Veio de Xapuri, cidade com cerca de 17 mil habitantes no Acre – estado onde nasceu Marina Silva –, a contestação da declaração dada pela candidata do PSB, no primeiro debate entre os presidenciáveis, de que o líder seringueiro Chico Mendes fazia parte da elite, ao lado do empresário Guilherme Leal, dono da empresa de cosméticos Natura, e Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú e responsável pela coordenação do programa de governo da socialista.
“O companheiro Chico foi um sindicalista e não ambientalista, isso o coloca num ponto específico da luta de classes que compreendia a união dos povos tradicionais (extrativistas, indígenas, ribeirinhos) contra a expansão pecuária e madeireira e a consequente devastação da Floresta. Essa visão distorcida do Chico Mendes ambientalista foi levada para o Brasil e a outros países como forma de desqualificar e descaracterizar a classe trabalhadora do campo e fortalecer a temática capitalista ambiental que surgia”, diz a nota assinada pelo presidente do sindicato, José Alves, e seu assessor jurídico, Waldemir Soares. O texto diz ainda que os trabalhadores rurais de Xapuri não concordam com a atual política ambiental em curso no Brasil, idealizada, segundo a entidade, pela candidata Marina Silva quando era ministra do Meio Ambiente e classificada na nota como “refém de um modelo santuarista e de grandes Ong’s internacionais”.
“Essa política prejudica a manutenção da cultura tradicional de manejo da floresta e a subsistência, e favorece empresários que, devido ao alto grau de burocratização, conseguem legalmente devastar, enquanto os habitantes das florestas cometem crimes ambientais”, afirma a nota, que critica também todos os candidatos que participaram do debate e os classifica como “claramente vinculados com o agronegócio” e pouco preocupados com a reforma agrária e os conflitos fundiários.
A vice-presidente do sindicato, Dercy Cunha, de 60 anos, que está no Rio de Janeiro há um mês para tratamento de saúde, disse que a política ambiental em curso no Brasil, que teria como mentora a candidata, é muito mais preocupada com o meio ambiente do que com as pessoas que nele estão.
No debate, ao ser questionada pelo candidato Levy Fidelix (PRTB) se governará a favor do agronegócio, por manter relações próximas com Guilherme Leal e Neca Setúbal, Marina disse não ter preconceito contra a condição social de nenhuma pessoa. “Quero combater essa visão de apartar o Brasil, de que temos que combater as elites. O Guilherme faz parte da elite, mas os ianomâmis também. A Neca é parte da elite, mas o Chico Mendes também é parte da elite”.
Líder seringueiro