Jornal Estado de Minas

Eleitores em Minas assistem ao programa eleitoral de outro estado

Leonardo Augusto
Na sua casa, ao lado da cidade adminsitrativa, Juliana Cordeiro assistiu ao programa eleitoral de Pernambuco - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

O bibliotecário Fernando de Castro Machado assiste pela televisão ao programa eleitoral de São Paulo. A estudante de psicologia Juliana Márcia Cordeiro de Britto também acompanha pedidos de votos na sala de casa, mas de candidatos em Pernambuco. À primeira vista, parecem dois eleitores escolhendo o seu candidato a deputado estadual, federal, senador, governador e Presidente da República em 5 de outubro. Ambos, no entanto, moram e têm título registrado no Bairro São Benedito, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a menos de 500 metros da Cidade Administrativa, a sede do governo de Minas Gerais.



O sinal de televisão que chega às duas casas é captado por antenas parabólicas. Em vários canais, a emissão é feita a partir de geradores em outros estados, fazendo com que eleitores possam acompanhar o programa de candidatos que disputam cargos fora de Minas Gerais. No caso da disputa para o Palácio do Planalto, existe um atenuante, desde que os candidatos não façam propagandas regionalizadas. Mas na eleição para deputado estadual, federal, senador e governador, dependendo do canal que for sintonizado, o eleitor pode até se confundir.

A reprodução de propaganda política “forasteira” foi motivo de ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2008, em uma consulta feita pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) com protocolo número 18.905/2008.

O processo recebeu o número 2.860. Segundo o ministro relator à época, Marcelo Ribeiro, o sinal deveria ser bloqueado durante o horário eleitoral.
A associação, então, alegou que a operação demandaria investimento elevado e propôs que a suspensão do envio do sinal ocorresse na propaganda para as eleições de outubro de 2010, o que não foi feito. Prova é que eleitores também vizinhos à Cidade Administrativa assistiam na época ao programa eleitoral de outros estados. A diferença na comparação com o que ocorre hoje é que o sistema mais avançado, com antenas mais modernas, permite acesso a número mais elevado de canais, possibilitando aos telespectadores escapar dos programas eleitorais de fora de Minas.

O bibliotecário Fernando, de 58 anos, diz ter por hábito acompanhar em todas as campanhas os horários eleitorais. Ontem, viu o de São Paulo. “É a forma que as pessoas têm de definir seu voto”, avalia. “Se você vê as propostas de candidatos de outros estados, isso não contribui para a democracia”, acrescenta. O morador do São Benedito diz já ter escolhido a maioria dos candidatos, menos o de deputado federal.

Vizinha de Fernando, Juliana, de 19 anos, viu ontem o programa eleitoral de candidatos de Pernambuco. “Para definição do meu voto, essa propaganda não adianta nada”, afirma. A estudante, porém, consegue ver um lado bom na propaganda de candidatos de fora de Minas. “A gente consegue informações sobre o que está sendo feito em outros estados”, diz. A tia de Juliana, a dona de casa Sandra Correia Nepomuceno de Brito, de 49 anos, afirma ter outras formas de busca para escolher o candidato. “Vejo pelos jornais as ideias dos candidatos.”

Segundo dados da Abert, atualmente, 22 milhões de brasileiros utilizam antenas parabólicas em todo o país. As famílias no Brasil, na média, têm quatro pessoas, das quais, no mínimo duas são eleitoras.
Em Minas Gerais, segundo pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), aproximadamente 30% das residências do estado têm uma antena parabólica..