Denise Rothenburg
Enviados especiais
Recife – Com o povo consternado nas ruas, Pernambuco enterrou ontem o seu maior líder. Mais do que isso. Em dia histórico, que parecia não acabar, os pernambucanos viram nascer um novo mito. Eduardo Henrique Accioly Campos, de 49 anos, pai de cinco filhos e dono de um estilo admirado até por adversários, recebeu a maior e mais intensa homenagem que o estado já viu. Mais de 150 mil pessoas foram às ruas. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi quem melhor resumiu o tamanho da dor. “Só vi algo assim na morte de Getúlio (Vargas) e de Tancredo Neves.”
De madrugada, uma multidão esperou acordada nas esquinas a passagem do carro do Corpo de Bombeiros que conduzia o caixão até o Palácio do Campo das Princesas. Ao choro, misturou-se o grito de “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro”, repetido exaustivamente até as 18h37, quando o caixão de Campos desceu à sepultura, ao lado do jazigo do avô, Miguel Arraes de Alencar.
A reverência virou ato político.
A presidente Dilma Rousseff, junto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou ao velório às 10h. Ela recebeu vaias. A maior estrela petista, que conseguiu preservar a relação pessoal com Eduardo Campos mesmo em campos opostos, segurou Miguel, filho mais novo do pessebista, nos braços. Confortou a viúva de Campos e os filhos. Comentou reservadamente com amigos que estava arrasado por a tragédia ocorrer justamente no momento em que as circunstâncias políticas não permitiam que os dois estivessem próximos.
Após a missa, celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, os dois foram embora.
Renata Campos permaneceu durante quase todo tempo ao lado do caixão. Uma foto de Eduardo Campos sorrindo era contemplada por ela em alguns momentos. Os filhos se abraçavam e repetiam os gritos ecoados pela multidão. Pareciam fortes. Aécio Neves, que trocou cumprimentos com Lula e Dilma, ressaltou a solidez da família Campos. “É impressionante. Não me peçam para falar de política. Quando liguei para Renata, no dia do acidente, ele me disse que Eduardo era alegria e força”, informou.
Pouco antes das 18h, o cortejo chegou ao cemitério. Lentamente, como se o povo empurrasse o caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão foi levado no percurso de dois quilômetros entre o Palácio do Campo das Princesas e o Cemitério Santo Amaro.
Lá, o caixão foi colocado num carro menor. O filho José, de 11 anos, com chapéu de vaqueiro, sentado na frente, apontava a direção para o motorista. Flores e lenços foram atirados, assim como o tradicional chapéu de palha usado pelo avô de Campos e ex-governador do estado, Miguel Arraes. Após uma queima de fogos que durou 18 minutos, Eduardo Campos foi sepultado, ao lado do túmulo do avô. A sepultura é simples, sem luxo, rodeada apenas de flores e placa de mármore com a identificação do líder.