Recife – Exatos nove anos depois da morte do ex-governador Miguel Arraes, os pernambucanos se preparavam para o enterro do corpo do neto do político Eduardo Campos. A expectativa é que o funeral do candidato do PSB à Presidência da República paralise Recife e seja acompanhado por mais de 80 mil pessoas, número registrado no velório e cortejo do avô. Os restos mortais de Eduardo Campos serão velados com os de outras três vítimas da tragédia que tirou sua vida, na quarta-feira, quando o jato em que viajava caiu em Santos, no litoral paulista: o jornalista Carlos Augusto Leal Filho, o Percol, o fotógrafo Alexandre Severo e o cineasta Marcelo Lyra. O velório acontecerá a partir de sábado, a menos que trâmites burocráticos impeçam a saída dos corpos do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, onde está sendo realizada a identificação das sete vítimas da tragédia. O sepultamento está previsto para o domingo, às 16h, segundo informação divulgada pelo governo de Pernambuco.
O velório será no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, seguido de uma missa campal, a ser celebrada pelo arcebispo de Olinda, dom Fernando Saburido. Campos será enterrado no cemitério de Santo Amaro, no túmulo de Miguel Arraes, para onde o caixão seguirá em carro do Corpo de Bombeiros. O cortejo poderá ser acompanhado a pé pela população.
Em entrevista na tarde ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que os sete corpos só seriam liberados juntos, a pedido da viúva de Campos. “Dona Renata, viúva de Eduardo Campos, nos pediu que a identificação de todos fosse feita ao mesmo tempo”, explicou o Alckimin, depois de reunir-se com o governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), que viajou à capital paulista para acompanhar os trabalhos do IML. Segundo ele, na tarde de ontem faltava apenas a identificação do piloto Geraldo Cunha, mas uma avião já havia sido enviado a Governador Valadares para fazer a coleta de DNA de um parente de primeiro grau dele.
Túmulo
Os preparativos para o funeral começaram ainda ontem no Recife. No cemitério Santo Amaro, onde ocorrerá o sepultamento, houve reforço no contingente de funcionários. Na tarde de ontem, cerca de 200 pessoas cuidavam da varrição, poda de árvores e pintura. O corpo de Campos será enterrado ao lado do túmulo do avô, Miguel Arraes. O local já está atraindo visitantes. Os túmulos no entorno do de Arraes estão mal conservados e por isso receberam às pressas uma mão de tinta.
O coordenador de marketing Breno de Oliveira foi ao cemitério para visitar o túmulo da mãe e aproveitou para conhecer onde o ex-governador será enterrado. “Fiquei muito chocado. Era uma pessoa que iria fazer muito pela gente. Fiz questão de vir aqui prestar homenagem. Que ele descanse em paz”, disse Oliveira, que estava acompanhado da mulher e da filha.
O agricultor e servente aposentado José Rosa de Santana, de 69, que se diz devoto de Arraes visitava o túmulo ontem, rotina que cumpre todos os meses desde que o avô de Campos morreu. “Gostava de Eduardo. Fiquei assustado quando soube, minha pressão subiu. Ele era jovem e uma boa pessoa”, afirmou Santana, que se disse eleitor de toda a família de Arraes. Depois de ir ao velório e ao enterro de Arraes, ele disse que pretende fazer o mesmo com as cerimônias de Campos.
Pela manhã, uma equipe do governo estadual esteve no cemitério para analisar como será organizada a cerimônia. A ideia é que a população tenha acesso ao local, mas seja isolada uma área para as autoridades e familiares. Outros sepultamentos não poderão ocorrer no momento em que o corpo de Campos estiver sendo enterrado.
Na frente do Palácio Campo das Princesas, sede do governo estadual, onde ocorrerá o velório, árvores também foram podadas. Na praça em frente, será realizada, a pedido da família, uma missa de corpo presente aberta a toda à população. O comitê central da campanha de Campos e do candidato ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, permaneceu fechado ontem. Todos os funcionários foram dispensados. Uma lona preta foi colocada sobre as placas de propaganda e as bandeiras foram recolhidas. “Ninguém sabe quando as pessoas vão voltar pra cá”, disse o segurança.
Nas ruas do Recife, o clima ainda é de perplexidade. A Rua do Palácio do Campo das Princesas está interditada. Em frente, há apenas jornalistas. Do lado de dentro, poucos funcionários já trabalhavam no início da manhã. Muitos vestiam preto e alguns assistiamm calados aos telejornais locais que na manhã eram praticamente monotemáticos.