Recife – A morte trágica do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, silenciou Pernambuco. Incrédulo, o Recife chorou sem entender direito o que havia acontecido. A ficha de um estado inteiro ainda não caiu. Nas ruas, havia um silêncio estranho. Anônimos se entreolhavam como se um familiar ou pessoa muito próxima tivesse morrido. Em cada canto da cidade, o sentimento era de total incredulidade. As pessoas pareciam não acreditar naquilo a que estavam assistindo na televisão. A cada informação nova, balançavam a cabeça negativamente.
E foi exatamente esse o sentimento na capital Pernambucana. Fotos do candidato sorrindo em vários locais da cidade contribuíam para aumentar a sensação de estranheza. A imagem do homem público, que tinha apenas Pernambuco com suas virtudes e problemas para mostrar ao Brasil, não existia mais. “Moro aqui nesta rua há mais de 20 anos. Conheço toda a família dele. Eduardo acenava para a gente de dentro do carro e seguia para a sua residência. Parece que estou vendo um filme ruim, mas que depois vou descobrir que ele não morreu”, comentou a moradora de uma casa simples, em Dois Irmãos, Lucilene Santos Oliveira.
Escolas e faculdades suspenderam as aulas no período da tarde. O expediente nos principais órgãos e repartições públicas também ficou paralisado, apesar de não haver determinação oficial. Em diversos bairros, moradores colocaram panos pretos nas grades e janelas, sinalizando o luto pela perda do ex-governador e dos integrantes da equipe.
APOIO Algumas pessoas foram para a frente do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco. Em pouco tempo, a casa onde Eduardo Campos morava com a mulher, Renata Campos, e seus cinco filhos, ficou pequena para tanta gente.
O candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, também foi confortar Renata e os filhos. Visivelmente abalado, afirmou que aprendeu muito ao lado de Eduardo. “É uma pessoa com quem eu aprendi muito.
Às 18h, o ministro do TCU José Múcio chegou à residência acompanhando da mãe de Eduardo Campos, Ana Arraes. “É uma perda irreparável. Deixa de existir adversários políticos. O primeiro telefonema que recebi foi o do presidente Lula, que tinha muita consideração por Eduardo Campos”, declarou Múcio. Ele veio no avião com Ana Arraes. “Uma mãe que perde um pedaço. Foi uma viagem de profundo silêncio. Não há o que dizer a uma mãe neste momento”, afirmou.
O governador do estado, João Lyra Neto (PSB), e o presidente da Casa Militar, Mário Cavalcante, embarcaram para Santos no fim da tarde de ontem para acompanhar o processo de liberação do corpo.Em entrevista coletiva, João Lyra disse: “Lamento o trágico acontecimento. Mas que a vida dele sirva de exemplo para todos nós de muita voluntariedade e coragem e, acima de tudo, de muito compromisso com o povo pernambucano e com o povo brasileiro”.
O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, que esteve na residência do candidato, falou da profunda tristeza dos pernambucanos. “Eduardo era um político de uma inteligência rara. É um momento de muita dor. Pernambuco perde o seu maior líder. Sugeri a Renata Campos a realização de uma missa campal na frente do Palácio do Campo das Princesas para que o povo possa participar”. Após a cerimônia religiosa ele declarou que a ideia é realizar um cortejo que deve seguir até o Cemitério de Santo Amaro para sepultar o corpo de Campos ao lado do túmulo do avô, Miguel Arraes de Alencar, falecido em 13 de agosto de 2005, há exatos 9 anos..