Jornal Estado de Minas

PT compara Marina a Collor e Jânio Quadros

Caciques do partido fazem ataque em massa à candidata, que reage e bate em Dilma

Juliana Cipriani
Marina Silva rebateu as críticas petistas lembrando que a presidente Dilma não havia sido eleita para nenhum cargo antes de concorrer ao Palácio do Planalto - Foto: Macho Doce/Reuters

Com trajetória ascendente nas pesquisas de intenção de voto, a ex-senadora Marina Silva (PSB) se tornou definitivamente a maior vidraça da campanha eleitoral neste último mês antes do pleito. Um dia depois de se tornar alvo preferencial no debate entre os presidenciáveis promovido pelo SBT/TV Alterosa, ela foi comparada ontem aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, acusada de praticar a “velha política” que tanto condena e de adotar o “obscurantismo” em suas propostas. Em um movimento que parece orquestrado, as principais lideranças políticas do PT pregaram ontem o voto contra Marina. A candidata revidou.

Padrinho eleitoral da presidente Dilma Rousseff e “ex-patrão” de Marina, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem que o Brasil não pode enfrentar um “retrocesso”, sem citar nominalmente a candidata do PSB, que foi ministra do Meio Ambiente em seu governo. Lula participou de carreata com Dilma em São Bernardo do Campo (SP), seu berço político, onde a presidente disse estar “muito preocupada” com o programa de governo de Marina. “Ela reduz a pó a política industrial”, afirmou.

A crítica mais pesada, porém, veio na propaganda eleitoral da petista. Nela, a equipe de Dilma usou um infográfico para mostrar qual seria a base de apoio político de Marina, se ela fosse eleita hoje.
O programa mostrou que o PSB tem hoje 33 deputados e informou que, para aprovar “um simples projeto de lei”, ela precisaria de 129 votos. Já para uma emenda constitucional, são necessários 308 congressistas. “Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?”, questionam os apresentadores.

O raciocínio caminha para a eleição de Jânio Quadros (Janeiro a agosto de 1961) e a de Fernando Collor (1990-1992), que não concluíram os mandatos. O apresentador diz que por duas vezes o Brasil elegeu “salvadores da pátria”, do partido do “eu sozinho”, e mostra manchetes da renúncia de Quadros e do impeachment de Collor. “A gente sabe como isso terminou”, conclui o programa.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega (PT), também criticou o programa da candidata do PSB. Segundo ele, um choque do superávit primário “pode ser temerário e paralisar a atividade econômica”. Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), usou a tribuna para acusar Marina de se unir a velhas raposas e ficar em cima do muro.

Artificial

Marina Silva, que faltou à sessão de homenagem ao ex-governador Eduardo Campos na tarde de ontem na Câmara dos Deputados para participar de sabatina no jornal O Estado de S. Paulo, rebateu a crítica de Dilma, dizendo que a sociedade conhece sua história em cargos eletivos e os valores que há mais de 30 anos defende. “Comecei como vereadora, como deputada, senadora por 16 anos e ministra do Meio Ambiente. Imagine se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita nem vereadora ia ser eleita presidente do Brasil, aí sim, poderia parecer Collor de Mello”, afirmou, sob aplausos, em uma crítica indireta a Dilma, que não havia sido eleita para qualquer cargo até 2010. Hoje senador pelo PTB, Collor (AL) apoia a reeleição de Dilma.

A candidata rebateu também declarações recentes de Dilma de que seria antidemocrático governar com as melhores pessoas.
“Acho que ser antidemocrático é imaginar que se vai governar apenas para os partidos, como está sendo feito hoje”, afirmou. Ela voltou a dizer que, se eleita, governará com os bons e citou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “Conversar com Fernando Henrique, conversar com Lula é com certeza muito melhor do que conversar com Antônio Carlos Magalhães, com (José) Sarney, com (Paulo) Maluf, com Renan Calheiros”, disse.

A candidata condenou ainda os preços administrados pelo governo Dilma para controlar a inflação. “Isso tem um custo muito alto para todos os brasileiros. Espero que a presidente Dilma assuma as responsabilidades que tem. Ela tem que fazer a correção dos erros que cometeu administrando os preços para controlar a inflação de forma artificial”, afirmou. (Com agências)..