Dizer adeus a quem se admira, por si só, emociona o mais bruto dos humanos. Assistir a esposas, filhos ou amigos de longas datas carregando caixões, certamente, não faz com que lágrimas e aplausos sejam distribuidos em vão. E elas, as lágrimas, foram comuns e fartas. Era a tristeza transbordando pelos olhos ao assistir três dos cinco filhos de um homem erguerem um braço em sinal de força, bradando agradecimentos a rostos que se perdem na multidão, mas, ainda assim oferecem força.
O cortejo fúnebre que envolveu a despedida de Eduardo Campos e dois de seus assessores, na madrugada deste domingo (17), se fez tão fora do comum como o próprio jovem e ambicioso político. Madrugada, com pancadas de chuva, longas esperas, caixões fechados. Nada que servisse de incentivo para as milhares de pessoas que, ainda assim, tomaram as ruas do Recife e seguiram um trajeto de 22 km, por 11 bairros, centenas de veículos. O ritual virou carreata e quase ninguém sabia. Muitos foram de última hora. Não faltaram banquinhos, colocados nas esquinas das casas para esperar passar o comboio. Nem celulares às mãos ou palavras de “meu presidente”.
Ao chegar no Palácio do Campo das Princesas, após duas horas em cima de caminhões do Corpo de Bombeiros, os restos mortais de três das sete vítimas do acidente aéreo com o Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, registrado na última quarta-feira (13), em Santos, chegaram ao penúltimo destino. Expostos ao público, receberam, por volta das três da manhã, os primeiros cumprimentos de uma plateia que estava ali apenas para oferecer bons pensamentos ou o fruto de suas curiosidades, num velório que só terá fim na tarde deste domingo.
“Não é esposo, nem parente, mas é como se fosse perto de mim. Faço a homenagem em respeito a quem admiro”, diz a corretora de imóveis Silvania Kibi, 41. “É um gesto de solidariedade à família de quem eu voto, vivo ou morto”, resume a engenheira Bernadete Almeida, 55, acompanhada do marido e professor de inglês, Patrick Laverne, 60.
Se a chegada ao Palácio virou carreata, o velório tomou forma de evento. E houve espaço para tudo. Maestro Forró interpretando um triste hino de Pernambuco em trompete, caboclinhos reverenciando os presentes e blocos de carnaval ao raiar do dia. A política se fez presente, mesmo no luto. Houve quem gritasse por Marina, quem profetizasse eleição de uma Renata vice-presidente, quem se fizesse presente nas palavras, enquanto outros se faziam notar por gestos. “Não desista, não, Paulo!”, gritou uma mulher, no início da manhã ao candidato a governador que passava quase despercebido. “Vou honrar o nome dele, você vai ver”, respondeu, Paulo Câmara, braços em riste, assinalando vitória, antes de sair aplaudido.
A verdade é que o governo espera até 150 mil pessoas nas celebrações de despedida do ex-governador e de seus assessores. O motivo pelo qual o número pode se confirmar nas próximas horas é o mesmo que estava nas ruas durante toda a madrugada: era preciso ver para crer. Como se, até o momento, aquela verdade dura e tão improvável não pudesse se fazer sentir. Foi naquele momento em que se fez evidente a perda, já silenciada, apenas transparente nos semblantes de quem esperou tantos dias para dizer “adeus” de perto, a quem já não pode nem ouvir. Somente então, comunicadores se deram conta que perderam colegas e tantos pernambucanos, uma liderança. É que muitos exibiam os dizeres “Não vamos desistir do Brasil” e tantos, em nossa plena finitude, compreendiam: “Que não desistamos de viver”…