Jornal Estado de Minas

Com renuncia, Kalil desfalca time do PSB

Considerado o principal puxador de votos do partido na disputa pela Câmara, presidente do Atlético desiste de concorrer, alega questões pessoais e volta a expor crise da legenda

Juliana Cipriani
Alegando questões pessoais, o presidente do Atlético, Alexandre Kalil, renunciou ontem à candidatura a deputado federal pelo PSB de Minas Gerais.
Principal puxador de votos da chapa em disputa para a Câmara dos Deputados, o empresário abandona o barco a 45 dias da eleição e expõe mais uma vez a crise entre os socialistas mineiros. Com a baixa, integrantes do partido estimam a redução da bancada que pretendiam eleger, já que a expectativa do próprio candidato era levar de 400 mil a 500 mil votos para a legenda.

Kalil negou que sua decisão tenha qualquer ligação com a mudança do PSB no plano nacional, que teve a candidatura do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo, substituída pela da ex-senadora Marina Silva. O empresário disse considerar a presidenciável um nome “bacana” e que “transmite honestidade”. O agora ex-candidato disse ter conversado com seus filhos e apurado que eles não se orgulhariam de ter um pai político. Além disso, ressaltou que o cargo não lhe daria a caneta na mão para fazer nada. “Resolvi que, como eu não rebaixei o Atlético naquele fatídico 2011, não vou me rebaixar a deputado também. Isso me dá um alívio muito grande, porque eu não nasci para ser político”, afirmou.

Nos bastidores, houve especulações de que a saída de Alexandre Kalil do cenário teria sido para evitar que o empresário ajudasse na candidatura de Marina Silva e, assim, complicasse a votação do senador Aécio Neves (PSDB) em Minas.
Kalil era dissidente do partido e chegou a participar de atos de campanha do candidato tucano ao governo, Pimenta da Veiga, mas seu número de urna era do PSB. “De jeito nenhum, não teve nada com Marina, com Aécio. O único político a quem liguei para dar satisfação, porque é meu amigo, foi o professor Anastasia.”

Kalil não ligou para comunicar a decisão a ninguém do partido pois, disse, está “se lixando” para ele. Apenas agradeceu ao prefeito Marcio Lacerda e disse estar abalado com a morte de Eduardo Campos, que, segundo ele, era o único que importava para ele no PSB. “Nada neste partido me interessa. O que me interessava caiu de avião. Eu nem piso no partido. Estou me lixando para esse partido”, afirmou.

No dia em que a legenda decidiu lançar a candidatura de Tarcísio Delgado ao governo, no fim de junho, Kalil disse que não concorreria a cargo nenhum. Uma semana depois, lançou-se de novo candidato, dizendo ser a pedido de Marcio Lacerda. Em seguida, registrou a requisição da candidatura no Tribunal Regional Eleitoral.

Considerando-se um cabo eleitoral de peso, Kalil disse que vai escolher alguém para “representar o Atlético” na campanha e anunciar o nome depois. Ele condenou o fato de partidos como PT, PSDB e PSB não terem feito nada para desbloquear recursos do time de futebol. “Vamos escolher um representante este ano e, na hora que escolher, vou falar quem é”, afirmou.

Hoje com apenas dois deputados federais, o PSB contava com os prováveis votos de Kalil para fazer uma bancada de quatro cadeiras.
Para o vereador Daniel Nepomuceno, integrante da executiva do PSB mineiro, duas vagas serão perdidas. A morte de Eduardo Campos, para ele, abala ainda mais o PSB. “Vemos uma total desorganização do partido em Minas, falta identidade e coerência”, afirmou. Crítico da atuação do dirigente do PSB mineiro, deputado Júlio Delgado, o vereador diz que Alexandre Kalil havia ingressado no partido para concorrer ao governo ou ao Senado, mas o presidente mudou a situação. “O partido foi o que mais perdeu. Como o Júlio (Delgado, presidente do PSB) só pensa em aparecer sozinho, ele que agora vá atrás dos votos”, afirmou o parlamentar.

O presidente do partido em Minas, deputado federal Júlio Delgado, minimizou o prejuízo e disse que o partido tem outros puxadores de voto, sem especificar quais são. Ele disse não falar com Kalil desde o dia da convenção do PSB e afirmou que a saída dele em nada prejudica a campanha de Marina Silva. “O Kalil filiou-se, não ia ser candidato, depois chamou a imprensa para falar que era, e agora não é de novo. Não há crise nenhuma, nossa única crise é financeira, de arrecadação.
O Kalil não dá voto nenhum para Marina, votos de deputado não contam para presidente”, afirmou. O candidato do PSB ao governo, o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado, lamentou a perda para a chapa. “A expectativa era que ele fosse líder de votação, lamento que tenha desistido”, disse..