Paulo de Tarso Lyra, Tércio Amaral e João Valadares
Recife - Pacificado em torno do nome de Marina Silva como candidata da coligação ao Palácio do Planalto, as cúpulas do PSB e da Rede desembarcaram ontem no Recife para acompanhar o velório e o enterro de Eduardo Campos e dos demais integrantes da campanha que morreram na última quarta-feira. Embora tenham dito que o momento é de luto e tristeza, todos sabem praticamente de cor o roteiro político das próximas horas. Tão logo se encerre o sepultamento, hoje, será definido o nome do candidato a vice, mas as negociações afunilam em torno do nome do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS).
O PSB vai elaborar uma carta de compromissos com os principais pontos da coligação para que Marina assine antes da reunião da executiva, na próxima quarta-feira. Além disso, os socialistas vão pedir a ela que deixe de lado, neste momento, qualquer desejo de criação da Rede Sustentabilidade. Aliados de Marina confirmaram que ela aceitará as duas propostas, mas adiantam que existe o risco de a militância da Rede não aceitar de pronto o adiamento do sonho de criar o partido. Por isso, a questão será tratada com cautela.
O porta-voz da Rede, Walter Feldmann (SP), afirmou que Marina sabe que este não é o momento de debater a criação da Rede. “Sendo confirmada candidata, Marina está plenamente consciente de que a plataforma de campanha – e de governo, caso venha a ser eleita – é aquela acertada pela coligação, não apenas pela Rede”, disse ele, lembrando que esse assunto será retomado em um momento mais adequado.
A própria Marina, durante o trajeto aéreo que fez de São Paulo a Recife, confirmou aos jornalistas presentes no voo que tem “senso de responsabilidade” e que respeitará todos os acordos fechados por Eduardo Campos. Os aliados cobram da provável sucessora o respeito aos palanques eleitorais acertados por ele, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Tenho compromisso com o que a perda de Eduardo nos impõe”, completou.
Ela também expressou seus sentimentos em torno da própria ausência no voo que vitimou Campos na quarta-feira. “Penso que existe uma providência divina em relação a mim, ao Miguel, à Renata e ao Molina (Rodrigo Molina, assessor especial).” Todos deixaram o Rio de Janeiro na manhã de quarta. Mas a família de Campos, escudada por Molina, seguiu para Recife, por um desejo pessoal da própria Renata. Marina foi direto para São Paulo, por uma decisão política: ela não queria acompanhar o companheiro de chapa na agenda política em Santos (SP) por conta da presença do governador Geraldo Alckmin. Ela discordava da aliança estadual entre tucanos e socialistas.
Pressa na decisão
Um dos principais aliados de Eduardo Campos, com quem se recompôs há dois anos, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que o nome de Marina deveria ser anunciado na terça-feira, não na quarta, após a reunião da executiva nacional do PSB. A terça-feira será marcada como a estreia do horário eleitoral no rádio e na televisão. Para Jarbas, é fundamental que, no primeiro dia de propaganda política, os eleitores tenham clareza de que Marina estará no lugar de Eduardo. “Essa certeza vai haver, a decisão está tomada. A propaganda de terça será toda de homenagem ao Eduardo. Na quinta também, mas, aí, já teremos Marina falando como candidata ao Planalto”, explicou o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Em Pernambuco, também especula-se a possibilidade de substituição do nome do candidato do PSB ao governo local, Paulo Câmara. Nas recentes pesquisas de intenção de voto, ele aparece bem atrás do candidato do PTB ao Palácio das Princesas, Armando Monteiro Neto (PTB). Mas, de acordo com apurações do Estado de Minas, as chances de isso acontecer são remotas e fariam parte do conjunto de especulações decorrente da saída de cena da maior liderança socialista pernambucana.