Traduzindo o apoio popular confirmado nas urnas na eleição de 2010 – quando Eduardo Campos foi reeleito governador com 83% dos votos válidos –, a população do estado nordestino demonstrou solidariedade à família do político em uma recepção comovente ao caixão com os restos mortais.
Nem mesmo o tardar da chegada do corpo na base aérea do Recife, por volta das 23h de sábado, e o início do cortejo rumo ao Palácio varando a madrugada diminuíram a comoção na despedida ao candidato à Presidência da República. Sob chuva, em carros abertos do Corpo de Bombeiros, os caixões com os restos mortais de Eduardo e de dois de seus assessores de campanha – o fotógrafo Alexandre Severo e o jornalista Carlos Augusto Ramos Leal Filho “Percol” – seguiram por mais de 20 quilômetros em marcha lenta pelas ruas da capital pernambucana cercados por uma multidão.
A chegada do avião da Força Aérea Brasileira com os restos mortais foi recepcionada pela viúva Renata Campos e seus cinco filhos, além da candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, Marina Silva. Depois de carregar o caixão, os três filhos mais velhos de Eduardo e Renata, Maria Eduarda, João e Pedro, demonstraram força nas mais de duas horas de cortejo sobre o carro do Corpo de Bombeiros.
Vestidos com camisas amarelas com a frase cunhada pelo pai em uma entrevista na noite anterior ao acidente aéreo, “Não vamos desistir do Brasil”, e de punhos cerrados, eles acompanhavam os gritos das ruas em apoio a Campos. Simbolicamente, a família se uniu quando o comboio passou pela Avenida Norte Miguel Arraes de Alencar, homenagem ao também ex-governador de Pernambuco e avô de Eduardo Campos. Logo atrás dos veículos oficiais, centenas de carros, motos e até bicicletas formaram um comboio que se arrastava por quatro quilômetros.
Na chegada à sede do governo pernambucano, na Praça da República, em coro, as milhares de pessoas que já aguardavam a chegada do cortejo gritavam em uníssono: “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro!”, também entoado pelos filhos, que ajudaram a carregar o caixão. No local, dezenas de coroas de flores de admiradores demonstravam a comoção da tragédia em todo o país.
A presença da multidão obrigou a organização do cerimonial a abrir o velório desde o início. A previsão inicial era que durante a madrugada os restos mortais seriam velados apenas por parentes e correligionários nas dependências do Palácio do Campo das Princesas, sendo transferidos para a calçada só às 6h. A decisão foi da viúva, Renata Campos, para que todos os presentes pudessem passar ao lado do caixão.
Incrédula com o acidente, a professora aposentada Arlete Oliveira era uma das milhares de pessoas que saíram às ruas para homenagear Campos. Ela recordou os feitos do ex-governador. “Eduardo foi maravilhoso, olhava muito para os pobres, Pernambuco cresceu muito no seu governo. Ele deixou uma lição de vida de um bom pai de família e um excelente governador", disse a pernambucana.
HERANÇA POLÍTICA A presença da população está ligada a uma das marcas da gestão do político no governo de Pernambuco. Além de ser tido como o maior líder do PSB, Eduardo Campos frequentemente se gabava de ter conseguido mais de 90% de aprovação em seu governo. Ele herdou o legado político do avô, Miguel Arraes, que há nove anos morreu no mesmo dia e mês do ano que ele. Desde cedo militou na política, iniciando a carreira como chefe de gabinete de Arraes. O político foi deputado estadual e federal, se tornou liderança expressiva no Congresso e ministro da Ciência e Tecnologia do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A visibilidade nos cargos o cacifou para ser eleito em 2006 governador do seu estado e reeleito para o cargo em 2010.
Cortejado por PT e PSDB, Eduardo Campos confirmou sua candidatura à Presidência e renunciou ao cargo de governador para se dedicar à campanha em abril deste ano. Dois meses depois, em junho, quando a ex-senadora Marina Silva teve o registro da Rede, partido idealizado por ela, negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, ela se abrigou nos quadros do PSB, se tornando vice na chapa do socialista.
Com agências.