Brasília – A crise na campanha presidencial de Marina Silva cresce na mesma proporção das justificativas dadas por dirigentes do PSB e da Rede de que tudo está dentro da normalidade. O coordenador-geral da campanha, Carlos Siqueira, personagem central na história do PSB, entregou ontem o cargo, disse para Marina “mandar na Rede dela” e acrescentou que ela está muito longe de representar o legado de Eduardo Campos. “Eu sei o que ele sofreu para manter essa coalizão.” Na noite de ontem, o partido anunciou que a ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) vai assumir no lugar de Siqueira. Segundo a assessoria do PSB, ela vai atuar em conjunto com o deputado licenciado Walter Feldmann. Antes cotado para substituir Siqueira, ele agora será coordenador-adjunto da campanha.
A debandada não parou com a saída de Carlos Siqueira: Milton Coelho, do comitê de mobilização, também deixará a campanha. Responsável pela arrecadação, Henrique Costa pensa em retornar à suas atividades profissionais. E o marqueteiro Diego Brandy só permaneceu após receber o aval de pessoas próximas a Campos.
O sentimento de Siqueira permeia parte dos integrantes do PSB, embora a cúpula do partido tente reverter a crise. Carlos é um nome histórico dos socialistas, foi secretário de governo de Miguel Arraes, conhecia Eduardo desde pequeno.
A falta de habilidade da nova candidata também atrapalhou e antecipou a saída dos coordenadores. Na quinta-feira da semana passada, um dia depois do acidente que matou Eduardo Campos, Marina já dizia, internamente, que a coordenação de campanha apresentava falhas e que era preciso encontrar caminhos para subir nas pesquisas de intenção de voto. A tensão foi crescendo até explodir no encontro realizando na tarde de quarta-feira, na Fundação João Mangabeira, quando Marina anunciou que Walter Feldmann, porta-voz da Rede, seria promovido à coordenação-geral. “Você fica onde o PSB quiser que você esteja”, disse Marina a Siqueira, provocando a ruptura.
Aliado de Marina, Feldmann negou qualquer possibilidade de distanciamento entre PSB e Rede. “O desabafo de Siqueira tem um cunho pessoal, não político. Para ele, foi particularmente dura a perda do Eduardo e nós entendemos. Será escolhido alguém para o seu lugar e continuaremos a campanha normalmente”, ponderou Feldmann. Antes da escolha de Erundina, o candidato a vice na chapa, Beto Albuquerque, afirmou que assumiria interinamente a função ao lado de Feldmann.
Integrantes do PSB temem as novas dissensões, e defendem que a ala pernambucana da legenda atue nesse momento para evitar uma nova debandada. Emissários de Renata Campos e Ana Arraes seriam enviados ontem para Brasília para tentar demover Siqueira da saída. Desistiram ao descobrir que o ex-coordenador geral da campanha havia voado para São Paulo junto com o presidente do PSB, Roberto Amaral.
Nanicos A viagem não tem um tom de reconciliação, contudo. Siqueira foi a São Paulo arrumar as coisas e fechar o flat que havia alugado para fazer a campanha. Ao lado de outros correligionários, ele tem a certeza de que Marina, a quem tratou ontem de “hospedeira”, abandonará o PSB assim que a Rede for criada. As suspeitas se reforçaram durante encontro da presidenciável ontem com presidentes dos partidos aliados. Marina lembrou que é contra a reeleição e anunciou que, caso seja eleita para o Palácio do Planalto, cumprirá apenas quatro anos de mandato.
A titular da chapa tentou minimizar os atritos. “É lógico que estamos diante de uma situação que tem um mal-entendido e que o próprio PSB deve esclarecer”, esquivou-se.
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