Mesma veia política, mesmo dia de morte e mesmos sepultadores. Os profissionais que, há nove anos, viram um jovem Eduardo Campos, ainda político em ascensão, chorando a perda do avô — o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes —, num corredor do Cemitério de Santo Amaro, no Recife, serão aqueles que, agora, o enterrarão. A cerimônia ocorrerá, provavelmente, amanhã à tarde. O corpo de Eduardo ficará no mesmo túmulo do avô.
Inaldo José da Silva, 59 anos, e Marco Aurélio dos Santos, 51, trabalham há 27 anos no local. Eles votaram tanto em Miguel Arraes quanto em Eduardo Campos para os cargos majoritários que ocuparam — ambos foram governadores e deputados federais —, e não conseguiram almoçar na quarta-feira, quando receberam a notícia do falecimento do presidenciável. Com o rosto cansado, Inaldo diz que preferiria não participar do momento. Desvia o olhar, fitando o céu, e afirma que o serviço da vez é ruim porque é do “homem que seria presidente”. “É doído.
Com fardamento novo, de prontidão, e com muito pesar, a dupla repetirá o trabalho feito de 15 a 20 vezes por dia nos 14 hectares do cemitério pernambucano. Mas conhecer — e admirar — o personagem dessa triste despedida, será um pouco diferente desta vez. Sem querer, farão parte de uma história que prefeririam não precisar contar.
Chapéu de palha
Será impossível não se lembrar da fatídica semana de agosto de 2005, quando Miguel Arraes morreu. Os dois narram detalhes do dia em que tiveram que sepultar um dos maiores ícones da política pernambucana. “Era um caixão que a gente chama tipo champagne, de pessoas importantes. Era gente que não acabava mais. Devia ter umas 30 mil pessoas”, conta Marco Aurélio. A mais marcante imagem foi a de um chapéu de palha deixado em cima do caixão, antes de o cobrirem com placas de concreto. “Era gente do interior, gente humilde. Cheios de chapéus”, completa Inaldo.
Sobre as eleições, Marco Aurélio faz a própria análise das condições de Eduardo Campos na disputa eleitoral: “Desta vez, não ia dar (para ele vencer). Mas em 2018, com certeza, que nem o Lula”, diz o homem que já enterrou o músico Chico Science e a deputada e jornalista Cristina Tavares. Tanto Marco Aurélio quanto Inaldo votariam no socialista.
Edmilson Silva, o outro coveiro que trabalhou no enterro de Miguel Arraes, não estará presente no sepultamento. Ele passará este sábado à espera de notícias sobre o enterro, mas acompanhará tudo de longe.