpo nunca foi encontrado, concorreu à presidência da República no pleito de 1989. No início daquela década, em 1982, a campanha ao governo da Bahia foi marcada por um acidente aéreo. Clériston Andrade, candidato do PDS ao Palácio de Ondina, e seu companheiro de chapa, o deputado federal Rogério Rego, morreram na queda de um helicóptero na região de Caatiba, no Sul daquele estado. Outras 11 pessoas estavam na aeronave na época e não houve sobreviventes.
O desastre com o neto de Miguel Arraes resgatou tristes lembranças do acidente com o político Marcos Freire, sobretudo, ao povo de Pernambuco. Tanto Freire quanto Campos nasceram no Recife, foram ministros e morreram três dias depois do aniversário. Em outubro de 1987, o jato em que ele viajava ao lado de José Eduardo Raduan, presidente do Incra, explodiu no ar, numa viagem oficial. Outras cinco pessoas perderam a vida no mesmo desastre.
Em Minas Gerais, três prefeitos morreram em quedas de aviões. Em 1991, Osvaldo Franco, de Betim, e Cristiano Chaves, de Igarapé, voltavam de viagem de Brasília, onde foram pedir mais recursos federais para os municípios. Na década de 1970, Tácito de Freitas, então prefeito de Rio Pardo de Minas, sobrevoava uma região onde seria implantado um projeto de reflorestamento de eucaliptos com uma equipe de engenheiros, quando o avião caiu.
O presidenciável no país vizinho Paraguai Lino Oviedo também perdeu a vida num acidente aéreo. General reformado, ele disputava o cargo quando, em fevereiro do ano passado, depois de um comício em Concepcion, embarcou num helicóptero que caiu na província de Chaco. Em se tratando de presidentes já eleitos, quatro perderam a vida em acidentes aéreos: o boliviano René Barrientos Ortuño, em 1969; o panamenho Omar Torrijos, em 1981; o moçambicano Samora Moisés Machel, em 1986; e, em 2010, o polonês Lech Kaczynski, que estava entre as 97 vítimas da queda do avião comercial que caiu no Oeste da Rússia.
14 mil quilômetros percorridos
O candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) era o que mais viajava entre os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto. Levantamento feito pela Agência Estado mostra que, até 22 de julho, o socialista havia percorrido 14,9 mil quilômetros, a maior parte no Centro-Oeste e Nordeste. Já as viagens de Aécio Neves (PSDB) somavam 10 mil quilômetros, concentrados principalmente no Sudeste. A presidente Dilma Rousseff (PT) fez menos viagens que os adversários e havia cruzado 9,6 mil quilômetros.
Depoimento
Equipamento estragado
“Campanha eleitoral é um corre-corre maior do que a maioria dos brasileiros imagina. Candidatos e assessores viajam milhares de quilômetros e aviões, portanto, são indispensáveis. Tudo é planejado para dar certo, mas nem sempre isso ocorre. Em 2010, por exemplo, uma equipe de assessores de imprensa e outra de eventos de Antonio Anastasia (PSDB) embarcou para Três Pontas, no Sul de Minas, onde o candidato do PSDB faria campanha. O pequeno avião, com capacidade para seis pessoas, decolou do aeroporto da Pampulha. Eu me acomodei atrás do piloto e percebi, depois de uma hora de viagem, que o suor escorria pela nuca do comandante. Perguntei se havia algo errado e ele respondeu que um dos equipamentos da aeronave havia estragado: “Não sei, com isso, se estamos na rota correta”. O piloto começou a sobrevoar cidades à procura de um aeroporto. O suor escorreu pelo pescoço dele outras vezes. Também pelo meu e pelo dos outros passageiros. Nosso receio era que o combustível acabasse e não encontrássemos uma pista para descer. Minutos depois, felizmente, avistamos uma. Era um aeroporto pequeno. Mas era um alívio. Já em solo, o piloto se dirigiu a um funcionário do local, o qual nos informou que estávamos em Lavras, a quase 100 quilômetros de Três Pontas.” (Paulo Henrique Lobato)