A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos interrompe um projeto de poder que vinha sendo conduzido pelo PSB desde o momento em que a legenda começou a sair das abas do PT, com quem sempre se coligou nas disputas nacionais, para seguir caminho próprio.
Dentro da legenda, apesar dos discursos de crença na vitória, não havia grandes expectativas de sucesso de Campos nesta campanha. Mesmo com a entrada de Marina Silva na chapa, o candidato socialista patinava nas pesquisas e não conseguiu atingir 10% das intenções de voto. Por isso mesmo a legenda trabalhava essa campanha de olho nas eleições de 2018. Essas eleições eram vistas como um treino, uma maneira de o candidato se tornar mais conhecido para o próximo pleito. Com sua morte precoce, o partido ficou órfão, já que dentro da legenda não há nenhuma figura que ocupará o papel que ele desempenhava dentro da legenda. Nem mesmo Marina, já que a ex-senadora está no PSB apenas de passagem, até que seu partido, a Rede Sustentabilidade, tenha o registro aceito pela Justiça Eleitoral.
“Campos era um projeto para 2018”, afirma o sociólogo Rudá Ricci.
“É como se o Lula do PSB morresse”, compara, se referindo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior liderança do PT. “Era ele quem dava a coesão ao PSB, partido formado por militantes de esquerda e também por quase tucanos”, avalia Rudá. Para ele, ainda não é possível cravar a substituição de Campos por Marina na corrida presidencial, mesmo ela tendo um desempenho melhor nas pesquisas de intenção de voto. Para assegurar sua indicação ao cargo, ela tem que conseguir aparar as arestas deixadas durante o processo de formação das composições no estado, principalmente em São Paulo e Minas Gerais, onde Rede e PSB se estranharam, analisa Rudá. “Ela também terá de romper a resistência do setor do agronegócio, que tem horror da Marina”, afirma. “Dentro do PSB também há muita reserva com Marina..” Para ele, o partido está em ma “encruzilhada”. “Ou o partido some se não lançar a Marina ou assume o risco de ganhar a eleição para a Rede.”
Para o cientista político Malco Camargos, independentemente do cenário, o PSB é o partido mais afetado pela morte de sua maior liderança. “Uma pessoa jovem, com apenas 49 anos, já na disputa pela Presidência da República.” Para ele, o partido não tem nomes para substituí-lo nessa disputa, a não ser a candidata a vice, que, apesar de oficialmente filiada ao PSB, representa a Rede. “Se ceder a vaga para a Rede, pode somar mais, mas não será uma vitória do PSB”. O partido, lembra ele, tem 10 dias para realinhar sua estratégia. “Serão dias de muitas conversas.” .