Os peritos norte-americanos que acompanham as investigações sobre o acidente que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos na semana passada, em Santos, preveem que o trabalho de apuração levará cerca de um ano para ser concluído. Ontem, três técnicos dos Estados Unidos, integrantes da Federação Americana de Aviação (FAA), e peritos do Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aéreos (Cenipa) passaram três horas buscando peças do avião no local do acidente, no Bairro Boqueirão. No final da manhã, o grupo foi para a Base Aérea do Guarujá, onde técnicos da Força Aérea Brasileira (FAB) estão remontando partes do avião para apurar as razões da queda.
“Vamos ficar aqui em Santos por uma semana, para colher todos os materiais possíveis, e só depois iniciaremos os trabalhos de investigação nos Estados Unidos. É muito cedo para falar em qualquer possibilidade ou suposição”, avaliou um dos peritos norte-americanos. Eles conversaram com a imprensa para explicar o trabalho que estão realizando, mas não quiseram fornecer os nomes completos ou gravar entrevistas. Com o grupo, estão representantes da empresa Cessna Aircraft Company, fabricante da aeronave que caiu, e da Pratt & Whitney, fabricante do motor. Na parte da tarde, eles voltaram ao local do acidente e fizeram novas buscas por peças do avião.
Ontem, o chefe do Cenipa, brigadeiro Dilton Schuck, afirmou que ainda não é possível confirmar se o avião pegou fogo antes de cair. Várias pessoas que moram perto do local do acidente contaram em depoimentos que viram a aeronave em chamas ainda no ar, o que pode indicar falhas mecânicas no avião antes do acidente. “Não podemos confirmar que o avião pegou fogo ainda no ar, porque não há nenhuma evidência disso, só testemunhas leigas. As pessoas são muito sugestionáveis. A gente acha que viu algo que não é o que a gente efetivamente viu”, disse Schuck, que comanda as investigações.
“Clima de mistério”
Segundo o brigadeiro, a complexidade do acidente impede a definição de um prazo para a conclusão das investigações. Os diálogos entre os pilotos e a torre de comando, que ajudariam na apuração para identificar o que aconteceu nos momentos que antecederam a queda, foram descartados da investigação, uma vez que os gravadores não registraram as conversas. “Há acidentes que, de cara, nós que somos da área já podemos traçar desde o início as causas plausíveis. Não é o caso. Esse acidente é muito mais complexo, revertido num clima de mistério”, afirmou.
Ele citou “várias incógnitas” ligadas à queda do jato e explicou que todas as possibilidades continuam sendo investigadas. O desafio será levantar, por meio dos destroços recolhidos no local, até que ponto as condições meteorológicas atrapalharam a manobra após o avião arremeter.
Sobre a falta das gravações de cabine na caixa-preta do avião, o brigadeiro informou que não é possível saber os motivos de o aparelho não ter registrado os diálogos durante o voo. “Pode ter sido ausência de manutenção ou uma falha técnica, como falta de alimentação elétrica”, disse o brigadeiro. No entanto, ele considerou improvável que essa desconexão do equipamento tenha se estendido aos demais sistemas da aeronave e ajude a explicar o acidente.
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